Por Luis Nassif
A letalidade da coronavírus é uma incógnita. Os efeitos da paralisação atual da economia, uma realidade.
Uma queda no nível de atividade dos países centrais tem as seguintes consequências:
- Reflexos sobre a formação de estoques.
- A redução de estoques impacta as cotações de commodities e a rede global de fornecedores.
- A incerteza em relação à duração da crise paralisa novas compras, deprimindo ainda mais as cotações.
- A perspectiva de queda duradoura nas cotações afeta o risco nos países altamente dependentes de exportações de commodities, como é o caso do Brasil.
- No mercado, a redução das cotações de commodities impacta os compradores – os que compraram acreditando na alta e agora têm que pagar a diferença. Cria problemas sistêmicos de liquidez, obrigando os Bancos Centrais a intervirem com redução de taxas e amparo financeiro.
- A redução adicional das taxas de juros promove alguma recuperação nas cotações de commodities, mas não tem influência relevante na atividade global. Ou seja, a recuperação nas cotações não tem respaldo na economia real.
- Por outro lado, o medo de crise sistêmica faz com que muitos investidores aceitem adquirir títulos públicos, mesmo com taxas negativas, como garantia contra perdas totais ou parciais.
- No caso do Brasil, a redução das taxas desvaloriza moedas atreladas ao dólar, beneficia a balança comercial, mas, por outro lado, provoca fugas de investidores.
- Mas a expectativa de queda nas cotações de commodities, somada à desaceleração nas exportações de manufaturados, provoca um aumento no risco Brasil. Mesmo antes do coronavírus, já havia uma fuga de investimento externo nas bolsas.
- Esse aumento encarece a tomada de dinheiro no exterior por empresas brasileiras, anulando os efeitos da alta de juros.
Conclusão dos efeitos sobre o Brasil:
- Redução ainda maior nas exportações de manufaturados, com reflexos sobre PIB e emprego.
- Queda no valor das exportações de commodities, pressionando adicionalmente a balança comercial.
- Continuidade do déficit em transações correntes obrigando, com queima de reservas para segurar o dólar.
- Em algum momento qualquer do futuro, quando o nível das reservas preocupar, aumento da taxa Selic para segurar a fuga de dólares e impedir uma crise de balanço de pagamentos.
- O governo Bolsonaro terá que enfrentar desafio de gente grande – administrar fuga de dólares e o desaquecimento da economia – com uma equipe econômica cujo maior efeito foi inventar a versão de que existe um PIB privado desconectado do PIB público. (Nota deste Blog: "caiu o PIB público, mas melhorou o PIB privado", esse foi o "argumento" utilizado pelo governo diante do mal estar provocado pelo PIB de 1,1% em 2019...).
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