domingo, 8 de agosto de 2010

SOBRE EXCESSO E FALTA DE FÉ



O mundo está preso num impasse “entre a falta de crença e o excesso de crença”. Esta é a opinião do britânico Terry Eagleton, um dos mais influentes críticos em atividade, que defendeu ideias originais e distribuiu bordoadas a granel na Festa Literária de Paraty.

Eagleton não mede palavras no combate de ideias: seu livro mais recente, “Reason, Faith, and Revolution: Reflections on The God Debate”, questiona diretamente as teses do evolucionista Richard Dawkins, defendidas em “Deus, um Delírio”.

Algumas observações do crítico na Flip, pinçadas em matéria publicada no blog de Maurício Stycer:

.“Minha objeção a Dawkins não é que ele não acredita em Deus, como muita gente, é que ele não tem a menor ideia do que significa acreditar em Deus. A doutrina da criação não tem nada a ver com como o mundo começou, como Dawkins erroneamente acredita”.

.“A maioria dos ateus compra o ateísmo de forma barata”, diz. “Eles nem foram confrontados com o catolicismo de forma a rejeitá-lo. Você precisa lutar por isso, rejeitar alguma coisa sólida. É um sacrifício”.

.“Por que todo mundo está falando de Deus? Quer dizer, Leonardo di Caprio não está falando de Deus, mas Madonna está falando... Quando Deus parecia ter se aposentado do debate público, ele está de volta. Deixe eu sugerir uma resposta: 11 de setembro.”

Sobre o duelo entre o islamismo radical e as sociedades ocidentais:

.“Cada parte empurra a outra para um extremo ainda maior. Quanto mais sem fé se tornar a civilização, mais a outra parte vai reagir. Estamos presos neste impasse”.

.“As pessoas que fizeram críticas mais fortes sobre o islamismo, como Hitchens, Amis, Ian McEwan, Salman Rushdie, pessoas que rotulam genericamente os muçulmanos como terroristas, se proclamam intelectuais liberais. Supostamente são as pessoas que deveriam falar em nome da tolerância. Islamismo radical é um fenômeno feio. Não há como defender isso. Mas os que exageram são os liberais literários da Inglaterra”.

.“Obviamente há diferenças individuais no grupo que acabei de mencionar. Estamos falando de islamofobia. A linha foi cruzada muitas vezes por Amis e Hitchens. Eles odeiam o islamismo porque odeiam toda a religião. Mas não têm o direito de confundir uma minoria com todos os muçulmanos.”

.“A civilização ocidental é permeada de formas de fundamentalismo evangélicos. Talvez porque a União Soviética não exista mais, as pessoas precisam de um novo bicho papão. Gostaria de ouvir Rushdie e Amis falarem isso de forma mais alta. Como se os bárbaros fossem só os outros.”

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