Lava Jato demole o mito do financiamento privado de campanhas eleitorais
Por Luis Nassif
A tentativa do presidente do Senado Renan Calheiros de abrir uma CPI contra o Ministério Público - em função da Lava Jato - é importante para baixar a poeira, permitir uma análise mais estrutural do episódio e escolher lado. E certamente não será o lado de Renan.
Sempre haverá ressalvas aos critérios adotados pelo Procurador Geral da República Rodrigo Janot para abrir os inquéritos - aqui mesmo critiquei os dois pesos adotados no inquérito dos senadores Lindberg Faria e de Aécio Neves. E haverá críticas aos vazamentos e à manipulação das notícias pelos grupos de mídia, comprovando que, para eles, denúncias são apenas instrumentos de luta política, não de melhoria institucional. Permanece o uso político execrável e seletivo de informações, visando a desestabilização política. Continuarão sendo criticados os abusos das prisões preventivas e dos métodos coercitivos para se obter delações.
Com todos esses senões, a Lava Jato entra para a história como o mais importante capítulo na luta contra os vícios do modelo político brasileiro, uma porta que se escancara para a reforma política e dos usos e costumes.
Além de ferir de morte a mais deletéria influência sobre a classe política - da atual geração de empreiteiras de obras públicas - expõe de vez os vícios do financiamento privado de campanhas eleitorais.
Fica desmascarado o enorme engodo propagado pelo Ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal), de que o fim do financiamento privado estimularia as doações via caixa 2. Por sua experiência como Ministro e empresário, Gilmar sabe como se dá esse jogo: o financiamento oficial é uma extensão do caixa 2.
A maior prova é a dificuldade da Lava Jato em separar os financiamentos legítimos dos ilegítimos. Nada impede que haja um acerto e o financiamento se dê através da contabilidade oficial.
O erro em incriminar Lindberg está no fato de que o crime ainda não tinha sido cometido. Os procuradores assumiram a atitude draconiana de tratar como ilícitos todos os financiamentos, colocando no mesmo caldeirão crimes cometidos com presunção de crimes a cometer.
No fundo, tudo faz parte da mesma engrenagem. A troco de quê uma empreiteira bancaria candidaturas a governos de estado, ao Senado, à Câmara, à própria Presidência, se não tivesse por contrapartida ou favores recebidos ou promessas firmes de favores a receber(?). Ou, no mínimo, de não ser atrapalhada em suas pretensões(?). E sua entrada desequilibra de tal forma as eleições que obriga todos os candidatos a recorrer ao seu financiamento.
Ao incluir todos os financiamentos na lista da suspeição, a Lava Jato demole de vez o mito do financiamento privado. Ao tornar públicos todos os inquéritos, reduz o jogo de manipulações. Ao se dispor a responder publicamente às críticas e indagações - através de um hotsite - o Ministério Público se expõe de forma democrática, ao contrário da blindagem da AP 470, que deixou dezenas de suspeições pairando no ar. Ao abrir um canal de explicações, o MP se despe de um poder imperial de não prestar contas.
Com a relatoria caindo nas mãos firmes e criteriosas de Teori Zavascki haverá antídotos contra abusos e se poderá aprofundar - com critérios - as investigações. (Fonte: aqui).
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