Todos querem falar com Dilma, menos Obama, diz jornal britânico
Sob o título “Todos querem falar com a presidente Rousseff, menos Obama”, o jornal britânico "The Guardian" publicou um artigo que defende mais atenção para o Brasil por parte da principal potência do mundo, dias depois da visita de Dilma a Washington e a Boston.
Em um texto de sua versão online, o diário, um dos mais importantes da Europa, diz que os norte-americanos parecem “presos em outra era” para não admitirem que o vizinho ao sul é um exemplo.
No texto assinado pelo jornalista Jason Farago, baseado em Nova York, Dilma é chamada de “a segunda pessoa mais poderosa no Ocidente”. Enquanto ela chegava aos EUA no início da semana, Obama, o mais poderoso, “passava a maior parte do seu dia embrulhando ovos de Páscoa” na Casa Branca.
Os dois presidentes tiveram uma breve reunião e uma entrevista coletiva conjunta “durante a qual eles nem se olharam no olho”, diz o texto.
“Não apenas o presidente dos EUA desdenhou das arapucas de uma visita de Estado; ele mal deu a Dilma duas horas”, diz o artigo.
A visita de Obama ao Brasil no ano passado tampouco foi de Estado --para isso é necessário visitar as sedes dos três poderes e o cumprimento de uma série de protocolos. Diplomatas norte-americanos afirmaram que isso aconteceu com Dilma porque é ano eleitoral e o presidente é candidato à reeleição.
“Ela chegou acompanhada de meia dúzia de formadores de opinião, de professores a chefes de thinktanks [instituições que difundem conhecimentos e estratégias sobre assuntos importante], todos exaltando seu comando econômico e implorando a Washington que a levasse a sério. As diretoras de Harvard e do MIT (ambas mulheres) a convidaram para ir a Boston. Até a Câmara do Comércio se esforçou --certamente a primeira vez que o grupo de grandes e malvadas empresas se empolgou tanto ao conhecer uma ex-guerrilheira”, diz o texto. “Só Obama deu de ombros.”
Sem respeito
Nos bastidores, diplomatas brasileiros admitem há semanas que os EUA não se dedicaram à visita de Dilma como deveriam. Em sua visita ao Brasil, a presidente o convidou ao Palácio do Planalto, participou de um almoço com ele no Itamaraty, recebeu Obama e sua família no Palácio da Alvorada, antes de ele seguir para o Rio de Janeiro. "Pelo menos um jantar teria sido mais adequado", diz um deles em Brasília.De acordo com o texto do “Guardian”, “o Brasil é o país dos Bric que não é respeitado, mesmo em 2012”. Ao visitarem aos EUA, os líderes da Índia e da China são recebidos com grandes honrarias. A Rússia, por seus laços com a antiga União Soviética, sempre esteve sob o radar dos norte-americanos.
“O Brasil é o país que impõe a menor ameaça geopolítica significativa e oferece mais vantagens, como os CEOs [diretores-executivos] salivantes já sabem”, afirma a publicação.
“É assim que Washington funciona. Nas aulas de história, a primeira lição que os estudantes aprendem sobre a política externa norte-americana é a Doutrina Monroe – o princípio de 200 anos de que a América Latina é o nosso quintal. Fazemos isso e gostamos de dizer a todos que fiquem fora. A ideia de que um país latino-americano na verdade serve como modelo vai além da compreensão”, conclui o texto.
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O que ocorre é compreensível: por décadas a fio, os EUA contaram com a vassalagem brasileira. Submissão plena. Reverência nas alturas. Quem não se recorda de Celso Lafer tirando os sapatos ao entrar em território americano? O Brasil 'perdeu' o cartaz junto a Tio Sam a partir do instante em que recusou a ALCA. De repente o Brasil partiu para a expansão de suas parcerias comerciais mundo afora, além de ampliar suas transações com a América Latina. De repente os EUA, que representavam 28% dos negócios do Brasil, viram (não importa se sem redução no volume comercializado) sua participação cair para os míseros 12% de hoje. Subversão da Doutrina Monroe! Um verdadeiro acinte!
Em face de tais particularidades, é válido admitir que Tio Sam foi coerente. Afinal, por que oferecer loas e salamaleques a quem vem afrontando o Dono do Pedaço, digo, o Dono do Quintal?!
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(Convém, nada obstante, ponderar a análise procedida por Mauro Santayana, no post "Brasil EUA", abaixo).
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