sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

"O MUNDO É UM LUGAR HORRÍVEL"

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"...MAS PRECISAMOS ACREDITAR QUE NÃO É. ENTENDE?"
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A epifania trágica da garota da agulha e um adendo 


Por Eduardo Escorel (Revista Piauí)

Aos 91 minutos, decorridos três quartos de A garota da agulha, Dagmar Overbye (Trine Dyrholm) diz a Karoline (Vic Carmen Sonne): “O mundo é um lugar horrível. Mas precisamos acreditar que não é. Entende?” “Não”, responde com um sussurro a jovem operária desempregada, servindo nesse momento de ama de leite. Esse trecho do confronto entre as duas, em Copenhague, que dura apenas vinte segundos, é suficiente para fazer o espectador concordar que o mundo é mesmo um lugar horrível – a delicatéssen de Overbye serve de fachada, em 1919, para sua atividade clandestina de encaminhar crianças para adoção, quando, na verdade, elas são mortas, conforme a própria Karoline testemunha acontecer com um bebê cujo corpo, em seguida, é jogado na água corrente do fundo de um bueiro.

Além do assassinato de recém-nascidos, A garota da agulha inclui, entre outros horrores, discriminação de classe social, deformação física causada pela Grande Guerra, pobreza e desamparo extremos. Mesmo assim, dada a excelência incomum de sua feitura, o filme é refinado e fascinante.

Um dos principais méritos da direção de Magnus von Horn, assim como do roteiro que ele escreveu em parceria com Line Langebek, é justamente equilibrar atrocidades do passado que se mantêm atuais com uma encenação cinematográfica primorosa. Nascido na Suécia e radicado na Polônia, von Horn é graduado na famosa Escola Nacional de Cinema de Lódz, que é uma das principais locações de A garota da agulhaseu terceiro longa metragem, pontuado com cenas lúgubres e um final ameno.  -  (Para conferir o adendo e a manifestação de Escorel sobre um outro filme, clique Aqui).

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