domingo, 27 de maio de 2018

UMA GREVE POLÍTICA COM FUNDAMENTO ECONÔMICO

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Em um encontro nesse sábado, 26, ministros do STF, segundo informa a Globo, falaram sobre temas diversos. O ministro Dias Toffoli, p. ex., enfatizou a necessidade de os trâmites processuais ocorrerem com maior brevidade, o ministro Barroso deu seguimento à briga de egos que trava com o ministro Gilmar Mendes (o confronto pode ser chamado de fogueira das vaidades sem fim) e o ministro Marco Aurélio falou sobre a greve dos caminhoneiros, mas como se se referisse a um episódio que estivesse acontecendo em um país situado a milhares de quilômetros de distância. Fora do encontro, o ex-ministro Ayres Britto é que, em poucas palavras, disse o que é importante neste momento crítico vivenciado pelo País: os grevistas, a despeito das poucas e precárias conquistas obtidas até aqui, poderiam oferecer uma trégua, mesmo breve (mas, em nosso entendimento, observando o que prega Mauro Santayana - aqui), e o governo federal é, sim, culpado pela situação vexatória e periclitante, visto que desde outubro de 2017 estava alertado quanto ao problema dos caminhoneiros e deixou de adotar as medidas requeridas. Mas Ayres Britto, a exemplo do ministro Marco Aurélio, ignorou o nó górdio do drama: a privatização de fato da Petrobras, traduzida na venda arbitrária de partes do conglomerado e no "esquema estúpido de fixação de preços de derivados de petróleo nas refinarias", de que trata o economista J. Carlos de Assis no post abaixo.


Uma greve política com fundamento econômico

Por José Carlos de Assis

A greve dos caminhoneiros é uma greve política de fundo essencialmente econômico. Seu objetivo imediato é derrubar um esquema estúpido de fixação de preços de derivados de petróleo nas refinarias, o que, com base em declaração do próprio presidente da Petrobrás, Pedro Parente, só acontecerá com a derrubada dele do cargo. Portanto, não há hipótese de superação dessa greve a não ser pelo cumprimento da recomendação do presidente do Senado, Eunício Oliveira, de demissão do presidente da Petrobrás. Claro, com a substituição dele por quem não seja um neoliberal da mesma laia.
O passo seguinte – o estabelecimento de critérios razoáveis para a fixação de preços dos derivados de petróleo – pode ser definido por uma comissão dos principais interessados sugerida em ação popular proposta pelo senador Roberto Requião, e da qual se espera nesta segunda-feira uma liminar. Participariam da comissão representantes da Petrobrás, da Agência Nacional do Petróleo, dos caminhoneiros e da Aepet, a Associação de Engenheiros da Petrobrás - que vem prestando relevantes serviços ao Brasil na área da política do petróleo, tendo denunciado precocemente, inclusive, a absurda política de preços hoje questionada.
Alguns setores afeitos às teorias conspiratórias tentam levantar suspeitas quanto às verdadeiras motivações da greve. Supostamente haveria forças interessadas na derrubada imediata de Temer para favorecer a inviabilização das próximas eleições, facilitando a imposição de uma ditadura. Isso não passa de um delírio esquerdista. É um insulto às motivações reais dos caminhoneiros esmagados por uma política de preços dos derivados arbitrária e que está destruindo suas condições de sobrevivência e de vida. É claro que as empresas são também atingidas. Mas o calo aperta é mais embaixo.
Todos os que acompanham a evolução da situação brasileira em termos reais, e não apenas em termos ideológicos, sabem que com sua rápida deterioração depois de três anos de contração do PIB e de alta sem precedentes do desemprego e do subemprego a sociedade acabaria explodindo por algum elo fraco. Isso não aconteceria necessariamente através de movimentos conduzidos por instituições sindicais formais, muito burocratizadas e ideologizadas. Aconteceria, sim, a partir de setores fora do mercado formal de emprego, como autônomos e empregados de baixa remuneração.
Em face do alto desemprego, a força política dos sindicatos se reduz consideravelmente. O patrão passa a comandar todo o processo social. Como se viu na aprovação pelo Congresso da infame reforma trabalhista, os sindicatos não conseguiram empreender um movimento de resistência eficaz. Agora, como estamos vendo com os caminhoneiros, são os autônomos que estão na fronteira da luta, arrastando as empresas, do lado de cima, e os empregados, do lado de baixo. Não há conspiração nisso. Há necessidade econômica. O resto é ideologia pueril.
A distância entre o movimento atual e aquele de 2013 – este, sim, cercado de suspeita por todos os lados – é a distância entre 20 centavos de real e a renda global que um caminhoneiro tem para sustentar a si e a família. É a distância entre o ideológico e o real. O primeiro pode ser manipulado contra o Governo pelos meios de comunicação, como foi em 2013. O segundo não. Gente faminta, desempregada, ou quase nessa condição não vai para a rua para protestar contra um Governo apenas por ideologia. Vai, sim, para exigir meios reais de sobrevivência para defender a si e a sua família.
Justamente por isso não há saída para essa greve a não ser pela desmontagem, num ponto essencial da cadeia de organização do Estado, de uma estrutura que afeta não apenas os caminhoneiros, mas toda a população. A greve cria um desconforto geral que atinge quase todo o mundo, exceto os setores essenciais. Mas é inequívoco o apoio de grande parte da população ao movimento, inclusive levando alimentos, água e café para os grevistas nos pontos de bloqueio. Greve desse tipo só acaba com a vitória. E a vitória aqui é a deposição de Pedro Parente e de seu esquema, sua substituição por um executivo competente com sensibilidade pública,  e com o começo do fim do neoliberalismo que  justifica a política atual.  -  (Aqui).
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