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"... o rosto na capa" é "o de Sarah Forbes Bonetta, protagonista da história, uma princesa iorubá que foi sequestrada pela corte inglesa e tutelada pela rainha Vitória."
Esta foi uma obra literalmente julgada pela capa. Em julho de 2024, enquanto passeava pela feira do livro de São Paulo, vi este romance exposto em um dos diversos estandes. A arte do rosto que figurava na capa me surpreendeu pela expressividade e beleza. E o que poderia ser um arrependimento, por ter comprado um livro de procedência duvidosa, resultou num grande acerto.
O romance era A outra princesa, e o rosto na capa era o de Sarah Forbes Bonetta, protagonista da história, uma princesa iorubá que foi sequestrada pela corte inglesa e tutelada pela rainha Vitória. A obra, baseada numa história verdadeira, descreve a trajetória de Sarah desde a infância até a vida adulta, abarcando seu amadurecimento e os percalços que enfrentou: perda parental e de identidade, solidão, abandono forçado de seu território, violência física e psicológica, entre outros aspectos.
É uma obra comovente, e me emocionei diversas vezes ao lê-la. A americana Denny S. Bryce usa o gênero do romance para retratar o processo predatório que os impérios europeus promoveram durante séculos no continente africano, e as repercussões do imperialismo nas sociedades africanas daquele período. Tudo isso pelo olhar de uma mulher negra, que foi vítima da lógica colonialista europeia, que buscava conquistar mais domínio e riqueza em seu território. Sarah passa muito tempo enxergando a coroa inglesa como sua grande salvadora. Mas, ao longo da história, ela se transforma e percebe que o lugar que imaginava ser sua salvação era na verdade o grande causador de todo o sofrimento que a acompanhou durante boa parte da vida.
A conexão entre a ficção e a realidade são o par perfeito para a construção da obra, que em nenhum momento perde o senso crítico agudo ao apontar como eventos do passado até hoje submetem o povo africano a inúmeros conflitos. A história ainda entrega vários aspectos da cultura iorubá, para mostrar que, apesar de Sarah ter sofrido um processo de colonização, a sua essência iorubá-africana não se perdeu. Publicado em 2023, a obra só chegou em solo brasileiro em fevereiro de 2024. Lê-la mantém vivo na memória o protagonismo de pessoas negras ao longo da história. - (Fonte: Revista Piauí).
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