quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

GLOBALIZAÇÃO FINANCEIRA: ANALISANDO OS SINTOMAS


Globalização Financeira, a próxima crise

Por André Araújo

A economia moderna que se estuda há 200 anos opera por ciclos de expansão e contração. O atual ciclo de globalização financeira leva o mundo a sérias distorções no campo social e politico e a fatura está chegando. O atual ciclo começou em 2009 e está para terminar por causa do excesso de liquidez, que leva a investimentos arriscados na desesperada busca de “taxas de retorno” quase impossíveis de obter. Fundos americanos que procuram projetos de infraestrutura no Brasil pretendem taxas de 16 ou 17% ao ano em dólar, uma aberração, mas eles insistem. Os chineses se contentam com taxas menores e por isso estão ganhando os melhores projetos de infraestrutura, especialmente em energia.

Estão sendo feitos muitos investimentos arriscados por fundos especulativos que prometem taxas elevadas para atrair investidores menos conservadores.
Isso levará a uma sucessão de insucessos que estão apontando no horizonte e aí a GLOBALIZAÇÃO mostrará sua cara. A globalização cria um sistema de vasos comunicantes que funciona para o bem e para o mal. Quando funciona bem, tudo é festa. Quando há uma crise em um país o contágio também é rápido, propaga-se o efeito dominó que equaliza continentes e tipos de Pais. Uma crise na Argentina contamina o Brasil porque na visão do investidor global são países do mesmo tipo de economia. Com economias estanques não era assim, as crises não se comunicavam, hoje há uma visão regional de economias que refletem uma na outra.
A implosão de uma bolha imobiliária em Hong Kong pode provocar pânico na Bolsa de Londres, um default de país emergente ou de uma grande corporação multinacional pode estourar várias bolhas em Nova York e Toronto. A interconexão dos mercados não funciona só para o bem, a onda que vai volta no refluxo do pânico nos mercados. Lembremos que a quebra da Grécia se refletiu em todo o mercado financeiro europeu e há nuvens no horizonte. Os bancos italianos estão quase todos com balanços perigosos, o maior banco alemão tem sérios problemas que já estão sendo apontados há dois anos,  na China há várias bolhas no forno, o chinês tem paixão pela especulação de bolsa, que trata como um cassino.
Uma sucessão de bolhas implodidas pode acabar com a chamada “ditadura dos bancos centrais”, fenômeno que começou após a crise de 2008 e que  provocou uma transferência de poder politico dos governos dos países ricos para os seus bancos centrais, que comandam a política econômica numa escala maior do que na década anterior. Essa “ditadura dos bancos centrais” está agora sob pressão das novas composições nos Parlamentos da Alemanha e da França e do Gabinete inglês, por causa das tensões sociais que políticas monetárias exageradamente duras têm provocado, afetando o crescimento dentro da zona do Euro, e da necessidade de recomposição da economia britânica após o Brexit. Ao mesmo tempo, a nova administração do Federal Reserve, a ser pela primeira vez  dirigido por um advogado, e não por um economista, será fatalmente mais expansionista e geradora de inflação no dólar americano. Tudo isso vai provocar uma reacomodação no mercado financeiro global, tudo somado a uma politica econômica mais agressiva da China, que terá impacto mundial, além de um nova e inédita aliança geopolítica da China com a Rússia, pavimentada pelo “acordo do gás” sino-russo, uma transação de trilhões de dólares e que estará fora do controle financeiro anglo-americano e da zona do dólar.
A Administração Trump vai aumentar a dívida pública americana em razão da multiplicação dos déficits orçamentários no seu governo. O corte de imposto vai obrigar o Tesouro a emitir mais dívida, quase dois trilhões de dólares acima dos 21 trilhões já emitidos, abrindo o risco de  inflação e aumento de juros nos EUA, o que se refletirá no mundo inteiro aumentando o risco de devedores alavancados, públicos e privados, de governos e corporações porque todos esses fatores irão inevitavelmente provocar uma alta de juros em escala global.
A globalização financeira excessiva vem aumentando o número de fusões e aquisições de empresas e a consequente redução dos empregos e aumento da concentração de riqueza, fenômenos que farão multiplicar problemas sociais em muitos países, até nos ricos.
A eficiência micro, no nível das empresas, aumentando a produtividade, provoca sua contrapartida negativa na ineficiência macro, porque os desempregados resultantes dessas fusões passam a onerar os sistemas de amparo social e saúde dos Estados, que também perdem arrecadação, já que uma das razões das fusões é o planejamento tributário visando a reduzir o custo dos impostos para cada empresa fusionada, o que aumenta seus lucros em detrimento dos Estados.
A globalização financeira NÃO é um novidade tão recente. Ela existiu em dois ciclos precedentes. Antes da Grande Guerra de 1914 o mundo era completamente globalizado, ainda mais que hoje. Capitais se moviam sem nenhum tipo de controle, imigrantes choviam nos países emergentes sem necessidade de qualquer autorização prévia, muitos subiam nos navios para “ir à América” sem saber em que país chegariam, em certos momentos nem sequer passaporte era necessário, bastava pagar a passagem e entrar no navio.
Pelo mundo inteiro capitais britânicos criaram ferrovias, empresas de bondes, de energia elétrica, gás, portos, de tecidos, frigoríficos, não havia barreiras ou controles para entrada e saída de capitais, o mundo era livre para movimentação de mercadorias, capitais e pessoas.
Com a Grande Guerra esse ciclo foi interrompido e já a partir da década de 20 foram estabelecidos controles para capitais, mercadorias e pessoas.
