sábado, 7 de abril de 2012
BANQUEIROS PRIVADOS VERSUS LÓGICA
O bla-bla-blá dos lobistas de sempre
Marco Aurélio Mello
Vejo no jornal impresso logo cedo (recuso-me a dar o nome) manchete que conta que, além do BB, a Caixa agora vai detonar os juros altos no país. Fico esperançoso. Quem sabe agora os bancos privados parem com essa ladainha de spread e inadimplência e reduzam seus lucros astronômicos para voltar à atividade fim: emprestar dinheiro. Porque hoje, todos sabemos, o que remunera os bancos é a ciranda financeira, que eles chamam pomposamente de arbitragem, ganhos de capital, hot chips no mercado de ações, mercado futuro e sei lá mais o quê...
Aí abro a página seguinte do mesmo jornal (que nojo!) e encontro um artigo (provavelmente escrito antes do anúncio do governo, para dar tempo de entrar na mesma edição) dizendo que as medidas não servem. Vou atrás de saber quem é o "analista". O de sempre, ex-economista-chefe da Federação dos Bancos. É evidente que ele ia falar contra, não é mesmo? Seus argumentos são implacáveis: medidas pontuais não resolvem, é preciso reformar o sistema bancário, tributário e coisa e tal. Sei...
Para parecer razoável, seu raciocínio ilude a classe média intelectualizada. Ele fala bonito, apresenta informações, confronta seu raciocínio com experiências em países estrangeiros. Um gênio! Só que ele se esquece que a ciência que ele professa não é exata, é humana. Economia não funciona para os "cabeças de planilha", como ensina o Luis Nassif.
Vamos ao contexto. Inflação em queda, consumo em alta, inadimplência em queda, poupança em alta. Índice de satisfação dos brasileiros: dos mais altos do mundo. Otimismo com a economia, ok, confiança na presidente da República, ok. Portanto, num cenário de expectativa de crescimento econômico, com inflação controlada e renda aumentando, é hora de pagar dívidas, poupar e se for comprar, comprar a crédito com juros baixos, certo?
Sendo assim, eu que não sei sequer o bê-a-bá do economês posso atestar que as medidas foram acertadas. Banco público existe para empurrar banco privado para as cordas. A ordem numa economia de mercado é competir e o Governo tem que usar todos os instrumentos necessários, inclusive subsídios, se este for o caso, para induzir políticas de renda, consumo, crédito e poupança. O resto é bla-bla-blá de lobista/anunciante, que os jornais e seus editores deveriam estar "carecas" de saber. (Fonte: aqui).
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Em todas as vertentes é assim: há sempre o 'especialista' a ser consultado, para corroborar a tese defendida pelo jornal (muitas vezes em editorial), isso quando não é o próprio 'especialista' o autor do artigo que pretende demonstrar a pertinência da tese que objetiva demolir a providência tomada pela instância da vez, desde que tal providência, obviamente, seja contrária aos interesses do segmento político/econômico que o jornal-órgão de imprensa representa. Há algum tempo, um desses 'especialistas' (no caso, também ghost-writer) deixou escapar ao público cópia de e-mail enviado a dirigente de um grande banco privado, com minuta de artigo que seria por ele assinado - não sem modesta nota, com dizeres mais ou menos assim: "Espero que goste, mas fique à vontade para promover as alterações devidas". Enfim, faz parte.
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