Neste Dia Especial, perpetua-se a pergunta: "Quem é essa mulher..., que só queria embalar seu filho, que mora na escuridão do mar?". A mulher é 'Angélica', cujo nome era Zuleika Angel Jones, cidadã brasileira, que se tornou Zuzu Angel, na foto abaixo com os filhos Hildegard e irmã, e Stuart Angel Jones, morto nos anos de chumbo (aqui) pelo regime militar e por cujo paradeiro Zuzu lutou, em vão, até sua morte, que configurou um novo crime (aqui) contra a família Angel.
Mas, e quanto à 'Angélica'? Trata-se do título da música com que Chico Buarque (letra) e Miltinho, do grupo MPB4, homenagearam Zuzu, canção de 1977.
Hildegard Angel: Minha mãe foi morta por ordem de Geisel
Do Diário do Centro do Mundo
Filha da estilista Zuzu Angel, morta no governo Geisel, em 1976, a colunista Hildegard Angel não ficou surpresa com as revelações do memorando da CIA. Segundo ela, o gabinete de Geisel encomendou o atentado contra sua mãe, na saída do túnel Dois Irmãos, em São Conrado. O caso de sua mãe está mais do que esclarecido. Não foi um acidente mal esclarecido.
Qual a sua reação diante do documento da CIA que revela a participação do general Geisel nas execuções durante a ditadura militar?
Vi como uma predestinação. Aqui no Brasil queimaram toda a documentação. Houve queima de arquivos. Fizemos um pacto sinistro. Houve um corporativismo fechado, uma blindagem da história brasileira. Mas havia um documento lá na sede do grande irmão. Eles não contavam com isso.
Você ficou surpresa com os fatos agora revelados?
Para mim não foi uma revelação. Quando o Cláudio Guerra, que foi delegado do DOPS, escreveu seu livro sobre a repressão, ele mencionou o caso de minha mãe (a estilista Zuzu Angel) e disse que o coronel Freddie Perdigão foi o organizador da emboscada encomendada que matou a minha mãe em 1976. Foi encomendada a ele diretamente pelo gabinete do Geisel. A Comissão da Verdade recorreu ao livro do agente do Dops e ele mencionou que havia foto do Perdigão no local do crime, na saída do túnel Dois Irmãos (hoje Zuzu Angel), em São Conrado.
Qual foi a conclusão das investigações?
O caso de mamãe foi investigado desde a Comissão dos Mortos e Desaparecidos até a Comissão Nacional da Verdade. As três comissões fizeram investigações, ouviram testemunhas e peritos, e concluíram que minha mãe foi vítima de uma emboscada por agentes do governo. O ex-ministro da Justiça Miguel Reale conversou com duas testemunhas. Mas até hoje tem gente bem informada que atribui a morte de mamãe a um acidente mal esclarecido. Nunca um caso foi tão esclarecido. Esse é um cacoete nacional. Precisamos nos convencer da monstruosidade da ditadura brasileira. Por isso, ainda vemos jornalistas importantes escrevendo que houve um acidente mal esclarecido. Quando mal esclarecidos estamos nós.
A Comissão Nacional da Verdade reconheceu o crime do Estado contra Zuzu Angel?
Nossa família recebeu R$ 80 mil de indenização. E a comissão endossou o depoimento do Cláudio Guerra. Portanto, o Estado reconheceu que o gabinete de Geisel chancelou o atentado. Mas temos muita dificuldade de aceitar que vivemos isso. Talvez exatamente por isso estejamos vivendo esse momento em que se tenta qualificar a ditadura militar. Tentam justificar a ruptura democrática, seja na política, seja pelo Judiciário.
Você pretende reabrir o caso de sua mãe?
Vou primeiro ouvir o Nilo Batista, que ajudou na reconstituição da tortura e morte de meu irmão Stuart Angel, ouvir o Pedro Dallari, que ajudou no caso de minha mãe, e outras pessoas que possam me aconselhar, como o ex-deputado Nilmário Miranda. Depois tomarei a decisão. - (Aqui).
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