Na mesa o economista Jose Roberto Mendonça de Barros, um lorde refinado da consultoria econômica, contrastando com a grossura, antipatia e obtusidade de seu irmão Luis Carlos, depois Marcos Lisboa, neoliberal moldado por décadas de repetição dos mesmos bordões e Nelson Marconi, um economista sensato, coisa rara nos dias de hoje, não adestrado pela escolha neoliberal exclusiva, um raro “economista de circunstâncias”, aquele que combina escolas, experiências, ferramentas, sem dogmas fixos, na linha de um Keynes, de um Schacht, um Delfim, um Galbraith, um Hirschman, economistas que não carregaram receitas prontas no bolso, “para diferentes doenças, sempre o mesmo remédio”, na feliz expressão de Hirschman (em “AutoSubversão”, suas memórias em português, com prefácio de FHC).
Marconi destoava na mesa, mas o debate foi elegante e civilizado. A maior cota de bobagens ficou com Lisboa, como era de se esperar, Mendonça de Barros foi de um realismo frio, as chances de crescimento são pífias. No comando da mesa a excelente Natuza Nery, uma das raras jornalistas do sistema Globo que tem visão social e política sofisticada mesmo contida pela linha da Casa.
Os neoliberais obviamente elogiaram o pacote Guedes, mas Mendonça foi realista em dizer que nada daquilo trará crescimento e estabeleceu três variáveis, subdivididas em outras tantas, que deveriam ocorrer para que ALGUM crescimento ocorresse em 2021, no ano que vem nem pensar. Então, segundo Mendonça, sem que todas as variáveis positivas que ele colocou como premissas ocorram, ele não vê como o País vai crescer.
O ESTALEIRO DO LISBOA – Um caso exemplar de como pensa um neoliberal de escola, Lisboa preside o INSPER, foi a questão do Brasil ter tido a pretensão de ter estaleiros, como se isso fosse uma aberração de doidos. O Brasil tem um dos maiores litorais do planeta, tem estaleiros há mais de 100 anos exatamente porque precisa de navios, o Estaleiro Mauá (Cia.Comercio e Navegação) tem mais de 110 anos, por que o Brasil não deve ter estaleiros?
Segundo Lisboa, “por uma questão de produtividade”, o Brasil não tem escala para construir navios, embora já tenha construído muitos. PRODUTIVIDADE é um conceito da microeconomia, da empresa. Um País tem outros ângulos de interesses, além da produtividade. O Japão, na Segunda Guerra, passou fome porque, até então, seu arroz era importado e, na etapa final do conflito, não conseguia mais trazer arroz das Filipinas, Indochina (hoje Vietnam) e Indonésia. Depois da guerra o Japão tomou a decisão de ser autossuficiente em arroz, A QUALQUER CUSTO. Hoje o Japão produz todo arroz que consome, como a terra é pobre o arroz japonês custa SEIS vezes mais caro que o importado, MAS É UMA POLÍTICA DE AUTOSSUFICIÊNCIA ALIMENTAR, não interessa o custo.
Outro caso, os queridos Estados Unidos dos neoliberais produzem ETANOL DE MILHO que só é viável com altíssimos subsídios do Governo americano, em nome do que? DE AUTOSSUFICIÊNCIA ENERGÉTICA, o mesmo ocorre com o combustível de “fracking”, o shale oil ou xisto betuminoso, só viável com apoio político e financeiro do Departamento de Energia. Também os EUA têm ESTALEIROS, e grandes, como o Bath Ironworks no Maine, embora seja muito mais barato comprar navios na Ásia. SÃO CONSIDERAÇÕES DE INTERESSE NACIONAL, muito além de comprar mais barato.
Todos os grandes países têm POLÍTICAS DE ESTADO que preservam setores estratégicos por questões que vão além da economia. Na visão pequenina de Lisboa, o Brasil não deve ter estaleiros PORQUE É MAIS BARATO COMPRAR NAVIOS NA CHINA, mas o navio feito no Brasil emprega mão de obra brasileira, aço brasileiro, maquinaria brasileira, paga impostos e previdência AQUI, gera renda e consumo nas cidades onde se localiza o estaleiro. O Estaleiro Desenvix, na cidade do Rio Grande, com encomendas de sondas da PETROBRAS, chegou a empregar 21.000 operários, hoje está paralisado.
