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O Que Vai Pela 'Metrópole':
Por Jamil Chade, na Folha de S. Paulo
A ofensiva de Donald Trump e Elon Musk para desmontar parte das agências federais dos EUA, cortar recursos ou obter acesso a informações confidenciais levou opositores, democratas e ativistas a denunciarem a tentativa da dupla de instaurar uma "ditadura", na palavra deles.
Até mesmo republicanos chegam a questionar se Musk, que faz parte do gabinete do presidente, tem poderes para tomar decisões sem consultar o Legislativo.
O senador republicano de Iowa Chuck Grassley admitiu que existe uma "questão constitucional": se Trump pode, de fato, simplesmente fechar agências federais. "Depende de como se define o poder do Executivo", disse.
Nesta semana, a equipe de Musk recebeu acesso ao sistema de pagamento federal do Departamento do Tesouro, o que poderia expor os dados pessoais de milhões de norte-americanos. A ação criou uma onda de ataques contra o bilionário nas redes sociais.
A deputada democrata Alexandria Ocasio-Cortez, por exemplo, alertou que a ofensiva de Musk era uma "grave ameaça à segurança nacional". "Este é um golpe plutocrático. Se você quer o poder, candidate-se a um cargo e seja escolhido pelo povo", disse.
Greg Casar, deputado democrata do Texas, acusou Trump de "conceder um poder sem precedentes sobre o governo federal a um bilionário não eleito e que não pode prestar contas".
"Os progressistas lutarão contra isso nos tribunais, no plenário da Câmara e com todas as ferramentas à nossa disposição até que Elon Musk esteja fora do nosso governo e não coloque mais em risco os contribuintes, os doentes e os idosos", afirmou.
A senadora Elizabeth Warren, democrata de Massachusetts e que já foi candidata às eleições para a presidência, decidiu enviar uma carta ao novo secretário do Tesouro de Trump, Scott Bessent, exigindo explicações. Para ela, o acesso "coloca o país em um risco maior de inadimplência de nossa dívida, o que poderia desencadear uma crise financeira global".
'EUA Vivem Teste Existencial de Sua Democracia', Diz Deputado Oposicionista
As críticas também foram dirigidas contra Trump por ter, a partir de um decreto, congelado todos os repasses federais autorizados pelo Congresso.
Para Jared Huffman, deputado democrata da Califórnia, o gesto "é simultaneamente um ataque à democracia e às famílias americanas que trabalham duro".
"Para beneficiar seus doadores bilionários e corporações ricas, Trump acaba de ordenar ilegalmente que seus comparsas roubem os dólares dos contribuintes dos quais as comunidades dependem para sustentar famílias, defender-se de incêndios florestais, pesquisar o câncer, pagar professores e socorristas, criar empregos e muito mais", disse.
"Querendo ou não, um teste existencial da democracia americana está sobre nós. O povo americano e muitos dos meus colegas podem estar distraídos, exaustos e sobrecarregados, mas enfrentamos uma escolha binária: confrontar essa tomada autoritária e defender o Estado de Direito ou deixar que Trump seja um ditador", alertou.
Seu apelo foi para que os republicanos que ainda acreditam na Constituição se juntem aos democratas.
"O presidente Trump disse ao povo americano que queria ser um ditador desde o primeiro dia. Agora no cargo, ele e seu governo estão dando continuidade a ações ilegais e inconstitucionais que ameaçam diretamente a segurança econômica, pessoal e nacional dos americanos", afirmou a deputada democrata Betty McCollum.
"Toda autoridade eleita tem o dever perante o povo americano de manter e defender a Constituição. A decisão unilateral do Presidente de reter o financiamento bipartidário para as prioridades dos Estados Unidos aprovadas pelo Congresso e assinadas em lei é um ataque às famílias americanas e ao Estado de Direito", insistiu.
Fechamento de agência federal
Se nos últimos dias a tensão já era elevada diante das operações de Musk para supostamente "aumentar a eficiência" da máquina pública, a crise ganhou um novo capítulo nesta segunda-feira quando - em face de atitude de funcionários - a Agência de Desenvolvimento Internacional dos EUA (Usaid) praticamente fechou suas portas.
A iniciativa levou congressistas que fazem oposição a Trump a sair às ruas. A deputada democrata Ilham Omar, que foi uma refugiada por quatro anos antes de receber asilo nos EUA, alertou para o que o fechamento da agência representava.
"Este é um dia muito, muito triste nos Estados Unidos. Estamos testemunhando uma crise constitucional", disse Omar. "Falamos sobre o fato de Trump querer ser um ditador desde o primeiro dia. E aqui estamos nós. É assim que se parece o início de uma ditadura quando você destrói a Constituição e se instala como o único poder. É assim que os ditadores são formados", disse.
A principal acusação dos democratas é de que Trump e Musk estão tentando tirar o poder constitucional do Congresso de decidir onde o dinheiro é alocado.
"Os bilionários privilegiados que não dão a mínima para os Estados Unidos e para os americanos não deveriam tomar decisões que colocam os americanos em perigo", disse ela. "E um bilionário que não foi examinado, não passou por confirmação, não foi eleito pelo povo americano e que ainda não entendemos o que está fazendo, não deveria dizer aos funcionários americanos que eles não podem acessar o prédio em que trabalham", disse.
O deputado democrata Jamie Raskin foi outro que passou a adotar um tom mais duro.
"Assim como Elon Musk não criou a Usaid, ele não tem o poder de destruí-la. E quem vai impedi-lo? Nós" disse Raskin. "Nós vamos impedi-lo. Elon Musk, você pode ter tomado ilegalmente o poder sobre os sistemas de pagamento financeiro do Departamento do Tesouro dos Estados Unidos, mas você não controla o dinheiro do povo americano. O Congresso dos Estados Unidos faz isso de acordo com o Artigo Um da Constituição", alertou.
Musk usou suas redes sociais para responder. "Os políticos corruptos que estão 'protestando' do lado de fora do prédio da Usaid são os que estão recebendo dinheiro da Usaid", escreveu Musk no X. "É por isso que eles estão lá - eles querem seu dinheiro roubado dos impostos", disse.
Nos últimos dias, a Casa Branca vem fazendo uma campanha para disseminar à opinião pública o que ela considera como desvios por parte da agência. O governo alega que US$ 1,5 milhão foi enviado à Usaid para "promover a diversidade, a equidade e a inclusão nos locais de trabalho e nas comunidades empresariais da Sérvia", enquanto outros US$ 2 milhões foram enviados à Guatemala para mudanças de sexo e "ativismo LGBT".
Enquanto a crise não é solucionada, pelo menos 50 funcionários foram demitidos e o secretário de Estado, Marco Rubio, assumiu o controle da agência que, oficialmente, é independente. - (Aqui).
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