terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

KRUGMAN E A CRISE

Cartum: Tosho Borkovich.

Onde estão os sucessos da austeridade?

Por Paul Krugman


Uma coisa terrível aconteceu com a política econômica nos Estados Unidos e na Europa, três anos atrás.
Apesar de o pior da crise financeira já ter passado, as economias de ambos os lados do Atlântico continuavam em depressão profunda, com desemprego muito alto. Mas, por alguma razão, a elite política do mundo ocidental decidiu em massa que o desemprego já não era mais uma preocupação crucial e que a prioridade absoluta deveria ser a redução dos déficits orçamentários.

Em minhas colunas recentes, venho argumentando que os temores em relação ao déficit são muitíssimo exagerados --e venho documentando os esforços cada vez mais desesperados dos críticos do déficit para manter vivo o medo.

Hoje, porém, quero falar de um tipo diferente, mas relacionado, de corrida desesperada: o grande esforço para identificar algum exemplo, em algum lugar, de políticas de austeridade que deram certo. Pois os defensores da austeridades fiscal --os "austerianos"-- fizeram não apenas ameaças, mas também promessas: afirmaram que a austeridade evitaria a crise e resultaria em prosperidade. Na realidade, eles estão procurando a dor benéfica há anos.

A busca começou com um namoro apaixonado dos austerianos com a República da Irlanda, que recorreu a cortes severos nos gastos públicos pouco depois de sua bolha imobiliária estourar e que, durante algum tempo, foi tida como exemplo máximo de virtude econômica.

Jean-Claude Trichet, do Banco Central Europeu, disse que a Irlanda era um exemplo a ser seguido por todos os países europeus endividados. Conservadores americanos foram além. Por exemplo, Alan Reynolds, membro sênior do Instituto Cato, declarou que as políticas adotadas na Irlanda apontavam o caminho que deveria ser seguido também pelos Estados Unidos.

O discurso de louvor de Trichet foi feito em março de 2010; o índice de desemprego da Irlanda estava em 13,3% na época. Desde então, cada avanço pequeno na economia irlandesa vem sendo saudado como prova de que o país está se recuperando --mas no mês passado o desemprego estava em 14,6%, apenas um pouco abaixo do pico que alcançou no início do ano passado.

Depois da Irlanda veio o Reino Unido, onde em meados de 2010, ao som de hosanas de muitos especialistas, o governo conservador apostou na austeridade, influenciado em parte pelo fato de acreditar que as políticas adotadas na Irlanda tinham tido sucesso retumbante.

Diferentemente da Irlanda, o Reino Unido não tinha nenhuma necessidade especial de adotar a austeridade: como todos os outros países avançados que emitem dívida em sua própria moeda, o país podia e ainda pode contrair empréstimos a juros historicamente baixos. Mesmo assim, o governo do primeiro-ministro David Cameron insistiu que um arrocho fiscal forte era necessário para apaziguar os credores e que esse arrocho acabaria fortalecendo a economia, ao inspirar confiança.

O que aconteceu na realidade foi que a economia parou, como um motor afogado. Antes da opção pela austeridade, o Reino Unido estava se recuperando mais ou menos par a par com os Estados Unidos. Desde então a economia dos EUA continuou a crescer, embora mais lentamente do que gostaríamos, mas a economia britânica tem estado paralisada.

Neste ponto, poderíamos imaginar que os proponentes da austeridade considerassem a possibilidade de haver algo de errado em sua análises e suas prescrições. Mas não o fizeram. Eles continuaram a procurar novos heróis e os encontraram nos pequenos países bálticos, em especial a Letônia, um país que assumiu proporções surpreendentes na imaginação austeriana.

Em um nível, isso é engraçado: políticas de austeridade já foram aplicadas em toda a Europa, mas o melhor exemplo de sucesso que os austerianos puderam encontrar é o de um país com menos habitantes que o bairro do Brooklyn, em Nova York. Mesmo assim, o FMI recentemente divulgou dois novos relatórios sobre a economia lituana, e esses documentos realmente ajudam a colocar a história em perspectiva.

Para sermos justos com os lituanos, eles têm algo de que se orgulhar, sim. Depois de passarem por uma recessão comparável à Grande Depressão, sua economia vem tendo dois anos de crescimento sólido e desemprego em queda. Apesar do crescimento, porém, a Lituânia até agora reconquistou apenas uma parte do terreno perdido em termos de produção e de emprego, e o desemprego ainda está em 14%. Se essa é a ideia que os austerianos têm de um milagre econômico, eles realmente são filhos de um deus menor.

Ah, e se vamos evocar a experiência de países pequenos como evidência de quais políticas econômicas funcionam, não esqueçamos o verdadeiro milagre econômico que é a Islândia --um país que esteve no ponto zero da crise financeira, mas que, por ter aderido a políticas heterodoxas, já se recuperou quase por completo.

Então o que aprendemos com a busca um pouco patética por histórias de sucesso com a austeridade?
Ficamos sabendo que a doutrina que domina o discurso econômico da elite há três anos está errada em todas as frentes. Não apenas temos sido regidos pelo medo de ameaças inexistentes como temos ouvido promessas de recompensas que não chegaram e nunca chegarão. É hora de colocar a obsessão com o déficit de lado e voltar a lidar com o problema real: o desemprego inaceitavelmente alto. (Fonte: aqui).

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Em resumo: tudo na mesma, quero dizer, no fundo do poço. De novidade, tão somente a notícia de que o governo dos EUA está ingressando na Justiça contra a agência de risco Standard & Poor's, pelo fato de ela haver avaliado fraudulentamente (superavaliando, escondendo os rombos e riscos) os fundos imobiliários, especialmente em 2007, véspera do desastre financeiro mundial. Como se sabe, a bolha imobiliária foi, digamos, o foco do rombo, estimulado pela ausência de regulamentação e pela obsessão generalizada de auferir ganhos fosse como fosse (derivativos).
Ao optar pela contramão da austeridade, o Brasil agiu da forma correta, diria Krugman. É isso.

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