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“Os dois foram mal em relação à expectativa que havia”, avalia o jornalista sobre o primeiro debate entre presidenciáveis
Na avaliação do jornalista Breno Altman, os dois polos do primeiro debate entre presidenciáveis, o ex-presidente Lula e o candidato à reeleição, Jair Bolsonaro, “foram mal em relação à expectativa que havia”.
“Como os debates fornecem tempos e oportunidades iguais para candidatos com performances diferentes, obviamente quem está muito abaixo nas pesquisas tende a ter um ganho em potencial ao sair da clandestinidade”, disse Altman em participação no Bom Dia 247 na manhã desta segunda-feira (29).
“Sobre os dois polos: ambos erraram ao atuar de forma desmedida em função do seu cálculo. O Lula foi cauteloso demais e o Bolsonaro, agressivo demais”, observou o jornalista. “O Lula puxou o freio, fez um jogo para zero a zero. Mas puxou o freio demais, gerou uma impressão de que estava demasiadamente recuado”, disse.
“E o Bolsonaro sabia que tinha que acelerar, mas não se conteve. Não só acelerou como apelou para a misoginia de uma maneira escrachada em um debate no qual havia um personagem, Simone Tebet, trabalhando com relativa competência no debate dos direitos das mulheres e da representação das mulheres, sempre em parceria com a Soraya do União Brasil e de alguns dos jornalistas”, acrescentou. - (Aqui).
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Comentário Deste Blog
Horas após o debate, no início da madrugada, dissemos que Lula tergiversou ao abordar o tema corrupção na Petrobrás, o que ora reafirmamos. Deveria ter dito, por exemplo, que para assegurar a tal governabilidade foi compelido a manter no cargo diretores (e um gerente internacional, o famoso Barusco) nomeados no governo FHC, muitos deles, a exemplo do citado Barusco, implicados até o pescoço em corrupção ('FHC foi alertado de escândalo na Petrobrás em 1996' - Aqui), muito embora as consultas feitas pelo PT nada tivessem revelado (dados da Casa Civil do governo FHC). Ao menos foram essas as análises divulgadas posteriormente. Mas, claro, discorrer sobre isso a essas alturas iria parecer mais um emaranhado de argumentos pretensamente verdadeiros.
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Mas, há quem defenda raciocínio diverso.
Por que o candidato "foi cauteloso demais"?
Convém conferir a avaliação de Daniel Quoist, mestre em jornalismo e ativista dos direitos humanos:
Lula venceu o debate da Band de cabo a rabo. O resto é miopia política
"Lula não tinha como objetivo ganhar o debate, era se manter na dianteira da corrida à Presidência e fazer acenos aos candidatos nanicos".
A narrativa dos órfãos eternos da 3ª. Via, aí incluída toda a mídia tradicional, dá conta que Lula se deu mal no debate da Band, que Bolsonaro se deu ainda pior que Lula e que Simone Tebet lacrou Bolsonaro e, por isso, ganhou o debate.
Mas não é bem assim.
Lula ganhou o debate do primeiro ao último bloco.
Enumero algumas razões para robustecer essa afirmativa:
1. Lula não tinha como objetivo ganhar o debate, era se manter na dianteira da corrida à Presidência e fazer acenos aos candidatos nanicos (Soraya Thronicke, Simone Tebet e Felipe D´Ávila) e criar pontes com o PDT de Ciro Gomes. Foi bem sucedido nisso. Não desferiu nenhum ataque a esses e foi comedido nos ataques ao Bolsonaro, o único que poderia lhe ameaçar no dia 2 de outubro.
2. Lula empoderou os demais ao decidir não ser o principal algoz do Inominável Bobo da Corte. E agindo assim desde o primeiro bloco viu Simone Tebet crescer logo de cara, observou o desequilíbrio de Ciro Gomes ao desferir mais ataques a Bolsonaro que a ele, contrariando inclusive as muitas expectativas em contrário e também vimos até mesmo a Soraya Thronicke colocar as garras de fora pronta pra virar onça se sentir atacada bem na tradição pantaneira da matriarca Maria Marruá.
