quinta-feira, 16 de outubro de 2014

ELEIÇÕES 2014: PESQUISAS, MODUS OPERANDI


De Luciano Martins Costa, no Observatório da Imprensa:

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A lavagem de factoides

Nos anos 1980, jornalistas da revista Veja chamavam de “a mão peluda” as intervenções do então diretor de redação, Roberto Guzzo, em seus textos. Era uma forma bem-humorada de protestar contra a homogeneização do estilo, que, posteriormente, degenerou para o panfletarismo puro e simples.

Pois a “mão peluda” pode ser flagrada na cobertura eleitoral dos principais veículos de comunicação do País, num jogo que começa na pauta e continua nas pesquisas de intenção de voto.

Vejamos, então, como funciona: a imprensa hegemônica martela sem cessar um assunto que é desfavorável a um dos candidatos. Nem é preciso demonstrar, mas até mesmo o leitor mais fiel sabe que o noticiário é predominantemente negativo para a candidata do Partido dos Trabalhadores, enquanto seu oponente é poupado em nível de vassalagem. Então, o tema central do bombardeio contra a candidata petista vai parar nos formulários que os pesquisadores levam a campo. E muitas respostas, evidentemente, podem ser influenciadas.

A manobra é denunciada por eleitores nas redes sociais, e o questionário inteiro da pesquisa pode ser conferido no site do Tribunal Superior Eleitoral (ver aqui).

Na pergunta 22 da pesquisa Datafolha, por exemplo, o eleitor ouve o seguinte: “Você tomou conhecimento das denúncias de um ex-diretor da Petrobras que envolvem o pagamento de propinas em contratos da empresa para três partidos: PT, PP e PMDB?” Então, o pesquisador pergunta se o entrevistado acredita ter havido o pagamento de propinas, e depois questiona se essas denúncias deveriam ser divulgadas durante a campanha ou só depois do segundo turno. Nas duas perguntas seguintes, o pesquisador envolve diretamente a presidente da República no escândalo, com a seguinte pergunta (P.25): “Na sua opinião, a presidente Dilma Rousseff tem ou não responsabilidade no caso de corrupção em negócios da Petrobras?” E o pacote é fechado por uma questão sobre a eventual influência das denúncias na definição do voto do pesquisado.

O escândalo montado pela imprensa a partir de declarações fragmentadas, vazadas seletivamente de um processo criminal, vai para a pesquisa e depois volta para o noticiário. É assim que funciona a “lavagem” de factoides. (Para ler a matéria completa, clique aqui).

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Entreouvido nos bastidores: "Nada escapa à rede de mobilização midiática, nem mesmo as pesquisas de indução eleitoral, quero dizer, pesquisas de intenção eleitoral."

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