terça-feira, 28 de janeiro de 2025

SOBRE O FILME 'ANORA'

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"Sean Baker confirma ser um dos mais interessantes realizadores estadunidenses do momento, com um currículo que já ostenta pérolas como Tangerine, Projeto Flórida e Red Rocket." 


Por Carlos Alberto Mattos

Pegue um pouco de Uma Linda Mulher e um bocado dos filmes de gangster de Scorsese. Agora mergulhe a mistura num molho de antigas screwball comedies e você terá Anora, a surpreendente Palma de Ouro de Cannes 2024. Surpreendente porque competia com filmes de peso como A Semente do Fruto Sagrado, Levados pelas Marés/Jia Zhang-ke, Grand Tour/Miguel Gomes, Emilia Pérez, Megalópolis e o badalado A Substância. Anora era apenas o grande divertissement do festival. Mas um divertissement e tanto.Por Carlos Alberto Mattos

Sean Baker confirma ser um dos mais interessantes realizadores estadunidenses do momento, com um currículo que já ostenta pérolas como Tangerine, Projeto Flórida e Red Rocket. O frescor de seu olhar para a fauna humana que vive nas bordas do tal “sonho americano” é uma dádiva. Anora vai desconstruir a história de Cinderela com o machado da tragicomédia.

O filme é estruturado em quatro atos bem marcados. No primeiro, conhecemos o cotidiano agitado de Anora (Mikey Madison) no clube de sexo onde trabalha no Brooklyn. Entre os muitos clientes atendidos com alegria e carinho profissionais, ela topa um dia com Ivan/Vanya (o ator russo Mark Eydelshteyn), filho playboy de um oligarca russo. Eles se enamoram e, estimulada pela riqueza ostensiva exibida pelo rapaz, aceita casar-se com ele num daqueles cartórios “qualquer nota” de Las Vegas.

O segundo ato é dedicado à vida hedonista do casal até que os pais dele recebem a notícia e acionam seus meganhas em Nova York para anularem o casamento vergonhoso. Dá-se início, então, a uma patuscada gangsterista, na qual Anora tentará de todas as formas preservar a união com o seu príncipe encantado.

Sean Baker salpica o filme com observações agudas sobre o comportamento de Ivan, um garoto mimado que trata Anora como se fosse um acessório do seu videogame. Ela, por sua vez, embarca nessa canoa com a inocência que ainda persiste por trás da desenvoltura na cama e na pole dance. A conclusão de seu sonho, numa cena final inesquecível, é um atestado da dificuldade de se mudar de condição social por transições de contos de fadas.

Não é difícil criar empatia com Anora, até porque Mikey Madison extravasa carisma. Aliás, todo o elenco está em ponto de bala na mise-en-scène extremamente dinâmica, sexy e tempestuosa. O júri de Cannes pode ter exagerado um pouco, mas Anora sabe semear humanidade na comédia maluca.  -  (Fonte: Carmattos - Aqui).

>> Anora está nos cinemas.

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