terça-feira, 3 de abril de 2012
DAWKINS PARA CRIANÇAS
Ciência faz Universo parecer mágico, diz biólogo britânico
Reinaldo José Lopes
Usar o clichê "recomendado para crianças dos oito aos 80 anos" deveria dar cadeia, certo? Pois ponham-me a ferros: é esse o milagre (apesar de o autor não acreditar em milagres) que "A Magia da Realidade", de Richard Dawkins, consegue operar.
O termo "criança" é chave porque, no livro, Dawkins realiza o difícil truque de começar do zero, explicando conceitos básicos do funcionamento do Universo e da vida para o público jovem, ao mesmo tempo em que não subestima a inteligência do leitor de nenhuma maneira.
Só para continuar no nível dos clichês, é à criança dentro de cada um dos leitores que Dawkins se dirige.
O zoólogo britânico, um dos maiores divulgadores da teoria da evolução e ateu convicto, quer recuperar a sensação de maravilhamento diante do cosmos que quase todo mundo tem quando é pequeno.
As perguntas que ele se propõe a responder são as que as crianças fazem. O que é o Sol? Por que existem noite e dia, inverno e verão? O que é um arco-íris?
Além de explicar cada um desses fenômenos (o que fez na prosa mais límpida e livre de jargões imaginável), o cientista tem um objetivo mais amplo. Como diz o título do livro, ele quer mostrar que o mundo é bem mais mágico do que a imaginação humana pode conceber.
Para isso, ele começa os capítulos com as explicações mitológicas tradicionais de cada fato da natureza, tiradas das mais diversas culturas, e passa ao que a ciência realmente sabe sobre aquilo.
As belas ilustrações de Dave McKean, que fazia as capas da série de quadrinhos "Sandman", ajudam um bocado a criar o clima de magia.
SÓ PARA SER CHATO
Se há um defeito nesta pequena joia de livro, trata-se do que poderíamos chamar, um tanto pedantemente, de falta de empatia antropológica -revelada pelo estratagema de contrapor os mitos "burros" do passado à explicação científica correta dos fenômenos naturais.
O ponto de vista de Dawkins e dos demais papas do neoateísmo é simples: mitos podem ser boas histórias, mas não acrescentam nada ao arsenal humano de explicações sobre o mundo.
Admitir que a mitologia tem algum valor nesse sentido, ou que ela pode, em algum nível, complementar o conhecimento científico seria absurdo.
Como ironizou certa vez o neurocientista Sam Harris, "seria o mesmo que dizer que a crença na possessão demoníaca nos ajuda a entender a esquizofrenia e outras doenças mentais".
Ok, Harris provavelmente está certo quanto a isso. Mas, ao se concentrar apenas na superfície pitoresca ou ridícula dos mitos, Dawkins esquece que eles podem funcionar como mapas do significado do mundo -e em especial das relações humanas- para uma cultura.
Para ficar no exemplo mais óbvio, a narrativa sobre Adão e Eva na Bíblia tem pouco a ver com maçãs e serpentes e muito a ver com questões como transgressão, maturidade e responsabilidade. É um tantinho míope não ver isso.
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Há algum tempo - após o lançamento de 'Deus' -, Dawkins teria aderido à tese do 'Design Inteligente', curiosa(!) ideia sobre a origem do homo sapiens (a entrevista em vídeo é localizável no Google). E em seu novo livro, o que dirá Dawkins?
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