terça-feira, 27 de dezembro de 2016

TEMPO DE SINCROMISTICISMO E DE MONITORAMENTO DO MUNDO


Estranho objeto cai na China e lembra filme "Show de Truman"

Por Wilson Ferreira

Os leitores do Cinegnose certamente devem lembrar dessa sequência do filme Show de Truman (1998): no mundo estranhamente previsível e conformista da pequena cidade de Seaheaven, Truman sai de casa para mais um dia de trabalho, com o habitual sorriso estereotipado dos vídeos publicitários que diariamente assistimos na TV.

De repente algo inesperado quebra aquela enfadonha rotina: algo cai vindo do profundo céu azul e se espatifa no chão quase atingindo o herói interpretado por Jim Carrey. Truman pega o objeto e percebemos ser um spot de luz desses de estúdio. Sobre ele há uma etiqueta no qual lê-se: “Sirius (9 canis major)”.

 Um acidente importante porque a partir desse acontecimento inesperado numa vida tão previsível, crescerá em Truman a desconfiança de que há algo de errado no mundo - assista abaixo a sequência. (Clique em 'fonte', abaixo).

Pois em um remoto vilarejo da China a realidade parece que imitou a ficção no último dia 12 de dezembro. Segundo o britânico Express News, um misterioso objeto caiu do céu causando um enorme estrondo em um vilarejo de Zhangjiapan, na província de Shaanxi.

Moradores correram ao local e encontraram uma pequena cratera em chamas de um metro e meio de diâmetro, além de pedaços de metal espalhados no perímetro em torno. Um dos pedaços atingiu o teto de uma casa.

Assustados, muitos acharam ser uma invasão extraterrestre. Principalmente porque depois do estrondo um OVNI teria sido avistado sobre a montanha do vilarejo.

O estranho anel de metal


Segundo o jornal chinês HSW.cn, nenhum material foi encontrado no interior da cratera, mas a polícia recolheu itens ao redor que certamente teriam relação com o incidente. Um desses objetos era um anel de metal de grandes proporções, no qual podem ser vistas letras e números gravados na superfície – veja fotos abaixo.

A hipótese inicial é que o objeto seja um fragmento de lixo espacial. Ao jornal chinês, a polícia disse que o material foi enviado para análises.

A hipótese do lixo espacial é bem provável, principalmente que no dia 16 de novembro desse ano, um grande objeto cilíndrico caiu em Myanmar, no Estado de Kachin. Nas fotos fica evidente que o objeto é parte de um foguete de estágios.

Porém, no site da rede social chinesa (a QQ.com) muitos usuários especulam a ideia de pedaços de uma nave extraterrestre ter caído em Zhangjiapan: “O anel parece a porta de uma cabine de um UFO”, afirmou um internauta.


Lixo espacial? Nave extraterrestre? OVNI? O Cinegnose prefere interpretar esse insólito evento pelo ponto de vista do Sincromisticismo.

Evento sincromístico


O estranho evento no remoto vilarejo chinês lembra incrivelmente a sequência de Show de Truman descrita acima: um objeto cai do céu e nele há uma inscrição enigmática – no caso do filme, a nominação da estrela Sirius cenográfica da constelação Cão Maior do céu fake do reality Truman Show.

Foi o momento do insight, da concepção da desconfiança de que a realidade percebida foi construída para ele. Truman é feliz porque vive na ignorância de que a realidade é um encadeamento de relações previsíveis de causa e efeito. Até que o objeto com a misteriosa inscrição quebra a cadeia de causalidades.

Há uma relação entre a falsa realidade para a qual Truman foi despertado e a queda do objeto na China? Entre o spot de estúdio que simulava uma estrela no firmamento falso de Seaheaven e o pedaço de lixo espacial?

Assim como o firmamento fabricado de Seaheaven, o nosso firmamento terrestre está repleto de satélites das mais variadas funções (telecomunicações, espionagem, telemetria, rastreamento etc.), além de muito lixo espacial que acabam se confundindo com estrelas cadentes – basta uma olhada mais detida com um telescópio em uma noite para perceber o intenso “tráfego” de satélites e space junk.

