domingo, 21 de novembro de 2021

HORA DE LOUVAR O JORNALISMO


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Eu não exercitava a retórica dos eventos quando disse, ao receber o Prêmio Comunique-se de Jornalismo - Categoria Colunista de Opinião, no dia 16/11, que compartilhava o troféu com toda a equipe do portal e da TV 247, e com toda a Comunidade 247.  

E o mesmo vale para a minha afirmação, naquela noite, de que a minha escolha, pelo voto popular, representava uma afirmação e um reconhecimento das mídias digitais independentes e progressistas, um rompimento da segregação a que fomos relegados, inclusive nas premiações, sob o argumento falacioso de que jornalismo profissional é apenas aquele praticado pelas grandes corporações midiáticas. 

Aproveito esta newsletter para falar um pouco disso e de outros aspectos dessa premiação que deixou tanta gente exultante, por compreender o seu significado.

Quando digo que o prêmio é de toda a equipe do portal e da TV 247, estou reconhecendo que foi a existência destes dois espaços digitais que me propiciou exercitar com a mais absoluta liberdade o ofício de analisar a política nacional, ao qual me dedico há tantos anos. E quando o faço, seja na TV ou em texto no portal, é o esforço de inúmeras pessoas que me permite chegar ao produto final.

Os veículos 247 são uma iniciativa pioneira, arrojada e ousada de Leonardo Attuch. Mas ele mesmo reconhece que foi a agregação das mais diferentes pessoas, na linha do pluralismo, que o fez avançar. E tais pessoas não se limitam ao staff jornalístico, que começa com a Gisele, enérgica gestora e suave âncora, passando pelo Mauro, com sua larga vivência no jornalismo, por meus companheiros de vídeo, como PML, Alex Solnik, Rodrigo Vianna, Dafne Ashton, Dhayane Santos, tantos outros. Nem devia ter começado a citar nomes. O todo desta aventura chamada 247 envolve pessoas a ela dedicadas nas mais diferentes áreas, como a edição, a informática, o design e tantas outras. Ignoro algumas mas é com sinceridade que compartilho o prêmio com todos.

Outra coisa eu não poderia dizer sobre a comunidade 247, senão que ela garantiu a premiação com uma mobilização aguerrida, ultrapassando minha própria disposição de lutar por uma boa votação. Achava meio ridículo pedir "votem em mim", mas vocês escreviam e a Dafne lia as mensagens diariamente no Bom Dia. A Gisele fazia o mesmo no Boa Noite. A Socorro - Maria do Socorro Pereira dos Santos, hoje vivendo em São Paulo - foi o símbolo maior deste engajamento. Sou grata a cada um. Via nas redes sociais que lá também vocês pediam votos. Por isso também sinceramente compartilho o prêmio com toda a comunidade. Vocês festejaram mais que eu!

Agora ao significado para a mídia progressista independente. Fomos premiados eu e Luis Nassif, do GGN, exatamente dois jornalistas que foram expelidos da grande mídia, quando começou o processo de partidarização da imprensa. E isso levou, é claro, ao atropelo das práticas e dos mandamentos mais sagrados do jornalismo, e disso discordamos. Discordamos da apuração enviesada para garantir matérias contra figuras indesejadas pelos veículos. Falo de mim e de Nassif mas este processo alcançou um grande número de jornalistas, entre os quais destaco o Franklin Martins. A grande maioria foi atuar nas mídias independentes então nascentes na Internet. Foram chamados de "blogueiros sujos", "blogueiros petistas" e coisas assim.

Quando Temer assumiu, depois de golpear Dilma, sua primeira medida foi a intervenção na EBC. Eu, Nassif, PML e outros estávamos lá como jornalistas contratados da TV Brasil. Meu mandato como presidente havia terminado há cinco anos e eu havia voltado como profissional de vídeo. Fomos todos dispensados com rompimento unilateral dos contratos, sem pagamento de multas. Em seguida, Temer mandou cortar os pequenos contratos que órgãos federais tinham com blogs e sites progressistas, em valores infinitamente menores que as verbas distribuídas aos grandes veículos, que não foram tocadas.

