quarta-feira, 3 de agosto de 2022

LUTANDO COMO MENINAS

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"...percebemos sua sincera inquietação com o futuro incerto que as aguarda. Como jovens de qualquer geração, elas sentem a responsabilidade de mudar o mundo para melhor."


FILHOS DO FUTURO

Por Carlos Alberto Mattos

Rayen tinha 23 anos e estava na linha de frente dos protestos jovens contra o governo direitista de Sebastián Piñera no Chile em 2019. Na mesma época, Pepper, de 22 anos, enfrentava a polícia de Hong Kong nas manifestações contra a chinesificação do seu território teoricamente autônomo. Em Uganda, Hilda, 22 anos, batalhava pela conscientização de seus conterrâneos quanto à crise climática. Enquanto isso, o alemão Franz Böhm, então com apenas 20 anos, fazia um filme sobre elas. Chama-se Filhos do Futuro (Dear Future Children). O título original é como uma dedicatória às “queridas crianças do futuro”.

Para um realizador tão jovem, o documentário surpreende pela dinâmica e a maturidade da forma. Os três espaços e as três personagens se revezam como eixos de entrada em cada uma das questões. Suas vozes são doces ao passarem uma visão intimista de suas lutas, com reflexos pessoais e familiares.

No Chile, onde até a água é privatizada, os protestos de 2019 foram recebidos com violência policial, milhares de prisões, dezenas de mortes e nada menos que 400 pessoas com perda de olhos por balas de borracha. Rayen visita vítimas e parentes de vítimas enquanto vive uma espécie de vida dupla e tenta combater o seu próprio medo e a tentação de desistir da luta.

Pepper, de quem vemos o rosto sempre semicoberto por máscaras, mantém-se na clandestinidade, uma vez que a repressão chinesa avançava célere sobre os insatisfeitos. Hilda, por seu turno, é vista empenhando-se na limpeza de um rio em sua cidade ugandesa e, emocionada, chamando o mundo à ação num congresso sobre o clima em Copenhague. “Chega de dizer que nós os inspiramos e depois continuar tudo na mesma”, desabafa.

O que vemos dessas ativistas talvez seja insuficiente e um tanto superficial para delas termos um perfil mais consistente. Ainda assim, percebemos sua sincera inquietação com o futuro incerto que as aguarda. Como jovens de qualquer geração, elas sentem a responsabilidade de mudar o mundo para melhor. O realizador Franz Böhm dá sua contribuição fazendo-nos conhecê-las ao menos um pouco.  -  (Fonte: Blog Carmattos - Aqui).

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