Mas logo mais, a partir de meados da década de 20, a globalização voltou com toda força com investidores americanos comprando bônus de cidades alemãs, argentinas e brasileiras, sem controle dos governos centrais. A cidade de Jundiaí no Estado de São Paulo emitiu “obrigações” nos EUA diretamente, sem necessidade de autorização do governo central. Estados federativos e cidades brasileiras emitiram bônus na Inglaterra e nos EUA diretamente, houve nos EUA uma onda de fusões nunca vista antes, novos financistas globais surgiram, como o “Rei do Fósforo”, o sueco Ivar Kreuger, que requeria monopólio de fósforo em certos países e em troca fazia um grande empréstimo, era o grupo Fiat Lux Swedish Match. Nos EUA os irmãos Samuel e John Insull formaram um grupo de 300 companhias elétricas com andares de holdings até o infinito. Tudo isso gestou a crise da Bolsa de Outubro de 1929, excesso de financismo  lastreado em sacos de vento e papéis pintados que subiam todo dia.
Com a crise de 1929 acabou esse segundo ciclo de globalismo financeiro e surgiu pelo mundo a “economia autárquica” estatizante e controlada pelos governos centrais, com fechamento de importações e rígidos controles do fluxo de capitais. O Brasil praticou essa política de 1930 a 1990, 60 anos, com a CACEX controlando a importação e a FIRCE controlando o movimento de capitais (CACEX e FIRCE são dos anos 60, mas havia antes órgãos com a mesma função e com outros nomes).
Os ciclos de globalização financeira não são, portanto, fenômenos inevitáveis, da natureza, produtos do determinismo histórico. A História não é evolutiva, era e é feita de avanços e recuos, marchas e contramarchas; está aí o Reino Unido saindo da União Europeia.
São “projetos” do mercado financeiro e que não têm nenhum controle sobre suas consequências, que só o fim do ciclo pelo “estouro” de suas plataformas muda a relação de forças entre seus participantes. O que era global pode recuar para o local e o globalismo dar lugar ao nacionalismo, já aconteceu em ciclos anteriores. A crise dos “subprimes”, em 2008, foi uma prévia desses estouros de pirâmides financeiras. Hipotecas americanas eram empacotadas e transformadas em bônus, que foram vendidos a fundos asiáticos que não tinham noção do que estavam comprando. O banco patrocinador, Goldman Sachs passou irresponsavelmente a especular com esses títulos por ela lançados, apostando no default deles, sem se importar com o prejuízo dos aplicadores a quem ela vendeu os títulos, o mesmo tipo de aventureirismo praticado pouco antes da crise de 1919, o que prova que o mercado privado puro é na essência irresponsável e inconsequente, pouco ligando para as repercussões macro de suas ações.
Como não há um comando e um controle centralizado, o movimento de globalização vive no caos, cada um por si e contra todos e com isso cria todos os ingredientes para a próxima crise.
Fatores externos que podem romper a corrente da felicidade são acidentes geopolíticos, como um choque com a Coreia do Norte ou Irã, com consequente choque de petróleo, falência de alguma ou algumas grandes corporações, como foi a crise de 2008, movimentos cambiais inesperados de alguma grande economia, como a China, crise politica aguda nos EUA, com o impedimento do Presidente, não é importante a dimensão do fato e sim sua percepção pelos agentes econômicos, os pânicos financeiros são detonados por gatilhos iniciais pequenos.
É uma insanidade o Brasil se jogar sem cautela nos braços do globalismo financeiro por uma política econômica avassalada ao financismo, focada exclusivamente em provocar deflação e desemprego para agradar ao rentismo e um programa alucinado de privatizações cujos participantes serão investidores estrangeiros, como se isso fosse o total de uma política econômica, sem nenhum sentido nacional. Os países grandes que não fazem parte do sistema OECD (Nota deste blog: acho que a intenção era referir-se à OCDE, Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico), Rússia, China e Índia, seguem políticas de projeto nacional e não de puro engate no sistema financeiro anglo-americano, como o Brasil, único entre os grandes, vem fazendo de forma leviana e frívola, com uma equipe econômica gestada no estrangeiro e com os olhos voltados exclusivamente para fora, sem olhar para dentro do País e de suas necessidades.
O Brasil tem tamanho para ter um projeto nacional e não ser mero Estado coadjuvante da Bolsa de Nova York, trata-se do futuro do Pais e não apenas da cotação da Bolsa.  -  (Aqui).
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1. "O Brasil tem tamanho para ter um projeto nacional e não ser mero Estado coadjuvante da Bolsa de Nova York, trata-se do futuro do Pais e não apenas da cotação da Bolsa."
.Muito feliz o fecho do artigo. O que se está a ver hoje no Brasil é o resultado de um projeto de entrega do patrimônio nacional a forças externas, à frente os EUA. Em passado recente, os Estados Unidos, para reagir a grandes como a China no predomínio global, alteraram sua legislação interna, radicalizando-a. Tal radicalização se traduziu no seguinte: a partir da nova legislação, toda e qualquer empresa estrangeira que opere nos EUA ou CUJOS PAPÉIS de alguma forma possam ter transitado em território norte-americano (recebíveis, títulos, ações na bolsa de Nova York - caso da Petrobrás!), PASSARÁ A SUBMETER-SE À LEGISLAÇÃO AMERICANA! Daí os casos da Petrobrás e das propinas da FIFA (José Maria Marin, por exemplo, foi preso na Suíça e extraditado para os EUA, uma vez que suas 'transações' tiveram a ver com instituições financeiras norte-americanas). Quanto à Petrobrás, quem pode garantir que a investigação de desvios (sob a justificativa de defender acionistas norte-americanos...) não teria justificado a espionagem da sede da empresa no Brasil e outras instâncias públicas, oferecendo "subsídios" à política que culminou na usurpação de poder e domínio do Pré-Sal e arredores?
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2. Dica de leitura:


