domingo, 2 de dezembro de 2012

OS BANCOS E SEUS REFÉNS


O "sopão dos pobres" e os banqueiros

Por Altamiro Borges

A União Europeia aprovou nesta semana os chamados “planos de reestruturação” para quatro bancos da Espanha. Ao todo, eles receberão cerca de 37 bilhões de euros – o equivalente a 100 bilhões de reais. A ajuda financeira, que sai dos tributos cobrados de milhões de europeus que hoje são vítimas de desemprego, do arrocho salarial e da regressão dos direitos trabalhistas, objetiva salvar o combalido “deus-mercado”, o sistema financeiro parasitário que é responsável pela grave crise capitalista no velho continente.

Entre os beneficiários deste socorro está o Bankia, um dos maiores bancos da Espanha que roubou descaradamente seus correntistas e acionistas. Perto destes gigantes privados, a corrupção em órgãos públicos de vários países parece coisa de ladrão de galinha. Mas a mídia rentista prefere fazer escândalo contra os desvios de recursos de agentes públicos – que merecem, lógico, total repúdio. No caso do roubo dos banqueiros, ela evita dar manchetes ou fazer escarcéu nas telinhas da tevê. Ela é cúmplice do assalto!
10 mil bancários demitidos
Os tais “planos de reestruturação” ainda têm contrapartidas que prejudicarão ainda mais a sociedade. O Bankia, por exemplo, terá que demitir 6 mil bancários. Os outros três bancos – Catalunya Banc, Novagalicia e Valencia – também precisarão dispensar trabalhadores e elevar as taxas de serviços aos clientes. Segundo os chamados “especialistas do mercado”, a tendência é que ocorra um processo de fusão do sistema bancário da Espanha, aumentando ainda mais a concentração e monopolização do setor.

Segundo estimativas do decadente jornal El País, cerca de 10 mil bancários serão demitidos nos quatro bancos, agravando ainda mais a situação do desemprego na Espanha – a maior da zona do euro, com taxa acima dos 25%. Já os "ativos tóxicos" destas instituições serão repassados para o Estado. Ou seja: quem pagará pelos papeis podres também serão os trabalhadores. Segundo o noticiário, a União Europeia deverá aprovar novos “planos de recapitalização” para outras instituições financeiras privadas ainda antes do Natal.
 
Os "comedores sociais" na Espanha
Enquanto os bancos salvam os seus lucros, à custa dos cofres públicos, muitos europeus hoje dependem do “sopão dos pobres”, segundo Clóvis Rossi, colunista da Folha que tem muito familiaridade com os tucanos nativos, mas rejeita os neoliberais da Europa – baita contradição! Hoje é comum os espanhóis procurarem os “comedores sociais” – “nome menos ultrajante que ‘sopão dos pobres’, que a América Latina conhece tão bem, mas que não se espera encontrar na rica Espanha, a quinta maior economia da Europa”.

“Não que não houvesse pobreza na Espanha antes da crise. Não que não houvesse favelas, aqui chamadas ‘chabolas’. Mas eram situações localizadas, que, em geral, afetavam imigrantes, e ficavam longe dos olhos do grande púbico. Agora, no entanto, a pobreza e os ‘comedores sociais’ ficam ‘a algumas ruas daqui’... A pobreza se incrustou, pois, na pele de uma Espanha torturada por receitas de ajuste que só aprofundam a recessão e, até agora, não ajudaram a reduzir a dívida pública”, estranha o jornalista.

Pena que Clóvis Rossi, que tem um texto brilhante, não reconheça que os tucanos brasileiros defendem as mesmas “receitas de ajuste” dos neoliberais europeus. É só analisar a pregação do cambaleante presidenciável do PSDB, o senador Aécio Neves, sobre o choque de gestão e sua apologia ao “deus-mercado”. Os “planos de recapitalização” dos banqueiros do velho e decadente velho continente e seu “sopão dos pobres” deveriam servir de alerta aos brasileiros – inclusive para alguns colunistas da mídia. (Fonte: aqui).
 
................
No Brasil, a queda dos ganhos dos bancos em face da redução dos juros (decorrente dos cortes na taxa Selic) repercutiu negativamente sobre a apuração do PIB. É que o governo tinha a expectativa de que os bancos, notadamente os bancos privados (visto que os estatais há tempos observam a diretriz governamental), incrementassem as operações de crédito como forma de compensar o impacto causado pelo corte dos juros, o que, parece, não se verificou. Afinal, mudar a cultura de ganhos fáceis não é coisa de curto prazo, sem contar que há dúvidas sobre se a banca - caso realmente queira ampliar os negócios produtivos - dispõe de estrutura adequada para a nova realidade.

Nenhum comentário: