.
O documentário "Operação Camanducaia (...) deixa o alerta sobre um país que hoje volta a negar futuro para suas próximas gerações."
Quando criou o personagem Pixote no romance-reportagem Infância dos Mortos, José Louzeiro inspirava-se na sua cobertura do Caso Camanducaia, quando 93 crianças e adolescentes delinquentes foram retirados de uma instituição em São Paulo e levados de ônibus até a cidade mineira de Camanducaia, onde foram despidos, maltratados e atirados num barranco. Era parte da operação de "limpeza" da cidade de São Paulo na época em que a Secretaria de Segurança Pública do estado era comandada pelo extremista Coronel Erasmo Dias.
O assunto teve grande repercussão na ocasião, mas foi logo depois esquecido, como tantos episódios da ditadura que tinham ou não relação direta com a política. O documentário Operação Camanducaia, de Tiago Rezende de Toledo, sai atrás dessa memória. Em formato típico de documentário de busca, Tiago narra em primeira pessoa sua busca de testemunhas em Camanducaia. As lembranças são vagas, mas ele persevera. Conversa com o jornalista Paulo Markun, que também cobriu o episódio. Visita arquivos e ouve delegados envolvidos na operação oficialmente chamada de "Passa-Moleque", que de pouco se recordam e negam qualquer responsabilidade sobre os fatos ou sobre o posterior arquivamento do processo sem punições efetivas.
O esquecimento desse tipo de ocorrência costuma ser conveniente não só para as autoridades envolvidas, mas também para a sociedade, que quer se ver livre desse incômodo à época chamado de trombadinhas. Dos 93 meninos enfiados no fatídico ônibus fretado, só 41 deles apareceram na cidade, nus e famintos.
A narrativa do filme caminha no sentido de localizar alguns dos sobreviventes. Três são reencontrados e narram o que sofreram. A amostragem tem seu lado trágico: um deles não escapou de uma vida de crimes e estava na cadeia. Outro, num lar de desamparados. Um saldo triste, que levanta interrogações sobre o destino possivelmente comum a tantos daqueles garotos.
Operação Camanducaia perdeu a oportunidade de contextualizar melhor o drama dos pixotes no contexto do regime militar. Mas deixa o alerta sobre um país que hoje volta a negar futuro para suas próximas gerações. - (Fonte: Boletim Carta Maior - Aqui).
(O documentário passa no Canal Curta! nesta sexta, 4/12, às 22h30. Reprises 5/12 às 2:30, 6/12 às 15:00, 7/12 às 16:30 e 8/12 às 10:30).
Nenhum comentário:
Postar um comentário