sexta-feira, 30 de outubro de 2020

O DIA EM QUE MARADONA FALOU COM ORGULHO PARA UMA REVISTA DE FAVELADOS DA ARGENTINA

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Depois de Pelé (Aqui), abramos alas para Maradona (60 anos!) e Messi, monstros sagrados que dispensam comentários.
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Sou e serei favelado toda a minha vida”  -  (Diego Armando Maradona). 

                      (Maradona - La Garganta Poderosa - 2011)

Do Diário do Centro do Mundo

A história é contada pelo jornalista Gustavo Mehl em uma thread publicada no Twitter.

O repórter que foi entrevistar Maradona era um jovem que morava na rua. Começou a chorar, lhe deu um abraço, esqueceu todas as perguntas.

Se recompôs e perguntou: “Diego, por que você abre as portas da tua casa pra nós, que somos um bando de favelados?”. “Por isso mesmo”, respondeu.

Foi em 2011. Pouco depois saiu a edição da La Garganta Poderosa. “Sou e serei favelado toda a minha vida”, dizia Maradona, com foto na capa. Era mais que uma revista, era a publicação de “cultura villera” do maior movimento de favelas da Argentina.

A história foi lembrada esse ano por Nacho Levy, um dos líderes da Garganta Poderosa.

“Aquele dia voltamos chorando, foi uma festa no bairro”. Nacho contou também que logo depois surgiu a possibilidade de ter Messi na capa.

Levaram a questão para assembleia na favela. E alguém:

– O que tem a ver Messi na nossa capa? Se criou na Europa, não veste a camisa, nem sabe o hino…

Outro ironizou: – Não sabia que você conhecia o Messi!

– Não conheço, mas vejo TV.

– E o que a TV diz sobre você? Silêncio.

Decidiram que iam dar uma chance, “é um ser humano afinal”.

“E que ser humano!”, diz Nacho. “Mariano Ferreyra tinha sido assasinado e a mídia não dava visibilidade à morte de um líder social. Messi posou com uma camisa da Argentina com o nome dele. Saiu em todos os jornais.”

                (Messi homenageia Mariano Ferreyra)

Disse Messi naquela edição de 2011: “Falam muita coisa, não ligo. Sei o que sinto e de onde sou. Vejo no exterior camisas da Argentina com meu nome e é o máximo. Me emociona ver bandeiras do Che, do Diego, da Argentina, em qualquer lugar do mundo. Me dá uma sensação linda”.

Ah, sim. Nessa mesma edição Messi posou ainda com uma camisa com o nome de Jorge Jullio Lopez, militante peronista sobrevivente da tortura na ditadura, desaparecido em 2006 um dia antes de depor como testemunha num processo que meteu um assassino torturador em cana.


Há duas semanas, Messi voltou à capa da Garganta, edição 100. Falou de educação, de acesso a serviços fundamentais e das merendeiras nos refeitórios populares(!). E disse: “A desigualdade é um dos grandes problemas da nossa sociedade, temos que lutar pra corrigir o quanto antes.”

Deve ter um milhão de motivos pra que quase todos os nossos jogadores de futebol, quase todos nascidos na favela, façam arminha com a mão. Eu não sei se saberia dizer bem quais são, mas acho que desse milhão daria pra fazer mil teses.

O que sei é que Maradona, o aniversariante do dia, cria da Villa Fiorito, ser humano de carne e osso, craque, ídolo, referência, mito, lenda… Maradona é exemplo. Até em seus erros. Um exemplo que os moralistas – presos ao olhar de juiz, típico do canalha – nunca vão entender.  -  (Aqui).

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