quarta-feira, 25 de março de 2015

A CORRUPÇÃO E O TWITTER CAMPEÃO DE ONTEM: PODEMOS TIRAR, SE ACHAR MELHOR


Em inglês, Reuters 'acha melhor tirar' referência a corrupção sob FHC

Por Daniel Buarque

Um lapso da agência internacional de notícias Reuters se tornou o tema mais comentado no Twitter brasileiro nesta terça-feira. A primeira versão em português da entrevista com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, publicada na véspera pela agência, incluía uma frase que deveria ser vista apenas pelo editor responsável pela publicação no Brasil: “Podemos tirar, se achar melhor”.
O comentário estava ao lado de um parágrafo que fazia menção ao fato de um dos delatores do esquema de corrupção na Petrobras ter dito que o desvio de dinheiro havia começado antes de o PT chegar ao poder, ainda no governo FHC, em 1997.

O curioso, entretanto, é que o parágrafo falando sobre a denúncia de Pedro Barusco não faz parte da reportagem publicada em inglês no resto do mundo, como pode ser visto no recorte das duas versões do mesmo texto publicadas no site da própria agência, em inglês e em português, da forma como apareciam na noite de terça.

A Reuters no Brasil acabou achando melhor manter o parágrafo, e pediu desculpas por qualquer confusão, mas o caso ganhou notoriedade por ser visto como uma suposta blindagem da mídia ao PSDB. E assim #PodemosTirarSeAcharMelhor se tornou o tema mais tuitado do dia.

Antes de acusar a agência Reuters de promover interesses políticos no Brasil, é bom ressaltar que todo repórter já deixou recados para o editor dentro de textos assim, que erros acontecem, que a Reuters é uma agência respeitada e que não dá para saber exatamente se o caso foi apenas um lapso, ou um ato falho que expõe algum perfil tendencioso (houve gente até querendo responsabilizar veículos que republicaram de forma automática o texto pelo erro que foi exclusivamente da agência). Em nota, a Reuters disse que a pergunta que vazou havia sido feita por um dos editores do Serviço Brasileiro ao jornalista que escreveu a versão original da matéria em inglês.

O fato de a versão em inglês não ter o parágrafo controverso (nem nenhum comentário dizendo que a reportagem foi editada após a publicação), assim como a explicação dada pela agência, pode levar a pensar que o texto original não tinha a referência, incluída pela redação brasileira. Ou ainda, pode-se pensar que que duas versões foram deixadas prontas pela reportagem, uma para o Brasil e outra para o resto do mundo. É difícil saber o que aconteceu e qual a motivação do editor da nota em inglês e em português, mas sem dúvida dá mais munição para quem vê proteção à imagem da oposição. (Fonte: aqui).

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Texto impagável. O articulista percebeu que tinha de abordar o tema, intimamente ligado à sua especialidade (veja o box "Sobre o blog", na lateral do artigo). O articulista está convencido de que o "lapso" da Reuters simplesmente confirma a blindagem oferecida pela mídia ao PSDB, mas, aí é que mora o perigo: não pode dizer isso na lata! Habilmente, arruma daqui, ajeita dali, se contorce dacolá, e no instante final, trata de não ficar sozinho na ribalta: apela para o bloco que "vê proteção à imagem da oposição" (note bem: oposição - não seria de bom tom citar "PSDB"...).

Conclusão: Buarque saiu-se bem - a exemplo do governo FHC na Lava Jato.

Quanto à Reuters, precisa aprender a ser mais... cuidadosa - diriam suas coirmãs.


Aqui, no Jornal GGN: "Nota da Reuters abafando menção ao Governo FHC na Lava Jato vira piada na rede").

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