O "sopão dos pobres" e os banqueiros
Por Altamiro Borges
A União Europeia aprovou nesta semana os chamados “planos
de reestruturação” para quatro bancos da Espanha. Ao todo, eles receberão cerca
de 37 bilhões de euros – o equivalente a 100 bilhões de reais. A ajuda
financeira, que sai dos tributos cobrados de milhões de europeus que hoje são
vítimas de desemprego, do arrocho salarial e da regressão dos direitos
trabalhistas, objetiva salvar o combalido “deus-mercado”, o sistema financeiro
parasitário que é responsável pela grave crise capitalista no velho
continente.
Entre os beneficiários
deste socorro está o Bankia, um dos maiores bancos da Espanha que roubou
descaradamente seus correntistas e acionistas. Perto destes gigantes privados, a
corrupção em órgãos públicos de vários países parece coisa de ladrão de galinha.
Mas a mídia rentista prefere fazer escândalo contra os desvios de recursos de
agentes públicos – que merecem, lógico, total repúdio. No caso do roubo dos
banqueiros, ela evita dar manchetes ou fazer escarcéu nas telinhas da tevê. Ela
é cúmplice do assalto!
10 mil bancários demitidos
Os tais “planos de reestruturação” ainda têm contrapartidas
que prejudicarão ainda mais a sociedade. O Bankia, por exemplo, terá que demitir
6 mil bancários. Os outros três bancos – Catalunya Banc, Novagalicia e Valencia
– também precisarão dispensar trabalhadores e elevar as taxas de serviços aos
clientes. Segundo os chamados “especialistas do mercado”, a tendência é que
ocorra um processo de fusão do sistema bancário da Espanha, aumentando ainda
mais a concentração e monopolização do setor.
Segundo estimativas do decadente jornal El País, cerca de
10 mil bancários serão demitidos nos quatro bancos, agravando ainda mais a
situação do desemprego na Espanha – a maior da zona do euro, com taxa acima dos
25%. Já os "ativos tóxicos" destas instituições serão repassados para o Estado.
Ou seja: quem pagará pelos papeis podres também serão os trabalhadores. Segundo
o noticiário, a União Europeia deverá aprovar novos “planos de recapitalização”
para outras instituições financeiras privadas ainda antes do Natal.
Os "comedores sociais" na Espanha
Enquanto os bancos salvam os seus lucros, à custa dos
cofres públicos, muitos europeus hoje dependem do “sopão dos pobres”, segundo
Clóvis Rossi, colunista da Folha que tem muito familiaridade com os tucanos
nativos, mas rejeita os neoliberais da Europa – baita contradição! Hoje é comum
os espanhóis procurarem os “comedores sociais” – “nome menos ultrajante que
‘sopão dos pobres’, que a América Latina conhece tão bem, mas que não se espera
encontrar na rica Espanha, a quinta maior economia da Europa”.
“Não que não houvesse pobreza na Espanha antes da crise. Não que não houvesse favelas, aqui chamadas ‘chabolas’. Mas eram situações localizadas, que, em geral, afetavam imigrantes, e ficavam longe dos olhos do grande púbico. Agora, no entanto, a pobreza e os ‘comedores sociais’ ficam ‘a algumas ruas daqui’... A pobreza se incrustou, pois, na pele de uma Espanha torturada por receitas de ajuste que só aprofundam a recessão e, até agora, não ajudaram a reduzir a dívida pública”, estranha o jornalista.
Pena que Clóvis Rossi, que tem um texto brilhante, não reconheça que os tucanos brasileiros defendem as mesmas “receitas de ajuste” dos neoliberais europeus. É só analisar a pregação do cambaleante presidenciável do PSDB, o senador Aécio Neves, sobre o choque de gestão e sua apologia ao “deus-mercado”. Os “planos de recapitalização” dos banqueiros do velho e decadente velho continente e seu “sopão dos pobres” deveriam servir de alerta aos brasileiros – inclusive para alguns colunistas da mídia. (Fonte: aqui).
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No Brasil, a queda dos ganhos dos bancos em face da redução dos juros (decorrente dos cortes na taxa Selic) repercutiu negativamente sobre a apuração do PIB. É que o governo tinha a expectativa de que os bancos, notadamente os bancos privados (visto que os estatais há tempos observam a diretriz governamental), incrementassem as operações de crédito como forma de compensar o impacto causado pelo corte dos juros, o que, parece, não se verificou. Afinal, mudar a cultura de ganhos fáceis não é coisa de curto prazo, sem contar que há dúvidas sobre se a banca - caso realmente queira ampliar os negócios produtivos - dispõe de estrutura adequada para a nova realidade.
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