sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

EDITORA ABRIL: GUINADA EM PERSPECTIVA


As mudanças na Abril e na Veja

Por Luis Nassif

A substituição de Eurípides Alcântara por André Petry, na direção da revista Veja,  vem com dez anos de atraso. Na época, André era o único colunista que não adotara o estilo virulento implantado por Roberto Civita na revista. Suas colunas denotavam bom senso, sensibilidade para temas delicados, uma boa mescla de indignação com as injustiças e contra a corrupção.
Uma das maneiras encontradas para torpedeá-lo foi valer-se de uma colunista on-line da própria revista para ataques sobre ele. Comentava-se na época que a estratégia foi articulada pelo então redator-chefe Mário Sabino.
Petry foi exilado nos Estados Unidos, durante algum tempo correram rumores de tentativas de afastá-lo da Abril. Agora, ele está de volta em um momento particularmente delicado e com a missão impossível de resgatar a credibilidade da revista.
Veja gastou todo o seu estoque de credibilidade com o antijornalismo praticado nos últimos anos. Apostou integralmente em um público de ultradireita irracional.
Na pobreza editorial atual, durante algum tempo, no período de Paulo Nogueira Batista,  a revista Época apresentou-se como uma alternativa decente de jornalismo. Durou pouco. O novo estilo acabou sendo atropelado pela troca de direção e pela aposta na ultradireita.
Aproveitando a fragilidade financeira da Abril, a Globo colou a Época no estilo Veja, procurando capturar esse público. Com o escândalo de Carlinhos Cachoeira, Veja perdeu seu mais brilhante editor - o próprio bicheiro.
Ocorre que Veja ficou praticamente prisioneira dos tigres que alimentou nesses anos de jornalismo de ódio. Com a Época competindo nesse campo, qual a estratégia de Petry? Fazer jornalismo? Arrisca-se a perder seus leitores atuais sem tempo para recuperar o público mais esclarecido.
Na outra ponta, a Abril trouxe de volta Walter Longo.
No início dos anos 90, com a TVA esvaindo-se em sangue, Civita trouxe Longo para o serviço, devido à sua enorme capacidade de fabricar bons indicadores. Longo passou a agregar ao número de assinantes da TVA a audiência da MTV na Net, serviço real. Na época, a TVA não deveria ter mais do que 300 mil assinantes e as estatísticas no mercado publicitário falavam em um milhão.
A aventura da TVA terminou tragicamente.
A vinda de Longo, agora, aparentemente, prende-se à necessidade de melhorar os indicadores a serem apresentados ao mercado publicitário. (Fonte: aqui).

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A Abril, quero dizer, a Veja se defronta com desafios diversos: perda de leitores ao longo de sua trajetória, pressão da internet, "atraso intrínseco" (é semanal; desatualizada), redução drástica da circulação, perda dos anúncios do governo federal (consta que estaria tentando reaproximar-se do Planalto...).

Ex-leitor, fico a lembrar a velha e pujante Veja dirigida pelo legendário Mino Carta, e matuto: o tempo não para; nunca mais, nada será como antes.

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