O site de denúncias Wikileaks voltou a ser objeto de atenção da imprensa internacional ao publicar mais de 90 mil documentos contendo registros secretos de incidentes e relatórios de militares americanos sobre a guerra no Afeganistão.
Este é o mais recente em uma longa lista de "vazamentos" (leaks, em inglês) divulgados por meio do site, que se especializa em disponibilizar material confidencial de governos e organizações internacionais e diz já ter divulgado mais de um milhão de documentos.
Em abril de 2010, por exemplo, o site publicou um vídeo mostrando um helicóptero Apache americano matando pelo menos 12 pessoas - entre elas, dois jornalistas da agência de notícias Reuters - durante um ataque em Bagdá em 2007.
Em 2008, durante as eleições americanas, o Wikileaks divulgou imagens da caixa de e-mails, de fotos e da lista de endereços da candidata à vice-presidência dos Estados Unidos, Sarah Palin.
Outro documento polêmico disponibilizado pelo site foi uma cópia de um guia detalhando o tipo de tratamento dado a prisioneiros do centro de detenções americano na Baía de Guantánamo, em Cuba.
Disputas Legais
O Wikileaks provocou controvérsias quando apareceu na internet, em dezembro de 2006, e ainda divide opiniões: para uns, é uma ameaça, para outros, representa o futuro do jornalismo investigativo.
Em março deste ano, o diretor do site, o australiano Julian Assange, publicou um documento supostamente emitido pelo serviço de inteligência americano, declarando que o Wikileaks representava uma "ameaça às Forças Armadas dos Estados Unidos".
Mais tarde, o governo americano confirmou à BBC que os documentos eram verdadeiros.
Qualquer um pode oferecer material ao site de forma anônima, mas uma equipe de revisores - voluntários da grande imprensa, jornalistas e funcionários do site - decide o que é publicado.
"Usamos técnicas avançadas de criptografia e técnicas legais para proteger nossas fontes", disse Assange à BBC em fevereiro.
O site diz que aceita "material confidencial, censurado ou restrito que tenha significância política, diplomática ou ética", mas não recebe "rumores, opiniões e outros tipos de reportagens em primeira mão ou material que já está disponível publicamente".
"Nos especializamos em permitir a delatores e jornalistas censurados que disponibilizem seu material ao público", disse Assange.
O Wikileaks é administrado por uma organização conhecida como Sunshine Press e diz ser "financiado por campanhas pelos direitos humanos, jornalistas investigativos, tecnólogos e o público em geral".
"Nos especializamos em permitir a delatores e jornalistas censurados que disponibilizem seu material ao público".
O site diz ter driblado mais de "cem ataques legais" (processos legais com o objetivo de suspender suas operações) desde seu surgimento.
Em 2008, por exemplo, o banco suíço Julius Baer conseguiu que um tribunal bloqueasse o site após a publicação de centenas de documentos sobre as atividades internacionais do banco.
Entretanto, vários "espelhos" do site - hospedados em diferentes servidores situados em várias partes do mundo - continuaram a operar.
A ordem do tribunal acabou sendo revogada.
Futuro
Segundo o Wikileaks, seu sucesso em batalhas jurídicas se deve ao que o site chama de "hospedagem à prova de balas".
Ele é hospedado principalmente pelo provedor sueco PeRiQuito (PRQ), que ficou famoso por hospedar o site ilegal de trocas de arquivos de música The Pirate Bay.
"(O Wikileaks) é legal na Suécia, nós vamos hospedá-lo e mantê-lo funcionando quaisquer que sejam as pressões", diz o provedor.
O site também é hospedado em outros países, incluindo a Bélgica.
"Para proteger a segurança de nossas fontes, tivemos de espalhar nossos ativos, criptografar tudo e transferir telecomunicações e pessoal para outras partes do mundo para ativar leis de proteção em diferentes jurisdições nacionais", disse Assange à BBC em fevereiro.
"Ficamos bons nisso e nunca perdemos um caso, ou fonte, mas não podemos esperar que todos façam o esforço extraordinário que fazemos".
Apesar de sua fama mundial, o site enfrentou problemas financeiros. Em fevereiro, suspendeu suas operações por não poder arcar com os custos de suas operações.
Segundo Assange, doações de indivíduos e organizações salvaram o site.
Ele disse à BBC que, recentemente, o Wikileaks vem crescendo enormemente, a ponto de não poder dar vazão a todo o material que recebe.
Como resultado, o site está se reestruturando para estabelecer vários núcleos independentes pelo mundo e agir como um intermediário entre fontes e jornais, explicou Assange.
"Nós cuidamos da fonte e agimos como um intermediário neutro e também cuidamos da publicação do material enquanto o jornalista com quem nos comunicamos faz a verificação".
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