Ruy Castro é autor do livro acima, sobre Garrincha. A obra foi embargada por familiares do craque imortal.
Relatório perdido
Por Ruy Castro
Em 1995, quando finalizava meu livro "Estrela Solitária", sobre Garrincha,
descobri que a Agap, órgão ligado ao MEC e dedicado a amparar ex-jogadores,
tentara ajudar Garrincha em seus últimos anos. Isso significava recolhê-lo
embriagado nas ruas e, com a ajuda da CBF e da LBA, interná-lo em instituições e
acompanhar seu tratamento e liberação. Morto Garrincha em 1982, a Agap produzira
um relatório descrevendo as internações -que não foram poucas. Saí à cata desse
relatório.
Logo vi que não seria fácil. A Agap se mudara da Urca para a
Cinelândia, e nem a boa vontade de seus dirigentes -Otavio, ex-Botafogo; Silva,
ex-Flamengo; Ademir Menezes, ex-Vasco- era suficiente. Com a mudança, os
arquivos estavam encaixotados e inacessíveis. Talvez houvesse uma cópia do
relatório na CBF, disseram. Se não, no MEC ou na LBA.
Debalde. O dr.
Giulite Coutinho, presidente da CBF em 1982, sabia dele, mas nunca o vira. No
MEC e na LBA, não tinham ideia. Àquela altura, sem poder esperar, decidi
limitar-me aos dados de que já dispunha. Terminei de escrever o livro e já ia
relê-lo para entregá-lo à editora quando algo me ocorreu.
Eu falara com
dezenas de ex-jogadores, mas ainda faltava um: Felix, ex-goleiro do Fluminense e
da seleção do tri. Ele fora dos que mais tentaram ajudar Garrincha. Soube que se
mudara para São Paulo. Consegui seu telefone e perguntei: "Felix, você se lembra
de um relatório assim, assim?". Ele respondeu: "Lembro. O original está
comigo".
Meia hora depois, mandou-me uma cópia via fax. O relatório era
de um detalhismo tremendo: continha datas, endereços, nomes dos médicos, dos
remédios etc. Reabri o livro, reescrevi todo o final, e "Estrela Solitária"
saiu. Felix morreu na semana passada, e gosto de lembrar que pude dizer-lhe
muitas vezes o quanto lhe era grato. (Fonte: aqui).
segunda-feira, 3 de setembro de 2012
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