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"...para Stan era difícil se conformar que seu pai fosse apenas um burocrata do centro espacial, em lugar de um glorioso astronauta. Cabe a ele, então, compensar essa desvantagem com sua própria imaginação."
Por Carlos Alberto Mattos
Entre 1969 e 1972, doze homens pisaram na Lua. Até agora, porém, ninguém conhecia o caso do garoto que também botou os pés no Mar da Tranquilidade. Quem nos conta é Richard Linklater a partir de uma fantasia de sua infância vivida nas imediações do centro espacial de Houston, Texas. O autor do excepcional Boyhood tem um talento particular para histórias de formação narradas com humor e doçura, mas sem abrir mão de uma certa veia crítica.
Em Apollo 10 1/2: A Space Age Adventure, ele se vê na pele do pequeno Stan na virada de 1968 para 1969, quando a NASA corria contra os russos para botar o primeiro homem na Lua. Mas para Stan era difícil se conformar que seu pai fosse apenas um burocrata do centro espacial, em lugar de um glorioso astronauta. Cabe a ele, então, compensar essa desvantagem com sua própria imaginação. A NASA está precisando dele para testar um módulo que, por algum equívoco de fabricação, ficou pequeno demais para Neil Armstrong.
Antes que a aventura prossiga, Linklater dedica a parte central – e melhor – do filme a uma viagem não no espaço, mas no tempo. A voz de Stan adulto recorda-se da vida familiar numa cidade recém-construída do Texas, em fins dos anos 1960. Os EUA cometiam suas barbaridades no Vietnã, mas a classe média texana estava “ocupada” pela corrida espacial e o cotidiano típico do “sonho americano”.
Uma crônica hilariante traz as memórias da televisão, das diversões, dos hábitos, dos ídolos e das paranoias da época, tudo revisto com uma suave ironia que o distanciamento no tempo permite. Naquele aqui e agora, tudo era novo, e o futuro parecia estar a um voo de foguete de distância. O perfil conservador da família fica claro pela reação da maioria de seus membros quando alguém na TV questiona os gastos com o programa espacial em detrimento de beneficiar pobres e negros.
A efeméride da Apollo 11 é acompanhada por Stan com um misto de excitação e tédio, uma vez que só ele já “sabia” o que Armstrong sentiu ao tocar sua botina no solo lunar. Em termos de roteiro, pode-se dizer que a conexão Stan-Armstrong não ficou muito bem acoplada, mas àquela altura o encantamento do filme já está garantido.
Fator de sedução essencial é a qualidade da rotoscopia, que consiste em filmar atores como referência para o trabalho dos animadores, que então “completam” as cenas com backgrounds, figurinos, etc. Até os materiais de arquivo documentais, assim como as cenas de filmes (2001, A Noviça Rebelde) e antigos seriados recebem o mesmo tratamento. Resulta uma animação naturalista, que “respira” humanamente o tempo todo. Linklater já havia usado a rotoscopia em Acordar para a Vida e O Homem Duplo, mas nunca com tanta graça e maestria. - (Fonte: Blog Carmattos - Aqui).
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