segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

SOLNIK CHAFURDA NO VESPEIRO

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A propósito de tantos pedidos de anistia formulados por notórios golpistas, de repente convertidos em exemplares e comoventes cidadãos, nada mais oportuno do que o texto afiado do jornalista Alex Solnik, publicado no site Brasil 247. Enquanto isso, os facínoras estão a cada dia mais bondosos, verdadeiros cordeiros.
 
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ELES AINDA ESTÃO AQUI
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Ex-chefe do DOI-CODI, ainda vivo, virou marechal


Por Alex Solnik

O filme de Walter Salles baseado no livro homônimo de Marcelo Rubens Paiva é o acontecimento do ano, por ser não somente um feito artístico, mas um fato político que traz de novo ao debate público as consequências nefastas da impunidade de golpistas e torturadores.

   Dos cinco acusados pelo assassinato e ocultação do cadáver do pai de Marcelo Rubens Paiva, após investigações da Comissão da Verdade, apenas dois continuam vivos.

   O então major José Antônio Nogueira Belham era o chefe do DOI-CODI do Rio de Janeiro, em 1971, local e data do assassinato do deputado Rubens Paiva. Seu passado infame não impediu suas promoções no Exército. Mais de cinquenta anos depois e 26 medalhas, seu soldo é equivalente ao de marechal - R$36 mil por mês.

   O outro torturador sobrevivente, apontado por testemunhas no envolvimento da ocultação do cadáver do deputado, quando era sargento, foi promovido a major, com soldo de R$23 mil mensais.

O terceiro torturador, Antônio Fernando Hughes, recebeu do Alto Comando do Exército a Medalha do Pacificador, cinco meses depois do assassinato do deputado, tal como os demais assassinos de presos políticos sob custódia do estado.

    A impunidade de golpistas e torturadores ao longo da nossa história, deu carta branca para o então deputado Jair Bolsonaro homenagear, ao vivo, em rede nacional de TV, o maior torturador de todos, o infame coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, em 2016, mais de 30 anos depois do fim da ditadura.

   Ele tinha certeza que não seria punido pela infâmia, e não foi.

   Por isso, seguiu em frente.   

   Por isso, o projeto prioritário de seu mandato foi preparar o Brasil para uma nova ditadura militar. Não há ditadura civil. Se os golpistas anteriores não foram punidos, por que ele seria? Se os anteriores foram promovidos e premiados, por que seus militares também não seriam?

    Também por isso, Bolsonaro se sente à vontade para exigir que a história se repita.   

    Para seu azar, tudo indica que, desta vez, a história será outra.

   Embora os criminosos do passado ainda estejam aqui. 

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