A vantagem de produzir no País é tão evidente que é preciso ser muito medíocre para achar que na China é 15% mais barato, então vamos comprar lá, é uma limitação mental chocante.
Mas Lisboa foi além. Disse que o Brasil deveria “abrir a importação de máquinas e equipamentos”, o que, traduzindo em neoliberalês, significa ABOLIR TARIFAS DE IMPORTAÇÃO porque assim nossas empresas comprariam máquinas mais baratas e modernas no exterior. E FAZ O QUE COM A INDÚSTRIA BRASILEIRA DE BENS DE CAPITAL? Fecha? O Brasil tem uma grande indústria de máquinas e equipamentos, um ciclo que começou na década de 50, o Brasil EXPORTA TORNOS, MOTORES, HIDROGERADORES, MAQUINAS DE CENTENAS DE TIPOS, fecha tudo e compra fora?
É a alma do Prof. Eugenio Gudin que, nos anos 40, dizia que o Brasil não devia ter indústria porque “somos o País do café” e seria mais barato comprar bens industriais na Bélgica. É impressionante que ainda haja no Brasil quem pense assim. Com base nessas cabeças de bagre, nos últimos 5 anos, a PETROBRAS, maior cliente dos estaleiros nacionais, passou a comprar navios na Ásia, inclusive uma sonda quase pronta no estaleiro do Rio Grande foi rebocada para ser terminada em Singapura, só para não ter o pecado de ser uma sonda Made in Brazil.
A QUESTÃO DOS COMBUSTÍVEIS – Lisboa, tão preocupado com “produtividade”, o que teria a dizer sobre o máximo da falta de lógica econômica praticada pela gestão neoliberal da PETROBRAS, que se iniciou com o “gênio” Pedro Parente e continua até hoje sob a gestão Guedes-Castelo Branco, a PETROBRAS exporta óleo cru e importa combustível refinado, mantendo no Brasil refinarias ociosas, quer dizer, exportamos o que vale pouco e importamos o que vale muito. Não venham dizer que é por razões técnicas, as 11 refinarias brasileiras podem ser reformadas, expandidas, modernizadas, é muito mais racional do que importar bilhões de dólares de gasolina e diesel do Texas e FICAR DEPENDENTE de importação, quando temos tudo para fazer em casa.
A QUESTÃO DILMA E RECESSÃO – Os neoliberais da GLOBONEWS continuam a repetir o bordão que a recessão de hoje é culpa da Presidente Dilma. É falso.
Dilma cometeu erros de gestão, MAS não foram esses erros de microeconomia que causaram uma recessão tão longa. A recessão se iniciou com a gestão de “ajustes e cortes” orçamentários no período Joaquim Levy no Ministério da Fazenda e foi reforçada pela política monetária contracionista do Banco Central que continua até hoje. Mesmo o erro na política energética não foi causa de recessão, não tem esse poder de criar recessão. Esta é uma derivada da POLÍTICA MONETÁRIA, da falta de renda, demanda e consumo provocada pela política monetária, além disso não se pode culpar um governo por recessão.
APÓS 5 ANOS, já teria dado tempo de reverter essa recessão por uma nova política e novo ciclo de crescimento. NÃO está no horizonte nem para os próximos dois anos. A recessão clássica dura dois, ou no máximo três anos, recessão tão prolongada é ERRO DE POLÍTICA ECONÔMICA que continua errando até agora.
