segunda-feira, 26 de setembro de 2011
CAEM OS MUROS
Por Ricardo Semler
Susto depois de susto. Assim tem sido minha rápida temporada de palestras na Europa e na África nestes dias. Tive colóquio com o Kofi Anan, entrevista para a imprensa com o econo-pessimista Nouriel Roubini e ainda encontro de meia hora com o Al Gore. Parte disso foi parar no YouTube, para quem tem tempo para essas coisas.
Cada um está apavorado com algo diferente - muitos muros estão caindo. Gore está convencido de que a Amazônia virará deserto em poucas décadas e o Chris Anderson (dono da revista "Wired" e profeta da alta tecnologia) me confessou que quer banir tablets da sala de aula.
A Palestina quer ser país, e tem parte da sua população morando numa penitenciária gigante a céu aberto. Seus muros, dos quatro lados de Gaza, são de vergonha e, por que não dizer, lamentação.
Roubini fala de revoltas sociais crescentes, como Dilma o fez na ONU. Há dúvidas se este tal de Brics sobrevive - muitos já cantam uma desintegração parcial de outro muro (muralha) - o da China.
Nem os EUA nem a Europa têm mais dinheiro para salvar os outros, quiçá eles mesmos.
Não dá tempo para evitar as colisões socioeconômicas de um mundo que comemorou a queda do muro comunista para, apenas 20 anos depois, ver ruir o muro do capitalismo puro.
Com isso em mente, cabe fazer um zoom sobre os muros da escola. Está aí, claramente, a origem e a solução desses problemas. Uma escola antiquada, sequestrada pela obstinação do fazer de conta, é fatal.
A escola como lugar onde os pais depositam seus filhos, e suas vãs esperanças, não tem futuro. Ruirá, porque seus muros são feitos do mesmo material que o de Berlim, de Gaza ou de Wall Street. Como comportas, terão que ser abertas para que as muitas águas façam uma pororoca de modernidade.
O muro estanque da escola já está para ser rompido pela fluidez da web. Não há cartilha que resista ao mar profundo da internet. O parco material enfadonho de hoje é reduzido à decoreba. Mesmo quando os métodos são atualizados, e colocados na web.
Como o mundo financeiro, Gaza ou as revoltas árabes, todos os muros caem de um dia para o outro. Muitos estão a ruir, e o estrondo começa a ser audível.
Continuar a procurar melhorias marginais na escola, a que gerou os milhares de líderes desequilibrados que ergueram tantos muros vergonhosos, é incorrer em erros que os pedreiros sempre evitaram.
Só fica de pé o muro que tem uma fundação verdadeira. Fazer de conta que se ensina, que se aprende, e que nós, pais e sociedade, estamos satisfeitos, só remenda com cimento-cola um muro que deveria ter caído há muito tempo. Olho nos muros, gente, lá vem tijolo.
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