Apesar disso, quase todos conseguiram sobreviver, inclusive o 247. E sobreviveram graças, principalmente, à colaboração financeira dos leitores e telenautas. Alguns, infelizmente, tiveram que fechar, como foi o caso do Nocaute de Fernando Morais, que faz muita falta.

Neste período que vai do golpe aos nossos dias, as "narrativas" da mídia progressista independente se confirmaram como verdades e como fatos. Sustentamos que o impeachment foi um golpe e hoje até o Temer admite isso. 

Denunciamos a Lava Jato o tempo todo como uma conspiração judicial de natureza política, destinada a desmoralizar determinados atores políticos, a debilitar a democracia, a golpear as empresas nacionais de infraestrutura e a Petrobrás e, principalmente, a demonizar a esquerda, o PT e Lula, até conseguir tirá-lo da disputa presidencial de 2018. 

Sustentamos que Lula foi condenado em um processo viciado, por um juiz parcial, tornando-se um preso político. Essa leitura hoje está assentada para o mundo.

Por fim, temos sustentado que o governo de Bolsonaro é fascista, entreguista, negacionista e genocida, e os fatos vêm atestando tudo isso.

Nossa sobrevivência, apesar das dificuldades de toda ordem, e nossa coerência mesmo quando foi preciso remar contra a corrente, explicam o reconhecimento a profissionais como eu e Nassif, em nome de todos que, diante da perseguição, dos expurgos, da marginalização, passaram a combater nos blogs, sites e portais independentes, e mais recentemente nas TVs Web, como a TV 247.

Acredito que, relativamente a mim, existe uma empatia para com as tribulações que tenho vivido. Estrela do jornal O Globo e da Globonews, senti o calor da frigideira a partir de 2005. Quem não se alinhou à avalanche antipetista passou a ser chamado de petista, e a ter com isso sua reputação profissional questionada. Não escapei disso, sofri bullying de colegas e na Internet. Não fui demitida, nem acho que o seria, pela importância que eu havia adquirido, mas quando veio o convite de Lula para ser a primeira presidente da EBC, e liderar o esforço pela aprovação da lei de criação, não hesitei.

Na EBC, fui espancada pela mídia durante 4 anos. Deixei uma obra avançada de implantação, que infelizmente não progrediu tanto nas gestões seguintes. Deixei a EBC e voltei à mídia, mas o estigma de esquerdista continuava me perseguindo. Depois de experiências frustrantes no Correio Braziliense e na RedeTV, vim para o 247 em 2014.

Em 2018 saí do 247 para apostar na ressurreição do Jornal do Brasil impresso, por apreço ao papel que aquele jornal jogou na modernização da imprensa e na construção da democracia. O projeto faliu, voltei ao 247.

E assim tenho estado com vocês nestes anos difíceis, vendo a roda girar para trás, mas empurrando sempre o carro da História, cada qual com a ferramenta que tem.
Assim seguiremos. Mais uma vez, obrigada a todos, todas, todo mundo que votou, pediu voto, torceu e ficou feliz com uma premiação que não me envaidece pessoalmente, mas me gratifica exatamente por saber que nosso combate tem valido a pena."




(De Tereza Cruvinel, jornalista agraciada com o Prêmio Comunique-se de Jornalismo - Categoria Colunista de Opinião 2021.

Millôr Fernandes costumava repetir: "Jornalismo é oposição, o resto é armazém de secos e molhados". Nada mais coerente com tal adágio do que o ofício exercitado pela competente e laureada jornalista Tereza Cruvinel: colunismo de opinião.

Em Tempo: Nesse contexto se insere o jornalista Luis Nassif, igualmente louvado com premiação pelo Comunique-se. por sua vez na área de Economia. Nassif, aliás, já não é 'estreante': foi premiado anteriormente.

Nossas congratulações aos dois jornalistas).

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