segunda-feira, 19 de setembro de 2011

O CATADOR DE PREGOS


Um homem catava pregos no chão.
Sempre os encontrava deitados de comprido,
ou de lado,
ou de joelhos no chão.
Nunca de ponta.
Assim eles não furam mais - o homem pensava.
Eles não exercem mais a função de pregar.
São patrimônios inúteis da humanidade.
Ganharam o privilégio do abandono.
O homem passava o dia inteiro
nessa função de catar pregos enferrujados.
Acho que essa tarefa lhe dava algum estado.
Estado de pessoas que se enfeitam a trapos.
Catar coisas inúteis garante a soberania do Ser.
Garante a soberania de Ser mais do que Ter.

Manoel de Barros.

2 comentários:

Marilia disse...

Puxa que lindo... eu nunca poderia imaginar que alguém tão experiente no mundo lírico já tivesse tido a idéia de falar sobre a insignificância da vida usando "pregos" como fio condutor de um texto.... maravilha.

Dodó Macedo disse...

O cara é mesmo um baita poeta, querida amiga.