quarta-feira, 24 de agosto de 2016

A CAMPANHA CONTRA O MINISTRO BARROSO


O homem por trás dos ataques virtuais ao ministro Barroso

Do Jornal GGN

Desde o final de 2015, quando encabeçou uma discussão no Supremo Tribunal Federal que fez a maioria da Corte invalidar a comissão especial do impeachment da Câmara contra Dilma Rousseff, o ministro Luis Roberto Barroso virou alvo preferencial de uma série de textos publicados no site Vetorm.com.
O sítio já abordou a existência de uma offshore nos Estados Unidos em nome da esposa de Barroso, a renovação de um contrato entre a Eletronorte e o escritório de advocacia do pai do ministro, a relação de pessoas de sua família com empresas investigadas pela Operação Lava Jato, entre outros temas que, em tese, denotam falta de “ética e imparcialidade” por parte do magistrado.
Nas últimas semanas, contando com o apoio dos blogueiros de Veja, o portal praticamente passou a fazer campanha para que Barroso seja expulso do STF por ter “favorecido” Dilma ou, no mínimo, impedido de tomar qualquer decisão no âmbito da Operação Lava Jato. Em alguns textos, há pedidos diretos para que ele se declare “suspeito”. Todas as publicações são feitas sem a assinatura de um responsável pelas informações.
Com ajuda de um especialista em web, o GGN descobriu que o Vetorm.com – ou Vetor Mil Documento e Informação – está hospedado na cidade de Davis, na Califórnia (EUA). O registro foi feito em setembro de 2012, com apoio do servidor de DNS da Oi Soluções Empresas, em nome de Ari Cristiano Nogueira. 
(...)
Ari Cristiano Nogueira é ex-assessor parlamentar do deputado federal licenciado Valdir Luiz Rossoni (PSDB), atual secretário-chefe da Casa Civil do governo do Paraná. Segundo os dados levantados pela reportagem, Ari mora em Curitiba, capital federal da Lava Jato.
Ari virou destaque na Gazeta do Povo e outros jornais quando foi denunciado por procuradores estaduais por integrar uma lista de funcionários fantasmas que Rossoni cultivava na Assembleia Legislativa do Paraná desde a década de 1990. O prejuízo aos cofres públicos passou da casa dos R$ 700 mil. Em maio passado, o tucano teve R$ 2,3 milhões em bens bloqueados em função do processo.
Em agosto de 2013, ano das manifestações contra o reajuste das tarifas de transporte público coletivo, André Barrocal, repórter da CartaCapital, revelou que Ari Cristiano Nogueira usava o codinome Ary Kara para convocar grupos de direita para atos que ficaram conhecidos como “Operação Sete de Setembro”.
“Até junho de 2012, [Ari] era assessor do presidente do partido no Paraná [Rossoni], como contratado na Assembleia. Deixou o gabinete para trabalhar na campanha à reeleição do então prefeito de Curitiba, Luciano Ducci, que concluía o mandato herdado em 2010 do atual governador do Paraná, o tucano Beto Richa (PSDB).”
Contra Ari consta na Procuradoria Regional Eleitoral do Rio de Janeiro uma condenação por usar a ONG Brazil No Corrupt – Mãos Limpas, da qual é proprietário, para fazer propaganda irregular e atacar adversários dos deputados Jair Bolsonaro e Flávio Bolsonaro. Em 2011, essa mesma ONG foi usada para criar nas redes sociais uma campanha contra o PT no julgamento do mensalão. Um dos atuais alvos do site é o deputado federal Wadih Damous (PT), defensor de Dilma no impeachment junto à OEA (Organização dos Estados Americanos).
Em meados de 2016, Nogueira foi convocado para assumir o cargo de assistente administrativo da Junta Comercial do Paraná.
ANONIMATO
Em janeiro, quando publicou que a esposa do ministro Barroso é suposta dona de uma offshore nos Estados Unidos, o Vetorm.com foi enquadrado pelo jornalista Carlos Newton, do Tribuna da Internet, que criticou a falta de transparência. Newton vinha acompanhando e endossando as denúncias contra Barroso desde a decisão do STF que "beneficiou" Dilma no impeachment, mas achou muito baixo um ataque sem que a fonte de informação tivesse dono.
Em resposta, o Vetorm.com sustentou que não usa "anonimato" para atacar Barroso, “tanto que é uma empresa constituída no Brasil em parceria com outro ex-jornalista do UOL, Globo e Gazeta do Povo  da empresa Politika.” Dados do site apontam que esse jornalista seria Marcus V. R. Gomes, que também vive em Curitiba.
O site ainda se orgulha de, em meados de 2011, ter compartilhado "o inquérito da Monte Carlo na íntegra, porém por meio de um blog (vetormil.blogspot.com).”
“(...) Sobre o caso Barroso, não finalizamos a série de reportagens, não fizemos juízo da legalidade ou ilegalidade dos atos do ministro do STF. Nossa opinião não foi colocada”, sustentou o portal, em absoluta contrariedade com o que se lê nas postagens que citam o ministro do Supremo [veja levantamento abaixo]."
Ao final da nota, o Vetorm.com ainda apontou que estuda encaminhar “ao Ministério Publico, CNJ [Conselho Nacional de Justiça] ou a quem interessar” a documentação que tem juntado contra Barroso, “para que se investigue se existem ilegalidades nos atos do ministro.”
A ESCALADA CONTRA BARROSO
GGN levantou as principais investidas contra Barroso desde dezembro de 2015, quando o STF decidiu, a partir do julgamento da ADPF 378, que a comissão especial do impeachment eleita sob voto secreto, em sessão liderada por Eduardo Cunha (PMDB), era inválida, entre outros pontos. Foi um verdadeiro massacre:
22/12/2015 – Augusto Nunes, na Veja, chama Barroso de “vigarista”. Cita matéria do Portal Vox e um vídeo da sessão do STF sobre o rito do impeachment, afirmando que o ministro escondeu deliberadamente um trecho do regimento interno da Câmara que permite o voto secreto em eleições internas. Resultado da discussão no Supremo fez a Câmara criar uma nova comissão especial do impeachment. Juristas criticaram Barroso por intervir nas competências do Legislativo e levar os demais ministros a erro.
Na mesma semana, outro colaborador de Veja disse que tinha "nojo" de Barroso ... e perguntou ao ministro se ele "está pensando que o País é o seu grupinho em Ipanema, Copacabana ou Leblon". O mesmo defendeu o impeachment de Barroso no Senado. "Supremo não existe para fazer julgamento de mérito das coisas. Vai catar coquinho!", disparou.
(Para continuar, clique AQUI).
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Há pouco, o episódio Toffoli, agora a articulação pesada contra o ministro Barroso... Em face do que se afigura lícito indagar: Haveria mais "campanhas" em curso relativamente a outros magistrados? Independentemente de quaisquer respostas, o fato é que o País se converteu num ponto fora da curva (como diz o ministro), num ringue onde se trava a guerra do poder, onde se joga o jogo rasteiro. Não se deve falar em surrealismo, mas em perplexidade permanente.