3. Lula foi estrategista ao esgrimir com Bolsonaro. Não mostrou o arsenal de torpedos, mísseis e bombas nucleares de que dispõe para distribuir em futuros embates com o Inominável Bobo da Corte. Ao ocultar no debate temas mais que espinhosos, letais mesmo, deixou de bandeja o protagonismo no combate ao Bobo da Corte aos demais que, ao perceberem isso, se agigantaram alguns graus acima do esperado. Os temas são muitos e variados: as rachadinhas do Jair, do Eduardo, do Carlos e do Flávio, as rachadinhas de mulheres do Capitão, o envolvimento deste com as milícias cariocas e notadamente com o finado chefe miliciano Adriano da Nóbrega, o cheque de R$ 89.000,00 na conta da primeira dama vindo das arcas do notório Fabrício Queiróz, as barras de ouro dos pastores colocados no Ministério da Educação por iniciativa do Capitão, as fortes suspeitas de envolvimento no caso Marielle/Anderson, os relatórios do COAF, a loja de chocolates e a mansão de R$ 6.000.000,00 do enrolado primogênito Flávio, o gabinete do ódio chefiado pelo filho Carlos, as fortes suspeitas no campo das vacinas (Covaxin, Pfizer), a apologia da Cloroquina, o negacionismo da eficácia das vacinas... e todo o mundaréu de coisas do Centrão, do Orçamento Secreto, das obras superfaturadas e inexistentes, os shows dos sertanejos a preço de ouro pagos por prefeituras esquálidas, paupérrimas que pululam no Brasil profundo desde que as caravelas aqui aportaram em 1500.
4. Lula deu um elegante “passa moleque” no Ciro Gomes: deixou-o falar e falar, acusá-lo disso e daquilo, ouviu com tédio e enfado as diatribes do cearense e, muito longe de passar recibo, tratou-o como menino birrento, mal educado, destemperado e leviano. Mas disse que num segundo turno espera atrair para sua coligação o PDT e de quebra, o próprio garoto birrento. Foram cenas risíveis. Um se esgoela na velha cantilena verbal e o alvo das diatribes responde com ar blasé do tipo “o que sai de sua boca é bem diferente do que sai do seu coração mole”. Ciro ficou visivelmente desconcertado, até constrangido com um longo sorriso pra lá de amarelo, porque não esperava aquilo. Lula o ignorou e a seus discursos com ataques traiçoeiros. E vemos agora, inteiramente inúteis. Mas lançou pontes para apoio num segundo estágio das eleições.
5. Lula mirou o eleitorado indeciso e o eleitorado de todos os concorrentes ao contrariar sua fama de bom debatedor que, nas palavras do Caetano “Lula me arrebatou”, mostrou-se humilde, sem afobação nem pressa, até o tom da voz ficou mais soturno e menos incisiva. Para os que ainda não o tinham como candidato a um terceiro mandato presidencial, mostrou-se calmo, com uma aura de sabedoria conquistada com a idade (sim, era de longe o mais velho dentre os seis candidatos ali debatendo), impôs-se como uma fonte de autoridade moral pairando acima de todos eles.
6. Lula mostrou como se deve tratar uma mulher, seja ela candidata ou não. Levantou a bola em suas intervenções direcionadas a Simone e a Soraya e ainda fez uma defesa firme à jornalista neoliberal Vera Magalhães agredida de forma misógina e torpe pelo Bobo da Corte e como vimos também, pelo Bobo do Debate. Ganhou certamente muitos votos femininos.
7. Lula ouviu calado as falas desordenadas do Felipe D´Ávila, um autêntico representante do Agro que repetia o discurso de uma nota só: Agro é tech, é pop, é tudo. O candidato, muito provinciano, ainda rendeu loas ao Zema de Minas Gerais, fez escancaradas dobradinhas com Ciro Gomes, direcionou suas lanças ao PT e já disse que num segundo turno sua turma – de menos de 1% das intenções de voto – deverão cerrar fileiras com o Bobo da Corte. Coube a Soraya Thronicke colocá-lo em seu lugar de insignificância. Lula assistiu com um sorriso discreto.
8. Lula não precisou atacar ninguém, nem mesmo o Bolsonaro que a essas alturas já estava bem desequilibrado, rosto crispado, olhar perdido, sentimento de “o que foi que vim fazer aqui?”. Eficientemente Lula lançou algumas pontes para os “bolsominions arrependidos”. Isto porque sabiamente não colocou contra a parede, não encurralou na esquina numa noite escura o seu Mito de Pés de Barro. Restará ao Mito se contentar com os de sua bolha-raiz, isto é, os truculentos, órfãos da ditadura de 1964, os meliantes-raiz, os milicianos-raiz, os misóginos-raiz, os milicos de pijamas. Se por um lado não deu a conhecer seu arsenal ao segundo colocado nas intenções de voto, pode ver quão pobre e indigente é o arsenal argumentativo-eleitoral amealhado contra ele pelas hostes do reacionarismo, da retórica do ódio e do atraso.
9. Lula ofereceu uma última chance a uma 3a. via natimorta, deixando crescer Simone Tebet e alimentando a narrativa da mídia corporativa de que “agora vai”. Lula sabe muito bem que a essa altura da corrida presidencial uma 3a. via irá subtrair votos apenas do segundo colocado, daqueles que apoiam o famigerado Bobo da Corte apenas por conveniência e por um irracional antipetismo herdado das eleições de 2018.
Lula venceu o debate da Band de cabo a rabo. - (Aqui).