Desde 1957, oficialmente foram enviados para a órbita terrestre 2.783 satélites. Levando em conta que a vida útil de um satélite é de 10 anos para logo depois ser substituído por outro esse número pula para 5.000.


O céu nos observa


Também oficialmente, quem controla a ocupação da órbita terrestre é a Organização das Nações Unidas (ONU) através dos seus técnicos que autorizam novos lançamentos e regulam o ponto em que cada objeto deve ser posicionado.

Mas na prática os técnicos muitas vezes não têm acesso a informações precisas devido aos interesses militares, governamentais e empresarias – principalmente espionagem e rastreamento.

O céu monitora a vida de Truman nos seus mínimos detalhes – para quem se lembra, a Lua é o principal ponto de observação do diretor do reality chamado Christof.

E se estivermos vivendo uma situação cada vez mais próxima da vida do protagonista Truman? Satélites de espionagem como os da categoria KH (abreviatura para “key hole” – “buraco de fechadura”) são verdadeiros telescópios espaciais, qual Hubble: apenas que ao invés de estarem virados para o espaço, estão apontados para a Terra. São gigantescas câmeras digitais de 15 toneladas com enormes lentes.

As imagens são usadas secretamente por comunidades civis e militares para finalidades que fogem ao controle da opinião pública e da própria ONU.

Com a chegada das tecnologias digitais, as antigas imagens em preto e branco dos satélites construídos pela Lockheed Martin (empresa de produtos aeroespaciais localizada em Maryland, EUA) nos anos 1960 e 1970 (sob contratos secretos com CIA e Força Aérea norte-americana) foram substituídas por imagens em 3D para monitorar atividades na Terra, criar modelos de terrenos das ações militares, perseguição de criminosos, terroristas e... controle de insurreições civis. Produção de vídeos em tempo real é a função rotineira desses satélites, ignorando a soberania nacional ou direitos civis.


Ou seja, o monitoramento das nossas ações não é apenas através das redes digitais. Também é ótico, por gigantescos telescópios apontados para a superfície do planeta.

Em 2013 foi lançado mais um satélite desta categoria, o NROL-39 da NRO (Escritório de Reconhecimento Nacional dos EUA), agência responsável pelo fornecimento das informações obtidas por satélites espiões e de reconhecimento para as demais agências de segurança norte-americanas como a famigerada NSA.

O logotipo da ogiva do foguete que levou o satélite para o espaço era bem arrogantemente direto: “Nothing is Beyond Our Reach” – “Nada Está Fora do Nosso Alcance”, com um gigantesco polvo com tentáculos envolvendo o planeta.

Talvez devamos começar a nos portar como o personagem Truman Burbank diante de objetos que repentinamente que caem do céu: desconfiar que vivemos em uma realidade construída e nada é por acaso.

Mais uma vez compreendemos os simbolismos sincromísticos de filmes como Show de Truman ou de séries como a atual Westworld (sobre a série clique aqui): mundos gnósticos de protagonistas prisioneiros e vigiados por secretos dispositivos tecnológicos camuflados em ambientes especialmente criados para gerar a ilusão de cotidiano previsível e banal.

Tanto o reality show de Truman como o parque temático dos androides de Westworld são microcosmos da própria condição humana dos espectadores que assistem a esses filmes.

Certamente a realidade é mais assustadora do que apenas supostos OVNIs caindo em um recanto qualquer no interior da China. (Fonte: AQUI).

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(COMENTÁRIO: O/a Express News, em vista dos destaques mostrados pelo Google, pareceu-nos publicação dada a sensacionalismos. Com tanto lixo espacial circulando no espaço, seria mais do que natural a queda havida no interior da China. Quem sabe, até se tratasse de fragmentos de artefato chinês resultante de experiência fracassada. De qualquer modo, resulta interessante a 'deixa' aproveitada por Wilson Ferreira no sentido de discorrer sobre o monitoramento mundial a partir do espaço, ofício executado por potências mundiais, EUA à frente).

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