Bernie Sanders: é hora de nova rebeldia global

Às vésperas do Fórum de Davos, ex-candidato rebelde à presidência dos EUA propõe um movimento articulado para enfrentar, em todo o mundo, os poderosos, os bilionários e a desigualdade estrutural. 

Eis onde estamos como planeta em 2018: depois de todas as guerras, revoluções e grandes encontros  internacionais nos últimos 100 anos, vivemos em um mundo onde um pequeno punhado de indivíduos incrivelmente ricos exercem níveis desproporcionais de controle sobre a vida econômica e política da comunidade global.

Difícil de compreender, o fato é que as seis pessoas mais ricas da Terra agora possuem mais riqueza do que a metade mais empobrecidada população mundial — 3,7 bilhões de pessoas. Além disso, o top 1% tem agora mais dinheiro do que os 99% de baixo. Enquanto os bilionários exibem sua opulência, quase uma em cada sete pessoas luta para sobreviver com menos de US$ 1,25 [algo como R$ 4] por dia e – horrivelmente – cerca de 29 mil crianças morrem diariamente de causas totalmente evitáveis, como diarreia, malária e pneumonia.

Ao mesmo tempo, em todo o mundo, elites corruptas, oligarcas e monarquias anacrônicas gastam bilhões nas mais absurdas extravagâncias. O Sultão do Brunei possui cerca de 500 Rolls-Royces e vive em um dos maiores palácios do mundo, um prédio com 1.788 quartos, avaliado em US$ 350 milhões. No Oriente Médio, que possui cinco dos 10 monarcas mais ricos do mundo, a jovem realeza circula pelo jet set ao redor do mundo, enquanto a região sofre a maior taxa de desemprego entre os jovens no mundo e pelo menos 29 milhões de crianças vivem na pobreza, sem acesso a habitação digna, água potável ou alimentos nutritivos. Além disso, enquanto centenas de milhões de pessoas vivem em condições de vida indignas, os comerciantes de armas do mundo enriquecem cada vez mais, com os gastos governamentais de trilhões de dólares em armas.

Nos Estados Unidos, Jeff Bezos — fundador da Amazon, e atualmente a pessoa mais rica do mundo — tem um patrimônio líquido de mais de US$ 100 bilhões. Ele possui pelo menos quatro mansões que, em conjunto, valem várias dezenas de milhões de dólares. Como se isso não bastasse, está gastando US$ 42 milhões na construção de um relógio dentro de uma montanha no Texas, que supostamente funcionará por 10.000 anos. Mas, nos armazéns e escritórios da Amazon em todo o país, seus funcionários usualmente trabalham em jornadas longas e extenuantes e ganham salários tão baixos que precisam crucialmente do Medicaid, de cupons de alimentos e subsídios públicos para habitação, pagos pelos contribuintes dos EUA.

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