A QUESTÃO DA PRODUTIVIDADE NA MACROECONOMIA – Um grande País toma decisões que nada têm a ver com produtividade. Roosevelt, na sua política do NEW DEAL para tirar os EUA da Grande Depressão, empregou 3 milhões de jovens para limpar parques e estradas, NÃO HAVIA NENHUM CONCEITO DE PRODUTIVIDADE nessa decisão, o objetivo era gerar renda para ativar o consumo e fazer a economia andar. NÃO HÁ NADA MAIS IMPRODUTIVO DO QUE UM PAÍS PARADO; quanto custa do ponto de vista macroeconômico manter 40 milhões de pessoas desempregadas, subempregadas, fazendo bicos, pedindo esmola, trabalhando para o crime? POR QUE A ECONOMIA NÃO CRESCE? Isso não é IMPRODUTIVIDADE? Quanto custa mais de cem fábricas de cimento com ociosidade de até 70% porque não há mais obras públicas? E não será improdutivo DESMONTAR equipes de engenharia de grandes empreiteiras que construíram no Brasil O MAIOR PARQUE HIDROELÉTRICO DO MUNDO, com técnica nacional? As grandes equipes da engenharia nacional foram desativadas pela Lava Jato e pela ausência de obras públicas; há algo mais improdutivo no mundo da economia? São conceitos de ESTRATÉGIA ECONÔMICA, muito mais importantes do que o navio chinês baratinho que o Lisboa julga ser o suprassumo da lógica econômica; que visão curta, pedestre, pobre, antinacional.
POLÍTICA ECONÔMICA DE GRANDE PAÍS – Um dos cinco maiores países do mundo, o Brasil deve ter política econômica de grande País, onde considerações ESTRATÉGICAS devem ser determinantes e não cartilhas de Chicago. China, Rússia e Índia têm políticas econômicas de grande País, POLÍTICA AMPLA, COM VISÃO DE ESTADO, DE ESTRATÉGIA GEOPOLÍTICA, que é um conceito e uma visão muito acima e além de formulazinhas fixas de escola de economia.
O DESEMPREGO EM MASSA, em nome de uma política econômica ortodoxa, coloca em risco a estabilidade social e INSTITUCIONAL do País. Vale mais um amplo programa de investimentos públicos, mesmo com o risco de alguma inflação, do que uma inflação sueca com MEGA DESEMPREGO. O risco ESTRATÉGICO é muito maior com instabilidade social do que com uma estabilidade monetária conseguida à custa de RECESSÃO, QUE SE PROLONGA POR CINCO ANOS SEM FIM À VISTA, a recessão como base da política econômica do Plano Guedes; REFORMAS E CORTES DE GASTOS não criam empregos, é preciso inteligência."
(De André Araújo, post intitulado "No Globonews Painel, o enterro de luxo da economia brasileira", publicado no Jornal GGN - Aqui.
De fato, não há nada mais improdutivo do que um país parado. Faz lembrar palavra que por algum tempo - e embora em outro contexto - andou em voga nos chamados anos de chumbo: IMOBILISMO. Mas vale repisar as palavras de André Araújo: ".... quanto custa do ponto de vista macroeconômico manter 40 milhões de pessoas desempregadas, subempregadas, fazendo bicos, pedindo esmola, trabalhando para o crime? POR QUE A ECONOMIA NÃO CRESCE? Isso não é IMPRODUTIVIDADE? Quanto custa mais de cem fábricas de cimento com ociosidade de até 70% porque não há mais obras públicas? E não será improdutivo DESMONTAR equipes de engenharia de grandes empreiteiras que construíram no Brasil O MAIOR PARQUE HIDROELÉTRICO DO MUNDO, com técnica nacional? As grandes equipes da engenharia nacional foram desativadas pela Lava Jato e pela ausência de obras públicas, há algo mais improdutivo no mundo da economia? São conceitos de ESTRATÉGIA ECONÔMICA, muito mais importantes do que o navio chinês baratinho que o Lisboa julga ser o suprassumo da lógica econômica; que visão curta, pedestre, pobre, antinacional."
Eis, então, que o técnico procura o BNDES, mas constata que ele foi esvaziado, procura investimentos públicos em geral, mas verifica que a cúpula está preocupada, mesmo, é com medidas tópicas, esgrimidas com o propósito de tão somente rebater as críticas adversárias. O técnico, em última instância, procura investimentos externos, mas nota que... nem isso!...).
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