quinta-feira, 31 de julho de 2014

NA FLIP 2014, JAGUAR LOUVA MILLÔR E RELEMBRA OS TEMPOS D'O PASQUIM


"Abrindo as atividades da da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty), dois discípulos e um amigo de Millôr Fernandes se reuniram para relembrar histórias sobre o homenageado do evento neste ano: os Cassetas Reinaldo e Hubert, que iniciaram suas carreiras com colaborações para o jornal satírico "O Pasquim", e o cartunista Jaguar, um dos criadores da publicação em que Millôr trabalhou por vários anos.

Jaguar não hesitou em contar histórias "cabeludas" do cartunista. Comentando a inimizade entre Millôr e Tarso de Castro, que era editor do "Pasquim", Jaguar contou sobre uma briga envolvendo Chico Buarque. "O Chico Buarque, que era muito amigo do Tarso de Castro, virou inimigo do Millôr por um tempo.  Uma vez, num bar no Leblon, ele perguntou: 'O que você tem contra mim?'. Millôr não respondeu. Chico deu uma cusparada nele. Millôr atirou tudo que tinha na mão na direção do Chico, mas não acertou nada. Contei essa história dizendo que o maior humorista brasileiro brigou com o maior compositor brasileiro. Me ligaram para perguntar se eu tinha brigado com o Martinho da Vila", relembrou, rindo.

Jaguar também desvendou outra das muitas polêmicas em torno da figura de Millôr: a história de que o cartunista não fora preso pela ditadura por ter "as costas quentes". "O Tarso de Castro [editor do 'Pasquim'] espalhava que o Millôr não foi preso porque tinha as costas quentes. Mas a verdade é que tudo no Brasil é esculhambado, inclusive a repressão política", afirmou, para risos da plateia.

"Uma vez, a polícia prendeu a turma do 'Pasquim' e o Ferreira Gullar. Quando iam pegar o Millor, o carro já estava cheio. Deixaram pra prender no dia seguinte. Ele soube e sumiu", relembrou, rindo.
Ainda sobre o período da ditadura, Jaguar contou sobre o período em que foi preso. "Em 69, todo mundo foi preso. Me escondi na casa do Flávio Cavalcanti, eu e a Leila Diniz. O Paulo Francis ligou: 'Eles falaram que só soltam a gente se você se entregar. A sua consciência responde', disse o Francis. Nem tive o gostinho de ser preso, resistir a prisão. Paguei um táxi pra ir pra prisão. Lá na Vila Militar. Foi uma nota preta".

"Quando cheguei na porta da Vila Militar, parei. Fui no bar. Tomei um porre. Depois me apresentei. Fiquei três meses preso. Dizem que estou fazendo piada, mas foi o melhor período da minha vida. Levei 'Guerra e Paz'. Onde você vai ler 'Guerra e Paz'?", brincou, afirmando também que não foi torturado.

"Foi um período maravilhoso. E com pinta de herói. Quando saímos, as moças ficaram maravilhadas. Ziraldo não gosta que eu conte essa história. Eu subornava os guardinhas e eles me traziam cachaça. O coronel, que chefiava, dizia: 'não sei o que vocês fizeram, mas vocês são ótimos'. Eu tapava a mão para falar com ele por causa do bafo de cachaça. Foi todo mundo solto. Eu saí direto pro baile de Réveillon. Me deram tanta cachaça que eu só acordei três dias depois", contou."



(Maurício Stycer, no Uol, texto intitulado "Na Flip, Jaguar conta sobre briga em que Chico Buarque cuspiu em Millôr").

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