terça-feira, 24 de março de 2015

SOBRE A MP DO FUTEBOL BRASILEIRO


A firmeza da presidenta

Por Juca Kfouri

Em primeiro lugar, para acalmar os furiosos, explico que acho presidente mais elegante que presidenta, mas que o tratamento no feminino está registrado em todos os dicionários ainda antes de Dilma Rousseff nascer, razão pela qual, aqui, o termo foi usado pela primeira vez quando Patrícia Amorim foi eleita no Flamengo. Não significa, portanto, nenhum alinhamento automático a quem quer que seja, a não ser ao atendimento da legítima preferência de quem foi democraticamente eleita e reeleita. Dito isso, vamos ao que importa.

A presidenta cujo governo tem levado justas bordoadas de todos os lados, à esquerda e à direita, agiu de maneira impecável em relação à medida provisória do esporte.

Se há uma falha na MP está em não ter obrigado os clubes que aderirem a se transformar em sociedades empresariais.

De resto, não há nenhuma intervenção indevida do Estado no esporte, apenas há os cuidados obrigatórios do credor a quem lhe deve, há décadas, quase R$ 4 bilhões.

Quer pagar no generoso prazo de 20 anos com uma série de incentivos para saldar a dívida? Pois que se sujeite às condições do credor. O resto é choro de mau pagador.

Estive com a presidenta na terça seguinte ao primeiro panelaço, ato odiento de quem não quer ouvir.
Suspeitei que o encontro agendado na semana anterior nem aconteceria, porque na manhã daquele dia Dilma Rousseff fora hostilizada em São Paulo.

Mas não só o encontro foi mantido como estendeu-se por mais tempo do que o previsto, curiosamente por exatos 90 minutos.

Em seu gabinete no Palácio do Planalto, estavam também o ministro Thomas Traumann e o ex-deputado Edinho Silva, competente articulador da MP.

Ela queria ouvir alguém, como este que vos escreve, sem nenhum interesse específico na medida, a não ser aquilo que considera melhor para o país.

Surpreendi-me com sua serenidade e firmeza num dia tão turbulento. Ela disse e repetiu, ao anotar diversas ponderações, que seu compromisso com o Bom Senso F.C. seria mantido e que resolveria as naturais resistências do Ministério da Fazenda.

Já escrevi aqui e repito que o artigo 217 da Constituição, que trata da autonomia das entidades esportivas, analisado pelo STF, foi objeto de uma decisão unânime da mais alta corte do Brasil, seguindo o relatório do então ministro Cezar Peluso, no sentido de que autonomia não significa soberania, argumento dos que defendem a terra de ninguém em que se transformou nosso futebol.

Saí otimista do encontro, convencido de que o governo estava prestes a fazer um golaço. A última quinta confirmou a sensação.

O que não significa a resolução de todos os problemas nem que se deva baixar a guarda, ao contrário, porque será dura a batalha no Congresso Nacional para evitar que o texto seja estuprado como foram a Lei Pelé e, em certa medida, o Estatuto do Torcedor.

Por enquanto, está 7 a 2. Ou a 6? (Fonte: aqui - reproduzido da Folha).

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