Não pretendo fazer apologia à rebeldia com esta crônica. Portanto, não precisa colocar meu nome na boca de algum pastor evangélico e expulsar o capiroto que, supostamente, habita em mim. A única coisa que estou tentando fazer aqui é compreender o que aconteceu com esta geração que abandonou as legiões urbanas e os movimentos contracultura para filiar-se ao exército da moral e dos bons costumes, que dentre muitas coisas, apregoa o ódio às minorias e censura à liberdade de expressão e de escolha do povo. Vivemos uma nova era, um tempo dos conservadores sem causa. Até alguns roqueiros, pasmem, estão aderindo a este movimento, a exemplo do próprio Roger Moreira, vocalista do Ultraje a Rigor. A insanidade é tão grande que um grupo chegou a vaiar um dos fundadores do Pink Floyd, Roger Waters, após o cantor criticar em um show o então candidato à presidência da República, Jair Bolsonaro.
Agora me responda: quem em sã consciência iria pensar que o ex-líder do Pink Floyd apoiaria a candidatura de Bolsonaro? Tempos estranhos!
Mas, se já era difícil compreender a rebeldia sem causa, os intermináveis questionamentos e a revolta da geração que amava os Beatles e os Rolling Stones, hoje é ainda mais complicado entender o conservadorismo sem causa que despreza as guitarras e aprecia um instrumento que sempre dá a mesma nota -- ra-tá-tá-tá...
Muitos desses jovens exorcizaram a democracia e invocaram com as armas em punho a volta da ditadura; e agora como ovelhas são guiadas pelos campos dos Olavos de Carvalho, que negam a ciência e apresentam-se como fundadores de uma nova direita. A direita que pensa que ser liberal é ser comunista, que Chico Buarque é modinha e que interferir na liberdade individual das pessoas é correto.
Ao longo da história a juventude nunca se identificou com uma postura conservadora. Aliás, é preciso ressaltar que existe uma grande diferença entre o comportamento conservador e o pensamento político conservador. Justiça seja feita – mesmo não concordando – preciso reconhecer que o conservadorismo de Edmund Burke é uma teoria consistente. No entanto, deparo-me no atual momento com jovens conservadores sem causa; a expressão mais viva do tédio e da ignorância sistêmica que parece ter tomado conta dos trópicos.
Se há governo sou a favor!"
(De Janderson Lacerda, post intitulado "Conservador sem causa", publicado no GGN - aqui.
Edmund Burke, irlandês - 1729/1797 -, filósofo, advogado, político liberal, teórico político e orador, membro do parlamento londrino pelo partido Whig. Algumas de suas máximas:
.'Para o triunfo do mal só é preciso que os bons homens não façam nada.'
.'A nossa pátria, para fazer-se amar, deve ser amável.'
.'Não há conhecimento que não tenha valor.'
.'Todos os opressores... atribuem a frustração dos seus desejos à falta de rigor suficiente. Por isso eles redobram os esforços da sua impotente crueldade.'
.'É bem conhecido que a ambição tanto pode rastejar como voar.'
.'Há quem defenda os seus erros como se estivesse a defender uma herança.'
.'A lisonja corrompe quem a recebe e quem a dá; e a adulação não é mais útil ao povo do que aos reis.'
.'Quanto maior o poder, mais perigoso é o abuso').
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