Ilustração: Dario Castillejos.
O debate está esquentando
Por Marcelo Gleiser
Nas últimas semanas, o debate sobre o aquecimento global deu uma ultra-aquecida,
ao menos nos Estados Unidos.
Richard Muller, um cientista da Universidade
da Califórnia em Berkeley, conhecido por seu antagonismo ao aquecimento global,
não só virou a casaca como deduziu, a partir de uma reanálise de dados de sua
pesquisa e da de outros grupos, que os culpados somos nós.
Muller
argumenta que dados coletados de estações que monitoram mudanças de temperatura
pelo planeta o forçaram a concluir que "a temperatura média do planeta subiu
1,39º C nos últimos 250 anos e que 0,84º C de aumento aconteceu nos últimos 50
anos. Ademais, é muito provável que todo esse aumento tenha resultado da emissão
por humanos de gases-estufa".
Em editorial para o jornal "New York
Times", Muller explicou por quê. Para isso, o cientista tem que isolar todas as
causas que podem afetar o aumento de temperatura e analisar o impacto de cada
uma separadamente.
Os resultados estão em cinco artigos, publicados, em
inglês (...).
Muller
acredita que seus achados são ainda mais dramáticos do que os do Painel
Internacional de Mudança Climática (IPCC), pois este estudou o impacto humano
dos últimos 50 anos, enquanto que Muller e seu grupo estudaram a questão nos
últimos 250 anos.
Quando um membro de uma tribo se junta ao inimigo, seus
ex-companheiros atiram imediatamente flechas em sua direção.
Um dia após
o editorial de Muller, cientistas liderados pelo controverso Anthony Watts
contra-atacaram, argumentando que os dados das estações climáticas
norte-americanas tiveram seus valores duplicados. Logo, a internet explodiu em
uma guerra retórica completamente vazia de conteúdo científico.
Uma das
críticas mais populares aos resultados de Muller é que ele se baseia na
comparação entre o aumento da emissão de CO2 e da temperatura global e que isso
não é suficiente.
Com razão, Muller e seus colegas discordam disso, assim
como a maioria dos cientistas que estudam o clima seriamente. Quando se trata de
um problema complexo como prever o clima global nas próximas décadas, muitos
fatores entram em jogo. No máximo, pode-se fazer inferências estatísticas, o que
vai contra a expectativa inocente das pessoas de achar que a ciência tem que ter
respostas exatas.
Com o tempo, os modelos melhoram e as previsões vão se
tornando cada vez mais firmes, exatamente o que vem ocorrendo com a questão
climática.
Enquanto a retórica continua quente, vale lembrar que a Terra
é um sistema finito. E qualquer sistema, quando sujeito a uma força que insiste
em tirá-lo do equilíbrio, sofrerá mudanças que podem ser dramáticas. Por
exemplo, a água na sua panela, sujeita ao fogo, acaba por ferver. Mesmo que seja
(remotamente) possível que o aquecimento global não esteja sendo causado pelo
homem, por que não usar o que já aprendemos até aqui para mudar nossa relação
com o planeta -de parasítica a uma que seja mutuamente vantajosa?
A
Terra pode existir sem a gente. Mas nós, sem ela, estamos perdidos. (Fonte: aqui).
................
O tema suscita enfoques diversos e colidentes, e tudo indica que o quadro persistirá ad infinitum - ou até que...
Quem, por exemplo, não vê que é danosa a poluição ambiental produzida pelo homem? Mas quem pode garantir que a ação humana é a responsável direta pelas mudanças climáticas? E o inexorável ciclo planetário, como fica? E quem descarta a possibilidade de o ciclo planetário ser acelerado pela danosa ação humana?
sábado, 1 de setembro de 2012
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