domingo, 16 de junho de 2013

PRECIOSIDADES JOBINIANAS


Histórias de canções de Jobim revelam o perfeccionismo do compositor

Por Mauro Ferreira

.Quarto título da série Histórias de canções, formada por livros que descortinam os bastidores da criação do cancioneiro de um determinado compositor brasileiro, o volume dedicado a Tom Jobim (1927 - 1994) deixa claro nas entrelinhas o perfeccionismo obsessivo do maestro para alcançar a perfeição (normalmente atingida) na composição de suas músicas.

.Permanente, essa busca pelo melhor levou Tom a questionar a letra escrita pelo parceiro Newton Mendonça (1927 - 1960) para Desafinado (1958) - composição iniciada como uma brincadeira, mas que virou uma das coisas mais sérias (e belas) da Bossa Nova - e a alterar a letra escrita por Vinicius de Moraes (1913 - 1980) para Felicidade (1959), à revelia do poeta. "As modificações que fiz não alteraram em nada a beleza e a simplicidade da letra", argumentou Tom para Vinicius em carta publicada no livro.

.Como Tom e seus principais parceiros já saíram de cena, os autores recorrem a cartas, trechos reportagens e a informações de outros livros para historiar a gênese dos clássicos soberanos do maestro. Mais do que esmiuçar a criação de cada música, o livro reconstitui os principais passos profissionais de Jobim, contextualizando a gravação de cada disco do compositor. Entre diversas curiosidades, Tom Jobim - Histórias de canções reproduz a (convincente) resposta do compositor à acusação - feita pelo jornalista carioca Paulo Francis (1930 - 1997) - de que o Samba de uma nota Só (parceria com Newton Mendonça que, embora gravada em 1959, tem sua origem em 1953) foi tirado da introdução de Night and day, um dos clássicos do repertório do compositor norte-americano Cole Porter (1891 - 1964).

.Estruturado em tópicos, o livro conta que Você é amor (1960) - rara parceria de Tom com a cantora (e compositora bissexta) Alaíde Costa - nasceu na casa de Vinicius, por iniciativa de Tom, que começou a palpitar na melodia e na letra que Alaíde esboçava ao piano (a música somente seria gravada em 2004).

.Quando há duas versões para o nascimento de uma música, caso de Bonita (Tom Jobim e Ray Gilbert, 1964), canção inspirada pela beleza da atriz norte-americana Candice Bergen, os autores expõem ambas.
De acordo com depoimentos divergentes de Jobim, Bonita pode ter nascido tanto no voo de avião em que o compositor conheceu a atriz como numa viagem solitária de trem pelo deserto dos Estados Unidos. Seja como for, a canção é bonita, como ressaltam os autores do livro sem esconder a admiração pela obra de Jobim, perceptível ao longo das 320 páginas.

.A já conhecida implicância de Tom com a expressão-título da canção Retrato em branco e preto (1968) - o natural seria retrato em preto e branco, no entender do compositor - é outro indício de seu salutar perfeccionismo, na ânsia de obter o encaixe perfeito entre música e letra. Contudo, nesse caso, Tom cedeu aos argumentos (e à teimosia) de seu parceiro Chico Buarque. A propósito, o livro revela que a parceria de Tom com Chico somente não foi iniciada com Wave (1967) porque Chico não quis desenvolver o verso inicial Vou te contar. Ansioso, Tom chegou até a pedir uma letra ao então desconhecido Ronaldo Bastos, mas acabou fazendo ele mesmo a letra de Wave, para surpresa (e decepção) de Bastos.

.Mais tarde, o livro conta que a musa inspiradora (e então proibida) da canção Ângela (1976) é, na verdade, Ana Lontra Jobim, com quem Tom acabaria se casando. Enfim, Tom Jobim - Histórias de canções é compêndio (de fácil e agradável leitura) com informações e curiosidades sobre cancioneiro que paira soberano acima de toda a produção de música popular do século XX. Efeito da busca incessante de Antonio Carlos Jobim pela beleza das formas musicais, pela perfeição alcançável pelo compositor, o maestro soberano do Brasil. (Fonte: aqui).

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Para facilitar a leitura, fracionei o texto acima. 
Já disponho de um exemplar do livro sobre as preciosidades do grande Tom.

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