Portal Luis Nassif.
Desconfio que vivemos o tempo da “humanofobia”. A gente se estranha, se evita e, pior, não nos toleramos. Simplesmente por sermos incompetentes para nos reconhecermos no outro. O reconhecimento, a aceitação e o acolhimento do outro incomoda profundamente os nossos narcisos. Narcisos só se identificam com imagens especulares.
Então... Seria engraçado se não fosse triste, mas é realmente incrível!
O gordo discrimina o velho. Discrimina, mas chama de "idoso", que “chamar de velho nos tempos atuais não "pega bem". O idoso acha que as “bichinhas”, ou melhor, os homossexuais são um horror, sinal do fim dos tempos. Estes por sua vez acham os “hetero” qualquer coisa limitada e de gosto duvidoso. Heterossexuais, que ainda se creem maioria, do alto de sua hegemonia discriminam qualquer outra forma de amor e tesão. Também não gostam de preto, embora os chamem, “respeitosamente” de afro descendentes. Já são informados o suficiente prá saberem que raça não tem a ver com cor de pele. Por isto, incluem, entre os afro descendentes, também os brancos que sejam pobres. Negros, por sua vez, fazem questão de declarar em camisetas e outras mídias que são “cem por cento negros”.
Alguns acham que as louras são burras “de doer”. Ah! E os índios preguiçosos, os judeus pouco confiáveis. Louras, oxigenadas ou não, detestam pobres e estes, desconfiam dos ricos ou dos quase ricos. Os quase ricos, também chamados de "classe média”, são seres atavicamente rancorosos. Torcem o nariz para os trabalhadores mais humildes sob a alegação de que "falta-lhes o glamour". Mas também provam do próprio veneno. Pelo mesmo motivo, são também discriminados por aqueles que nasceram em berço de ouro.
Intelectuais abominam quem não tenha lido pelo menos um clássico simplesinho como Ulisses de Joyce (no original de preferência). Nutrem um secreto desprezo por qualquer pessoa inculta, ainda que bela (exceção feita apenas à língua portuguesa: esta sim, pode ser “inculta e bela”. Mas esta não vale, a língua é viva mas não é pessoa, não é mesmo?) Já os iletrados, mas endinheirados acham que templo mesmo são os shoppings e não gostam muito de pessoas religiosas... e blá, blá, blá...
Este círculo vicioso - e viciante - vai dando voltas e mais voltas sobre si mesmo até se fechar novamente nos gordos. Destes, o mundo todo fala mal.
E assim caminha a humanidade, amalgamada na mediocridade da burrice que nos une a todos. Porque afinal, a burrice, esta sim, é um "valor universal”.
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Acima, 'A Mulher e o Espelho', de Picasso.
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Acima, 'A Mulher e o Espelho', de Picasso.
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