segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

UM POUCO DE HISTÓRIA: JK E A CRUZADA MORALISTA


Como JK conseguiu se proteger da cruzada moralista

Por André Araújo

Juscelino Kubtscheck foi a seu tempo um político extremamente hábil, popular e com um sólido projeto de País. Mas os moralistas de então, congregados na UDN carioca,  viam corrupção em tudo o que Jk fazia. Evidentemente JK não era santo, era um político que fazia política no modelo secular brasileiro.
JK sofreu cerrada campanha dos moralistas da UDN chefiados por Carlos Lacerda. A UDN era então o partido dos "honestos e limpos". No seguimento da História muitos dos "udenistas" construíram sólidas fortunas sem sair da política. Eram udenistas José Sarney, Aluísio Alves, Tenório Cavalcanti, Antonio Carlos Magalhães.  Já desde aquela época, passados mais de 60 anos, ficou na minha memória que o udenista-moralista era o hipócrita de Nelson Rodrigues, cara de beato e alma de pirata. Mas a classe média era, como hoje, fascinada pelos mitos.
O embrião do grupo Globo, na época o jornal e a rádio, já atuava na linha de frente do moralismo de vitrine, bandeira que está impregnada na ideologia do sistema até hoje.
JK conseguiu governar cinco anos de um grande governo porque fez uma aliança fundamental para os grandes políticos que construíram a nação desde o Império. A aliança com as forças armadas  JK teve no General Henrique Lott, seu guardião. Lott, antes da posse de JK, derrubou um Presidente que fazia parte do grupo udenista-moralista (apesar de ser do PSD) e que indicava que iria impedir a posse de JK (Nota deste blog: Nereu Ramos, que só governou por dois meses). Seguiu na aliança com o Exército por todo o seu Governo. Sem essa proteção JK teria sido derrubado pela UDN e seus aliados sob a bandeira da cruzada contra a corrupção, da qual viam JK como chefe nacional, especialmente por causa da construção de Brasília.
Ironicamente, o grupo social mais beneficiado pelas 30 metas do Governo Juscelino foi a classe média, que o combatia inebriada pela pregação anti-corrupção da UDN. A indústria automobilística e seu arco de fornecedores, a indústria petroquímica e a expansão industrial generalizada criaram bons empregos para toda a classe média, além da grande massa de trabalho oferecida aos operários que vinham do Nordeste.
Em momentos de grave crise política, a aliança com o Exercito é fundamental, faz parte de nossa História. Getúlio só governou 15 anos porque tinha o apoio do Exército, que já não tinha no governo democrático de 1950. Jose Sarney governou todo seu mandato sob a proteção do Exército na pessoa do Ministro Leônidas Pires Gonçalves, seu fiador militar.
FHC tinha aliança óbvia com as Forças Armadas, embora a escondesse. Seu DNA é militar, teve dois tios Ministros da Guerra, o pai General e o avô Marechal do Império.
O Governo Lula não tinha aliança com o Exército que, ao contrário, tudo fez para afastá-lo do poder com as (Nota deste blog: Ou em face das) Comissões da Verdade, tomadas como pura agressão pelas Forças Armadas.
No vácuo da ausência do manto protetor dos militares, avançam as corporações sem voto para dominar o Executivo e o Legislativo, hoje ambos carentes de guarda pretoriana.
Em todas as crises políticas, desde o Segundo Império, as Forças Armadas foram consultadas e ajudaram na solução ou, numa plataforma mais alta, se tornaram a solução das crises.
Na Primeira República os militares estavam no centro da política. No governo provisório de 1930 deram posse a Getúlio, garantiram seu governo e sem o apoio militar não existiria o Estado Novo, do qual foram fiadores. Em 1945, depuseram Getúlio e o seu líder máximo, o Marechal Eurico Dutra, foi o Presidente eleito em 1946. Na crise seguinte, de 1964, as Forças Armadas se tornaram a solução sem intermediários, inaugurando um longo período de 21 anos.
Sem esse ator histórico, as crises políticas atuais não têm arbitragem do poder armado, afastado do centro das decisões. Na sua ausência atua um outro sub-poder armado em outra dimensão, a Polícia, hoje atrelada ao partido das corporações jurídicas, que tem a capacidade de prender qualquer chefe dos poderes eleitos. Coragem e audácia não faltam.
E se isso acontecer, quem defenderá o Estado Democrático?
Em algum ponto da crise, se esta evoluir para um beco sem saída, será preciso chamar as Forças Armadas para o centro das discussões. Não será a primeira vez. O Exército, desde a Batalha de Guararapes, é uma das colunas que fundaram a Nação. As novas gerações não têm essa memória, mas o tempo não apaga a História. (Fonte: aqui).

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Enquanto isso, como se a resposta não fosse óbvia, muitos se perguntam sobre o porquê de Temer tratar os militares de modo singular, a exemplo do que se vê na questão da reforma da previdência...

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