segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

EUA E O RITUAL SOBRE ARMAS

(A cada massacre, debates sobre armas...).

Petar Pismestrovic.

Massacre deve gerar reflexão sobre a cultura dos EUA, dizem analistas

Da BBC Brasil

A cada tragédia como a ocorrida na última sexta-feira na escola primária de Sandy Hook, no Estado americano de Connecticut, o debate sobre o porte de armas nos Estados Unidos volta à tona.
 
Para especialistas, porém, o fácil acesso às armas no país, apesar de ter um papel crucial no contexto da violência, é apenas parte de um problema maior.

Segundo eles, características sociais e culturais da sociedade americana, como a glorificação da violência ou a falta de investimentos na saúde mental da população, são fatores que explicariam a frequência de massacres no país.

Allen McConnell, professor de Psicologia da Universidade de Miami, acredita que tais elementos têm de ser levados em consideração quando se avalia esse tipo de tragédia.

"Segundo os vários estudos de campo já realizados, são vários os fatores que aumentam a probabilidade de que alguém cometa um ato como este", argumenta.

Segundo ele, fatores sociais e psicopatológicos podem fazer com que uma pessoa normal se sinta frustrada e adote um tipo de conduta agressiva.

"Tragédias como a que vimos podem acontecer em qualquer lugar, mas há provavelmente um número de aspectos e modelos da cultura americana que tornam tais incidentes mais frequentes no país.", afirma McConnell.

Nesse sentido, especialistas que partilham da mesma visão de McConnell afirmam que a matança lança luz sobre o sistema de saúde mental dos Estados Unidos, que recebe pouca atenção e recursos insuficientes por parte do governo.

Glorificação da violência
"Não se pode matar alguém com uma arma se o acesso a ela é limitado. Porém, com certeza, não podemos explicar essa tragédia apenas sob o prisma da disponibilidade de armas, mas também de uma cultura que incentiva o porte de armas como solução para todos os problemas", explica McConnell.

"É uma espécie de mentalidade Rambo, ou Call of Duty (em alusão ao jogo de mesmo nome), como forma de resolver conflitos", compara.

Segundo ele, o individualismo da sociedade americana associado ao fascínio da população por armas se misturam e formam um terreno fértil para o aparecimento de figuras como a do atirador da Sandy Hook School.

McConnell reconhece, entretanto, que, em um país de mais de 300 milhões de pessoas, é perigoso generalizar e concluir que tais assassinatos são um sintoma de uma sociedade "doente".

Além disso, para outros estudiosos, também contribuiria para a proliferação de chacinas no país a publicidade que os casos ganham.

De qualquer forma, há um consenso de que se o acesso a armas fosse limitado ou melhor supervisionado, o número de tragédias como a de Newtown poderia ser largamente reduzido.

Mark Mardell, editor de América do Norte da BBC, explica que os americanos consideram um direito fundamental possuir armas em casa para autodefesa, não apenas para a caça ou para o esporte.

Este direito, salienta, está consagrado na chamada Segunda Emenda da Constituição americana, o documento político mais venerado nos EUA.

As armas são parte da vida cotidiana. Por isso, muitos insistem em que não há problema algum em possuir armamentos especialmente desenvolvidos para matar muita gente, e muito rapidamente.

Diante do massacre em Connecticut, volta a pergunta se, desta vez, algo irá mudar na política de acesso às armas nos EUA.

Para Mardell, pelo menos "de maneira geral, não". Ele afirma, no entanto, que "desta vez, talvez, mas somente talvez, possa ser diferente".

Na última sexta-feira, segurando as lágrimas, Obama disse que o país "sofreu muitas dessas tragédias nos últimos anos".

"Temos que tomar medidas significativas para evitar mais tragédias como essa", afirmou ele.

Após o tiroteiro no qual morreram seis pessoas em Tucson, no Arizona, em 2011 – sendo ferida a deputada Gabrielle Giffords -, Obama disse algo parecido. Nada aconteceu desde então.

O problema, avaliam especialistas, é que, logo depois, o presidente enfrentou eleições e ficou com medo de tomar um medida que o impactasse negativamente nas urnas.

Porém, agora, reeleito, Obama teria mais força para pressionar o Congresso a aprovar medidas mais restritivas ao acesso a armamentos, acreditam.

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A pergunta deve ser: Obama se disporá a restringir a comercialização de armas? O lobby da indústria armamentista vai mover mundos e  fundos para que tudo permaneça como está. Além da Segunda Emenda da Constituição americana, os arautos das armas apresentarão dezenas de argumentos em defesa do laissez-faire. A propósito, eles poderiam recorrer aos préstimos da revista Veja, que é expert no assunto: na época do plebiscito sobre o desarmamento no Brasil, alinhou, em matéria de capa, 'n' razões típicas dos entusiastas do Livre Mercado e do neoliberalismo para deixar tudo correr frouxo no que tange a armas, aqui e alhures.

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