sábado, 23 de junho de 2018

QUE VENHAM OS AMIGOS DE JOÃO GILBERTO

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O que dissemos no post "João Gilberto muito além da música" - aqui -: Hoje, as notícias sobre o genial João Gilberto são preocupantes. Saúde abalada, dívidas acumuladas, desprezado pela (ex-atual) mulher, inadimplente com uma gravadora (discos pelos quais recebeu pagamento antecipado não foram gravados), os dois filhos (entre os quais Bebel Gilberto) se empenhando em apoiá-lo, em meio a dificuldades de toda ordem. Fala-se até em interdição (vedação da prática de atos civis). 
O grande João Gilberto definha. O mito, ao contrário, a cada dia se fortalece.



Onde andam os amigos de João?

Por Carlos Motta

João Gilberto é provavelmente o cantor brasileiro mais conhecido no mundo. Sua voz e seu violão se tornaram uma marca registrada da bossa nova, esse subgênero do samba criado na Zona Sul do Rio de Janeiro que hoje é ouvido, cantado e tocado no planeta todo. Se o Brasil fosse uma nação de verdade, a bossa nova e todos os seus artistas seriam peças das mais importantes do "soft power" nacional na difícil guerra da geopolítica. Mas isso é uma outra história, melhor deixar para lá.

Cá, o que importa, e o que dói, é ver um artista da dimensão de João Gilberto virar notícia por causa da miséria em que se encontra, morando em imóvel cedido pelo conterrâneo Caetano Veloso, e com a saúde frágil sob o resguardo de um plano de saúde patrocinado pelo fã Chico Buarque.
Fora isso, o que se sabe sobre o genial baiano são fofocas, boatos, um tremendo diz-que-diz - e nada, absolutamente nada a respeito de alguma iniciativa para preservar ao menos a dignidade do outono de sua esplendorosa vida. 
Todos os que gostam de música, principalmente da riquíssima música brasileira, sabem que João Gilberto é coisa rara, pedra preciosa muito difícil de ser achada, e por isso de valor extraordinário.
Inúmeros colegas de profissão não só rasgam elogios, como confessam ter sido influenciado de alguma forma por ele, seja na forma de cantar, de tocar violão, de encarar a vida e a arte, de procurar a perfeição.
"O João é isso", "o João é aquilo", "o João bla-blá-blá", "o João..."
O fato é que hoje o João, o gênio recluso, o maníaco perfeccionista, está na pior, e quase ninguém aparece para ajuda-lo.
Nessas horas a gente se lembra se outro grande artista brasileiro, "são" Ismael Silva, e de seu "Antonico", que, dizem, foi feito para lembrar o essencial Cartola, que andava esquecido naquela época:
Ô Antonico
Vou lhe pedir um favor
Que só depende da sua boa vontade
É necessário uma viração pro Nestor
Que está vivendo em grande dificuldade
Ele está mesmo dançando na corda bamba
Ele é aquele que na escola de samba
Toca cuíca, toca surdo e tamborim
Faça por ele como se fosse por mim
Até muamba já fizeram pro rapaz
Porque no samba ninguém faz o que ele faz
Mas hei de vê-lo muito bem, se Deus quiser
E agradeço pelo que você fizer (meu senhor)
....
João, pobre João, que não tem um Ismael Silva para lembrar a todos como a batida de um violão e uma voz quase sussurrada mudaram a música popular brasileira...  -  (Aqui).

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