domingo, 12 de dezembro de 2021

ANCINE BOICOTA FILME DE LÁZARO RAMOS

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"...a história, embora fictícia e ambientada nos dias atuais, não é tão distante da realidade. No século XIX, os Estados Unidos ajudaram a criar a República da Libéria e mandaram para lá ex-escravos"


Por Manuela Dorea

.O filme Medida Provisória, primeiro longa-metragem dirigido por Lázaro Ramos, será exibido no Brasil pela primeira vez no próximo dia 15, no Festival do Rio. A exibição, no entanto, não significa que o título entrará em cartaz no país. Em nota postada em uma rede social nesta segunda-feira, os produtores informam que o filme está com seu lançamento no circuito comercial travado, aguardando a liberação da Agência Nacional do Cinema (Ancine). E cobram uma definição à agência: “Medida Provisória segue impossibilitado de ter seu lançamento no Brasil apesar dos inúmeros recursos submetidos por suas produtoras e coprodutoras à Agência Nacional do Cinema (ANCINE) para que ele seja liberado em circuito comercial.” 

Segundo o comunicado publicado pela assessoria do filme, questões burocráticas não foram resolvidas, embora os produtores estejam submetendo pedidos desde novembro de 2020. “Ao longo de mais de um ano foram trocados com a agência dezenas de e-mails, checados o recebimento e andamento de protocolos, bem como foram realizadas consultas processuais”, diz um trecho da nota publicada em uma rede social, afirmando que a agência não respondeu a nenhum desses questionamentos. O filme, portanto, segue sem data de lançamento oficial no país.

Desde sua finalização, o filme – que apresenta uma visão distópica* dos problemas raciais do país – vem acumulando críticas positivas e prêmios em festivais internacionais. Baseado em uma peça teatral do começo dos anos 2000, escrita por Aldri Anunciação, ela fala de um governo que, alegando o suposto intuito de “reparar” as injustiças da escravidão, determina que todos os negros sejam despachados para a África de seus antepassados. Vale lembrar que a história, embora fictícia e ambientada nos dias atuais, não é tão distante da realidade. No século XIX, os Estados Unidos ajudaram a criar a República da Libéria e mandaram para lá ex-escravos. (* = 'visão distópica' = que considera um ambiente opressivo, tenso, anormal).

Em diversos momentos, a trama dialoga com o Brasil do presente, lançando farpas contra os políticos e a intolerância – o que muitos poderiam interpretar como críticas ao governo Jair Bolsonaro, ao qual a Ancine é vinculada. Em entrevista a VEJA, Lázaro Ramos nega essa intenção. Ele afirma que o filme começou a ser escrito em 2013, embora se mantenha atual diante dos acontecimentos do Brasil de hoje. “O roteiro começou a ser feito em 2013, e mudamos muito pouco. Tem o talento dos roteiristas de farejar o que poderia acontecer no futuro caso continuássemos com determinados comportamentos. A fala de que mais gosto está no roteiro desde 2015. O personagem do Seu Jorge diz: ‘Como é que a gente não percebeu que isso ia acontecer?’”, disse Lázaro Ramos.

Além de Seu Jorge, o elenco conta ainda com Taís Araújo, Alfred Enoch, Adriana Esteves, Renata Sorrah, Mariana Ximenes e Emicida.  -  (Fonte: Boletim Carta Maior - Aqui).

*Publicado originalmente no Blog da Cidadania

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