P.s.: Dica de leitura:

LAVA JATO, CRIME PERFEITO - por Hydra


Nós já pisamos e repisamos aqui o que significa o estamento judiciário na América Latina desde a sua mais tenra fundação, de um modo ou de outro, em todos os países daqui debaixo da linha equatorial.
A bem da verdade, sistemas judiciários, em todos os países chamados capitalistas, servem a um propósito seminal: Manterem a ordem já estabelecida, filtrar direitos e conquistas que não ataquem o status quo em sua essência (modo de produção e formas cada vez mais complexas de acumulação - rentista).
Parece uma redução simplista, e de fato é, até porque não temos tempo nem espaço para ir muito além (nem capacidade, sejamos honestos).
No entanto, desde Honduras e Paraguai, ensaios de golpes parlamentar-judiciais bem sucedidos, os sistemas judiciais saltaram da posição passiva para um protagonismo jamais visto.
É verdade que o stf brasileiro não deu um pio em 64, ou manteve-se inerte quando Vargas mandava Olga para o forno...Talvez por isso o stf seja um guardião tão zeloso da lei de anistia, um alívio para sua "consciência pesada institucional"...
Não por coincidência essa sociedade autoritária adora leis como a ficha limpa, onde tiramos direitos irrepetíveis antes de condenação em definitivo.
Imagino que em cada país da AL as coias tenham, historicamente, se dado de forma parecida.
Mas desde 88, sabemos todos, os ovos da serpente foram chocados com força. 
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