domingo, 17 de abril de 2011

EMAD HAJJAJ, CORRENDO O RISCO



"Ser cartunista hoje é a profissão mais perigosa do Oriente Médio", diz autor jordaniano

Emad Hajjaj é hoje um dos principais cartunistas políticos do mundo árabe. Ao lado do irmão, Osama Hajjaj, o jordaniano vem dando voz à onda de protestos contra as ditaduras do mundo árabe por meio de suas tiras, publicadas em diversos jornais árabes e na internet.

Aos 44 anos, Emad já driblou várias situações adversas, como ameaças pelo conteúdo político das charges, mas se diz surpreso mesmo é com a onda de manifestações no mundo árabe. “Por muitos anos desenhamos charges dizendo para as pessoas lutarem pelos seus direitos. Há alguns anos, eu não estaria tão otimista quanto a isso”, disse.

Ao contrário do que aconteceu na Tunísia e no Egito, países onde as manifestações populares derrubaram regimes que estavam no poder a 23 e 30 anos, respectivamente, Emad acredita que na Jordânia, tal situação não deve se repetir.

O país é governado pelo rei Abdullah 2º, desde 1999. Ele assumiu o poder após a morte do pai, o rei Hussein, que governou desde 1953. Por lá, poucas manifestações contra o regime ocorreram este ano, quando comparadas a outros países como Líbia, Síria, Iêmen, Egito e Tunísia.

Para Emad, a grande diferença entre os países é, “como alguns analistas daqui dizem, o apoio dos militares, que no caso do Egito e da Tunísia foram leais aos manifestantes. O que é bem diferente da ideologia dos militares na Líbia ou na Síria”. No entanto, ele diz que a onda de protestos não passará em branco.

“No mundo árabe temos muitas coisas funcionando, mas também enfrentamos pobreza e desemprego. O povo quer uma coisa, o governo faz outra. Então, é um momento extraordinário esse que estamos vivendo. Nunca é tarde. O povo árabe está lutando por liberdade”, disse o cartunista sobre as manifestações. “Essa onda vai mudar tudo. Mesmo se não for imediato, temos muito tempo pela frente”, completou.

As mudanças às quais Emad se refere são as reformas que alguns governos propuseram à população após a queda de Mubarak (Egito) e Ben Ali (Tunísia).

“O que o rei do Marrocos fez, por exemplo, ao propor a reformulação da Constituição, foi algo positivo. É isso o que esperamos aqui, mas até agora não aconteceu”, diz.

No caso do país africano, o rei Mohamed anunciou uma reforma na Constituição do país, com planos para um judiciário independente, um papel mais forte para os partidos políticos e um programa de regionalização para dar mais poderes às autoridade locais.

No entanto, os últimos acontecimentos podem mudar o tom das manifestações na Jordânia. Na semana passada, um protesto pedindo reformas democráticas deixou um manifestante morto e centenas de feridos. O episódio pode começar a quebrar a estabilidade do país, que nos últimos três meses tem sido palco de protestos minoritários e pacíficos contra o governo.

Quebrando tabus

Emad chegou a cursar Física antes de entrar na faculdade de Artes, para se profissionalizar no que ele considerava ser “apenas um hobby”. “Comecei a desenhar cedo, com 4, 5 anos. Para mim era apenas um hobby. Mas quando mudei meu curso para Artes, me encontrei”, diz ele.

Em 2000, ele passou por um dos mais conturbados momentos de sua carreira: foi demitido por desenhar o rei Abdullah 2º em uma tira, algo até então inédito no país.

“Foi difícil conseguir a aprovação do jornal – que ele não revela o nome --, levei uma semana, pois eles tinham medo. A maioria gostou até porque eu não falei mal do rei Abdullah. No entanto, membros do governo, ministros, eles não acharam uma boa ideia transformar o rei da Jordânia em um personagem de charge temendo que outras pessoas fizessem o mesmo”, conta o cartunista.

Resultado: Emad foi demitido dois meses depois da publicação da tira. Para ele, a demora em mandá-lo embora serviu apenas para disfarçar o real motivo de sua demissão.

O irmão Osama, que prefere publicar suas tiras na internet, também quebrou outro tabu: foi o primeiro a ser preso por causa de uma charge na Jordânia, em um desenho que citava a Irmandade Muçulmana, grupo de oposição ao antigo regime de Mubarak, no Egito. Hoje, ele evita falar demais sobre assuntos relacionados à religião e política, mas tais temas continuam presentes em seu trabalho.

Hoje, com prêmios e livros publicados, as charges de Emad são reproduzidas em diversos jornais como o “Emirates Today”, “Al Ghad”, “Al Quds Al Arabi”, baseado em Londres, além de veículos de outros países árabes. Em ocasiões especiais, já esteve nas páginas dos jornais “The Washington Post” e “The New York Times”, e pela revista “Newsweek”.

Para ele, assim como os protestos no mundo árabe conseguiram um alcance maior com ajuda da internet, a rede também o ajudou a reproduzir seu trabalho fora do Oriente Médio. “Todas essas oportunidades eu devo à internet”, diz.

Já o sucesso das charges políticas sobre a crise no mundo árabe ele atribui à “linguagem universal” do humor.

“As charges são a forma de comunicação mais popular. Hoje temos um bom material para isso. É bom amenizar a situação com coisas engraçadas sobre essa situação. Elas são visuais, poderosas. Falam a linguagem universal da risada”, disse Emad. (Fonte: UOL).

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