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"'Tremor' tem vestígios de Machado de Assis..." - (Crítica no jornal O Globo).
A edição brasileira de Tremor, do escritor americano-nigeriano Teju Cole, pela Companhia das Letras, já chama atenção pela capa. A ilustração, de Elisa von Randow, pega o leitor pelo brilho dourado discreto, mas também pela semelhança com a capa do álbum Unknown Pleasures, da banda de rock inglesa Joy Division. Aproximar-se e rememorar identificações para apresentar pontos e perspectivas novas: essa parece ser a estratégia não só da capa, mas do livro.
A história começa com uma crise de casamento entre Tunde, o protagonista, e Sadako, sua mulher. A impressão é de que a história se desenrolará a partir daí, com uma linha fixa rígida. Amor, encontros e desencontros são coisa grande, e Cole poderia se deixar tomar por esse fio narrativo.
Não é bem o que acontece. Como em Cidade Aberta, seu primeiro romance, a narrativa se torna mais densa, e pouco a pouco vozes de outros personagens entram na trama. É preciso confiar em Cole, e se deixar levar pelo fluxo. Assim, discussões sobre arte, e questionamentos bem-humorados (ou cínicos) sobre a sociedade caminham junto com histórias pessoais. Como a de uma senhora, que, com ajuda de um empréstimo, constrói uma escola para surdos. Em estado constante de prejuízo, ela depois converte o negócio em uma boate, de situação financeira sustentável, e se dá por satisfeita.
Tremor é um livro arriscado, em que os personagens colocam seus valores junto a dúvidas, assim como acontece na vida. O debate sobre reparações históricas anda junto com comentários sobre formas de lazer na Nigéria. Cole – que é historiador da arte e foi crítico de fotografia do New York Times – pensa a crítica de arte fora dos moldes tradicionais, o que é fascinante de se ler.
Um elogio comum a livros é que podem ser lidos “num fôlego só”. Mas no caso de Cole, a tendência se inverte: seus livros devem ser lidos com calma. Cole é profundo e fervilhante de tal modo que é preciso fazer pausas. Pausas rápidas para voltar ao livro com um entendimento encarnado do que o autor está tratando. O final de Tremor é surpreendente e desconcertante e deixa uma vontade de seguir viagem novamente. - (Fonte: Revista Piauí - Dicas).
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