sábado, 19 de maio de 2012

MELHOR SER FELIZ COM O QUE SE ESCOLHE


O acaso direciona nossas vidas, diz físico

Pode-se dizer que o físico americano Leonard Mlodinow é um homem de sorte. Seus pais, judeus europeus, sobreviveram ao Holocausto e emigraram para os EUA, onde se casaram. Anos mais tarde, ele estava bem embaixo das Torres Gêmeas no momento dos atentados do 11 de Setembro, escapando com ferimentos leves. Mas, onde alguns veriam a mão de Deus, o físico vê o poder da probabilidade e como os eventos mais fortuitos podem ter grandes consequências na vida de cada um. Essa visão o levou a escrever o best-seller "O andar do bêbado - Como o acaso determina nossas vidas" (Editora Zahar) e, mais recentemente, "O grande projeto" (Editora Nova Fronteira), parceria com Stephen Hawking em que defendem a ideia de que criação do Universo prescinde de Deus. (...) Em setembro de 2011, ele concedeu entrevista ao jornal  O Globo:

No livro "O andar do bêbado", o sr. diz que o acaso faz parte da vida, mas, muitas vezes, não o percebemos corretamente. Em que áreas ele está mais presente e como lidar com ele?
LEONARD MLODINOW: O acaso está presente em todos os aspectos das nossas vidas. Por exemplo, na nossa vida pessoal. Algumas vezes não conheceríamos uma pessoa se não fosse por algum pequeno evento aleatório, como estar atrasado ou adiantado para pegar um trem. Ou podemos tomar um café, pegar o carro dois minutos mais tarde que o usual e algum motorista bêbado ultrapassar um sinal vermelho e bater em nós. Isso também acontece nos negócios e na vida profissional. No livro conto a história de Bill Gates, em que alguém da IBM o procurou por estarem precisando de um sistema operacional para seus computadores pessoais. Gates não tinha um pronto, mas conhecia alguém que tinha e teve a oportunidade de comprar o sistema dessa pessoa e licenciá-lo para a IBM. Então, se a IBM tivesse procurado outra pessoa, Bill Gates não seria o Bill Gates que conhecemos. Mesmo com todo talento e habilidade, ele ainda poderia ser apenas um executivo qualquer.

Mas mesmo diante do fato de que Bill Gates teve a sorte de ser procurado, ele conhecia alguém que tinha o produto procurado. Neste caso, parafraseando Louis Pasteur, a sorte não favoreceu quem estava preparado?
Certamente. Não estou dizendo que tudo depende do acaso, mas que as pessoas ignoram o fato de que o acaso tem um papel importante em suas vidas. Se você não estiver preparado, não tiver talento ou habilidade, ou não trabalhar duro, quando a oportunidade vier você não vai poder tirar vantagem dela. A mensagem do livro é que o importante é como você reage a essas situações aleatórias. Não que a vida seja feita só de acasos. Ela é uma combinação de vários acasos e suas reações a eles. Mas as pessoas veem a história de Bill Gates como a de alguém extraordinário que deu o primeiro passo, depois o segundo e assim por diante, como se estivesse seguindo um plano prévio para ser quem é e construir o que construiu. Mas essa não é a maneira que as coisas acontecem. É muito raro que as coisas aconteçam exatamente como se planeja. Mesmo na ciência muitas descobertas são feitas por acaso por pessoas que estavam pesquisando uma coisa e acabam se deparando com outra. O que acontece é que elas foram espertas o bastante para perceberem o que estava se passando.

Pode-se dizer, no entanto, que o sr. é um homem de sorte, que há muitos acasos favoráveis na sua vida. Logo no início de o "O andar do bêbado", o sr. destaca que se não fosse por Hitler não teria nascido. Seus pais sobreviveram ao Holocausto e o sr. mesmo sobreviveu ao 11 de Setembro. Como responde aos que dizem que isso foi algum tipo de ação de Deus?
Ora, se Deus salvou meus pais, Ele também matou toda a família deles? Ele decidiu que os cinco irmãos e irmãs do meu pai deveriam morrer, seus filhos deveriam morrer, meus avós e toda família deveriam morrer só para meu pai e minha mãe viverem? Estou lançando um livro com Deepak Chopra em que debatemos um com outro. Chopra gosta de acreditar em um Deus benevolente e diz que o amor é uma constante que permeia o Universo. Mas e quanto ao outro lado? É muito fácil dizer: "você não acredita que Deus o salvou?" . Mas e todas as outras pessoas que morreram? Que Deus malvado é esse?

O sr. se definiria como ateu?
Diria que sou agnóstico, mas não vejo muita diferença entre um ateu e um agnóstico. Não tenho certeza porque não há prova de que Deus não existe, assim como não sei se tudo isso é apenas um sonho de meu cérebro flutuando no espaço. Um ateu diria que não há nenhum Deus. Já eu digo que não há provas de que Deus não existe, assim como não há provas de que Ele existe. Outro dia tive uma descoberta sobre minhas próprias crenças. Em uma entrevista, perguntaram-me se eu acreditava que havia vida inteligente em algum outro lugar no Universo. É engraçado porque eu creio nisso, embora não haja nenhuma razão científica para tal. Assim, eu entendo por que as pessoas têm fé em Deus porque eu sinto essa mesma fé, mas pelo menos reconheço que não tenho bases para acreditar nisso.

Dez anos depois do 11 de Setembro, como o sr. se lembra daquele dia?
Lembro muito bem... Como se pode esquecer algo assim? Eu estava do lado de fora, embaixo do World Trade Center. É uma longa história e não quero falar muito sobre isso. Eu estava lá e vi o avião passando sobre nossas cabeças e atingindo o WTC, todo o fogo e destroços caindo em cima de nós. Naquela hora ninguém sabia o que estava acontecendo.

O sr. também tem muita aleatoriedade na sua vida, tendo começado como estudante de química, depois se voltando para a física, escrevendo roteiros para Hollywood (de Jornada nas Estrelas e MacGyver), virando editor e autor de livros de ciência e, por fim, voltando à academia. O sr. segue o andar do bêbado?
Todos têm algum grau de aleatoriedade em suas vidas, mas realmente eu a sigo mais do que a maioria. Quando sinto que tenho que fazer algo ou quando uma oportunidade surge, não sou conservador. Sigo minha intuição e minhas vontades. Recusei um emprego seguro em uma universidade para vender meus roteiros e consegui o que milhares tentam e não conseguem. O melhor é tentar ser feliz com o que se escolhe. Nunca se sabe com certeza o que vai acontecer, então é sempre bom estar preparado para tudo. (Fonte: aqui).

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E se o que me conduziu a preparar-me para aproveitar as oportunidades 'estava escrito'? E se o fato de alguém não haver aproveitado "aquela oportunidade imperdível" foi exatamente o que o poupou de dar com os burros n'água? Como indagaria Nelson Rodrigues: e o sr. Imponderável de Almeida? Martinho da Vila titubearia: não sei se vou, não sei se fico, se fico aqui, se fico lá, se estou lá, tenho de vir, se estou aqui tenho de voltar.

"O melhor é tentar ser feliz com o que se escolhe"...

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