O jornalista e escritor Tom Wolfe, morto há pouco, tem entre suas obras 'A Fogueira das Vaidades', um livro que se passa na Wall Street dos anos 80. Mas o título do eletrizante livro é que desembocou no Brasil para retratar literalmente o óbvio: a fogueira das vaidades, a massagem nos egos deslumbrados de muitos. E é irrelevante o fato de a fogueira ser alimentada por madeira de lei ou graveto; o importante é que a fogueira ilumine a imagem. Luis Nassif destacou o laurel "o homem do ano pela câmara de comércio dos EUA" como uma premiação, digamos, em termos, mas para o deslumbrado e seus parceiros midiáticos essa questão não vem ao caso.
Uma outra ocorrência que 'soa' como premiação é a 'palestra em Harvard'. Dias atrás, celebridades brasileiras (Judiciário e MP) lá estiveram, melhor dizendo, brilharam. Posteriormente é que se soube que a sessão foi uma iniciativa isolada de estudantes brasileiros daquela universidade, liderados pela filha do ministro Barroso.
Agência Xeque: as premiações internacionais e a imprensa jeca
Por Luis Nassif
Conforme colocamos no artigo de criação da Agência Xeque, uma das vulnerabilidades das atuais agências de checagem é se fixarem no factual, sem capacidade de contextualizar ou valorar os temas analisados.
Com duas verdades é possível contar uma mentira. Basta dar ênfase a um episódio irrelevante ou minimizar um episódio de peso.
Vamos analisar duas premiações internacionais.
Homem do Ano pela Câmara de Comércio dos EUA
A Câmara Brasileiro Americana de Comércio NÃO é uma câmara de comércio clássica, voltada para o comércio exterior, que apoia exportadores para encontrar distribuidores ou importadores atrás de fornecedores. Também não executa tarefas documentais, como certificar listas de preços, faturas, funções tradicionais das Câmaras de Comércio verdadeiras.
A de Nova York é um escritório de relacionamentos (networking), tipo a LIDE, de João Doria Junior. Ela tem dez escritórios de advocacia no seu conselho, vários lobistas históricos, como Thomas McLarthy, e advogados de bancos. A Petrobras também está no Conselho, assim como a Baker Mackenzie, escritório que ganhou tubos de dinheiro negociando delações premiadas da Embraer e da JBS nos Estados Unidos, assim como Sherman & Stearling, outro escritório preferido de Wall Street. O que menos tem são industriais ou comerciantes, que deveriam ser os associados normais de uma câmara de comércio.
Essa "LIDE novayorquina" usa o nome de câmara de comércio mas se dedica mais do que tudo a eventos com objetivos politicos-ideológicos abertos da pior espécie, sem nenhuma discrição.
Ao longo do tempo, também ganhou a fama merecida de "alça de caixão" ou "pé frio". Vários homenageados caem em desgraça ou morrem logo depois do prêmio. Entre os agraciados com Homem do Ano estão Leo Kryss (Evadin), João Havelange, Roberto Civita, Luis Eulálio Vidigal, Mario Garnero, Jorge Wolney Atalla, Jose Papa Jr., Caio Alcantara Machado.
Este ano, a Câmara premiou o juiz Sérgio Moro, que apareceu, deslumbrado, em fotos com personalidades internacionais e nacionais. Discrição é o mínimo que se espera de um juiz que mandou prender um ex-presidente e candidato favorito às eleições. O ápice do espetáculo foi a foto do casal Moro com o casal João Doria Junior, dois casais deslumbrados na corte de Nova York, com Doria candidato ao governo do estado de São Paulo contra o partido que Moro tentou liquidar.
A imprensa tratou a premiação como uma grande conquista brasileira.
Homem do Ano do Royal Institute of Internacional Affairs
Esse prêmio, batizado de Chatam House (nome do palácio sede do Instituto), é oferecido pela mais importante instituição de assuntos internacionais do mundo, acima do Council of Foreign Relations. Em importância, o prêmio vem logo depois do Prêmio Nobel da Paz e a cerimônia de entrega é um jantar de 450 talheres no próprio Instituto, presentes a nata do Parlamento, Governo e meio empresarial britânico.
Apenas dois latino-americanos ganharam o prêmio: o presidente da Colômbia Juan Maria Santos e, antes dele, Lula.
Antes de Lula ganharam o premio Hillary Clinton, Bill Gates e depois de Lula o Presidente da Colômbia Juan Manuel Santos.
Matéria interna da Folha.
Manchete: “Estatais patrocinam prêmio concedido a Lula em Londres”.
E a submanchete extraordinária, transformado o histórico Chatam House em um prêmio “co-patrocinado por Petrobras, BNDES e Banco do Brasil”. - (Aqui).
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