O ator Pedro Cardoso participou de um debate ao vivo na CNN Brasil, na última sexta-feira (24). Na ocasião, ele fez diversas críticas à maneira como os apresentadores da emissora pautam os assuntos e detonou o senador Sergio Moro (União Brasil), que, segundo suas palavras, foi tratado pela CNN como se fosse uma pessoa digna. Vamos dedicar algumas palavras ao assunto, mas antes vejamos a avaliação feita no dia seguinte pelo próprio Cardoso sobre sua experiência:
"Bom dia. Ontem eu participei de um show de entretenimento noticioso na CNN-BR. Foi dos momentos mais nebulosos da minha atividade pública. Logo no começo do espetáculo, quando o tema era um interminável, insistente questionamento sobre os talentos de Dilma para assumir comando de um banco, eu me percebi confinado na linguagem dos meus anfitriões.
O show se organiza como um debate, mas é falso. Para pessoas debaterem é preciso que antes se debatam consigo mesmas. Quando o público se vê diante de uma conversa na qual ninguém é honestamente penetrável pela fala do outro, ele também fica imobilizado pois a imobilidade do pensamento é a INFORMAÇÃO dominante; e ele aceita a opinião que já for a que tinha.
No entretenimento de ontem, ninguém se ouvia, todos apenas falavam. Monólogos não produzem um diálogo. O que eu experienciei ontem foi estar numa peça publicitária que, oferecida com aparência de debate, promove, em verdade, a imobilidade do pensamento. E esse é o interesse de todos os autoritarismos. Eu me senti numa versão amena da Jovem Pan. Grande mentira muito bem fantasiada de excelso jornalismo. É grave.
Se o comércio de notícias fosse mais honesto no BR, o fascismo teria tido maior dificuldade de chegar ao poder. E mais: éramos todos brancos; o que evidencia o silenciamento sistemático dos brasis africanos; quer dizer dos tupis, caetés e tantos. Dirão eles que me ter lá confirma-lhes a democracia. Mas nunca. Não há democracia alguma em quem monologa.
Minha presença serve-lhes para atenuar a evidência de que, menos que jornalismo, o que fazem é propaganda ideológica monolítica dissimulada. Democratizar os meios de comunicação terá que ser um fato econômico.
Ressalvo a boa educação com que me trataram. Mas também ela pode ser oportunista. A JP também teve seus tempos de bem educada. A ameaça de golpe de estado pesa ainda sobre o Brasil. E eles são assassinos. Para defender a democracia é preciso promover um diálogo dialético honesto e sincero.
Ontem, na CNN, o que mais se queria era falar contra Luiz Inácio. De que serve um debate no qual ninguém muda de opinião? Serve apenas para que nada mude. Ontem foi TRISTE. Quando pobres forem DONOS de empresas de TV, ai sim a democracia terá uma chance." - (DCM - Aqui).
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.Relativamente ao tratamento que a emissora concede ao senhor Moro, consistente em classificá-lo como pessoa digna, cumpre dizer que a CNN segue a totalidade da chamada mídia corporativa. Afinal, nenhuma delas demonstrou, por exemplo, realizar jornalismo investigativo frente ao desbaratamento da quadrilha do PCC, conforme mais uma vez se constatou ontem, 26, no programa Fantástico (nenhuma alusão à 'entrada' do nome do senador em estranhas circunstâncias, já no apagar das luzes e a partir de pistas, digamos, infantis e sem a apresentação de prova concreta [filme, foto, registro...); o fato é que lograram arrumar um lugarzinho para o herói, lugarzinho que acabou por ser transformado em foco central.
.No mais, ainda quanto ao senador, resta desejar que tudo corra nos conformes na oitiva do advogado Rodrigo Tacla Duran, prevista para hoje, 27, por Eduardo Appio, novo juiz da Lava Jato, que para satisfação deste Blog vem dando mostras de que conhece bem as peculiaridades do processo. Que eventuais 'espertezas' venham a público, que a verdade prevaleça!
.No que respeita às palavras finais do ator - "Quando pobres forem DONOS de empresas de TV, ai sim a democracia terá uma chance" -, parecem-nos conter algo de surrealismo.
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