quarta-feira, 20 de novembro de 2019
SOBRE REVELAÇÕES, PACOTES E PING-PONGUES
.PING
Nenhuma palavra acerca da declaração do advogado e ex-ministro Gustavo Bebianno sobre o fato de que o ex-juiz e atual ministro Sérgio Moro, antes mesmo do primeiro turno das eleições presidenciais de 2018, deu início a uma série de reuniões com emissário (ministro Paulo Guedes) da chapa Jair Bolsonaro, oportunidades em que teriam acertado a nomeação do ex-juiz como ministro da Justiça, garantida sua indicação, na época oportuna, para ministro do Supremo.
Vale lembrar que, sintomaticamente, poucos dias antes do primeiro turno da disputa, o ex-juiz liberou a publicação da primeira parte da delação premiada do ex-ministro Antonio Palocci - mesmo desacompanhada de provas (aqui) -, fato que, claro, repercutiu negativamente na chapa de Fernando Haddad.
A 'inconfidência' de Gustavo Bebianno sobre a barganha Moro / chapa Bolsonaro certamente reforçará, ainda que informalmente ('fora' do processo), as alegações oferecidas pela defesa do ex-presidente Lula no pedido de Habeas Corpus em que é solicitada a suspeição do ex-magistrado por flagrante e reiterada parcialidade. Acatado o pedido, estarão automaticamente anulados todos os atos praticados por Sérgio Moro relativamente aos processos em que o ex-presidente figura como réu.
O PING, então, diz respeito ao silêncio obsequioso com que a bombástica revelação de Bebianno foi recebida pela grande mídia, queremos dizer, a grande emissora.
.PONG
O projeto de lei contra o crime, organizado pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF, é anterior ao projeto anti-crime do ex-juiz Sérgio Moro. Ontem, 19, aconteceu o anúncio dos resultados da análise a que se chegou no Parlamento, e os destaques foram:
(a) o acolhimento das principais propostas do projeto organizado pelo ministro Alexandre de Moraes;
(b) a derrubada das principais bandeiras do pacote anti-crime do ex-juiz: a prisão após condenação em 2ª instância (licença para prender definitivamente, mesmo sem a observância do trânsito em julgado), a excludente de ilicitude (licença para matar) e a adoção do Plea Bargain (licença para barganhar a confissão de culpa com a redução da pena).
Não obstante, Sérgio Moro mereceu da grande mídia (Globo-JN) tratamento tão ou mais especial do que o oferecido ao ministro Alexandre de Moraes. Simples assim.
Poderíamos concluir o presente texto com alguma observação irônica, expressando o nosso sentimento de condenação a esse jornalismo que se pretende exemplar, isento, inspirador, mas não, limitamo-nos a refletir sobre os malefícios que o mau jornalismo pode produzir. Nesse sentido, vale perguntar como a opinião pública - desinformada sobre pontos cruciais - reagirá ante a eventual 'decretação', pelo Supremo, da suspeição do ex-juiz.
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