sexta-feira, 14 de junho de 2013

DA SÉRIE CERTAS PALAVRAS

Rubens.

Palavras estrangeiras inventadas em português

Por Aldo Bizzocchi

Parece incrível, mas no Brasil se inventam palavras... estrangeiras! Isso mesmo, não só enriquecemos constantemente o acervo léxico do português - e fazemos isso bem mais do que Portugal - graças às nossas gírias e às nossas mazelas (fumódromo, valerioduto, mensalão, bolsa-estupro, brasiguaio são só alguns exemplos), como também empregamos termos estrangeiros com significado insuspeitado pelos legítimos criadores dessas palavras.

Na França, por exemplo, "bombonnière" é uma caixinha, geralmente de prata ou outro metal nobre, para guardar bombons; no Brasil, virou loja de doces. O cartaz publicitário de rua que conhecemos por "outdoor" em inglês se chama "billboard". E "game", que no Brasil é redução de "videogame" (isto é, videojogo), nos países de língua inglesa é qualquer jogo - futebol inclusive.

Alguns vocábulos têm história mais complexa. "Handicap", que em inglês quer dizer "desvantagem, deficiência" ("handicapped", por sinal, é "deficiente físico"), aqui no Brasil assumiu o sentido de vantagem, diferencial positivo. É que havia originalmente na Inglaterra um jogo de cartas chamado "hand in cap" (mão no gorro) em que se costumava esconder a mão dentro de um gorro ou boné para ocultar as cartas, especialmente se não se tinha uma combinação muito vantajosa (é o famoso blefe). A partir daí, passou-se a usar o termo "handicap" para designar competições em que alguns concorrentes, por serem mais fracos que os demais, começavam a prova já em vantagem. Portanto, vem daí a confusão entre o sentido original de "deficiência" e o de "vantagem". Só que, nos países de língua inglesa, "handicap" é sempre deficiência, nunca vantagem. (Uma curiosidade: a própria palavra "vantagem", do francês "avantage", deriva de "avant", isto é, sair em vantagem era dar a largada numa corrida já à frente dos demais.)

Outro termo bastante usado hoje em dia para denominar diferenciais positivos é "plus" ("Fazer esse curso pode dar um 'plus' na sua carreira"), de onde saiu o horrível pleonasmo "um 'plus' a mais".

O universo da moda também é pródigo em palavras estrangeiras que ganharam novo significado entre nós. Exemplo disso é o termo "fashion", usado como adjetivo para designar o que está na moda ("Este batom é 'fashion'", "Comprei uma blusa super 'fashion'"), quando em inglês, na mesma situação, se diz que algo é "in" (redução de "in fashion", "na moda").

Outra expressão típica da moda é "dar um up", isto é, elevar a autoestima por meio de uma roupa ou maquiagem "fashion". Não há em inglês nada parecido com "give an up".

No Brasil, "wafer" é tanto o biscoito doce de massa fina, em geral recheado de creme, quanto aquele em forma de favo, que se come com doce de leite ou mel, e que muitos chamam de favo holandês, embora se origine da Bélgica. Só que, em inglês, o primeiro é realmente "wafer", enquanto o segundo na verdade se chama "waffle". Quem chamar "waffle" de "wafer" no exterior cometerá uma gafe.

Porém, o mais chocante são palavras estrangeiras usadas correntemente no Brasil e que efetivamente não existem em outras línguas - nem na suposta língua original. É o caso do nosso amado chope, que os bares em sua maioria ainda grafam "chopp" para ser mais fiéis às raízes germânicas da bebida. O problema é que essa palavra não existe em alemão. O que há é "Schoppen", que significa "copo pequeno". Ou seja, o nome do tipo de copo que se usa para beber cerveja tirada do barril (em alemão, "Fassbier" ou "Schoppenbier") virou no Brasil o próprio nome da bebida - e com uma tremenda deformação gráfica! (Fonte: aqui).

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