quinta-feira, 17 de maio de 2012
LIVRE MERCADO, O INABALÁVEL
O santo tombo do JPMorgan
Elio Gaspari
Até o mês passado, Jamie Dimon, do JPMorgan, era considerado o "rei de Wall Street". Esteve no páreo para o cargo de secretário do Tesouro dos EUA e é um dos queridinhos do companheiro Obama.
Talvez ele entre para a história da banca, mas por outra porta, a do desabamento da teoria segundo a qual o mercado financeiro deve ser deixado em paz, livre da má influência dos governos e dos políticos.
Dimon é o líder do combate à proposta de Paul Volcker, segundo a qual os bancos não devem arriscar os fundos de seus depositantes, garantidos pelo governo, em apostas especulativas. Quem vendeu ações da Apple em 1985 fez um mau negócio. Quem as comprou, ficou rico, mas a empresa produz coisas que podem ser embrulhadas. Outra coisa é apostar em operações incompreensíveis até mesmo para Dimon. Foi isso que o JPMorgan fez, tomando um tombo de US$ 2 bilhões.
Quando morreu, em 1913, John Pierpont Morgan deixou uma fortuna que, calculada em dinheiro de hoje, valeria US$ 2 bilhões. Em apenas seis semanas, Jamie Dimon e Ina Drew, a chefe do serviço de investimentos, perderam um Morgan.
Até aí, jogo jogado, porque o banco aguentou o prejuízo. Ela perdeu o emprego, mas Dimon continua no seu. Em 2011, a doutora levou para casa US$ 15,5 milhões em salários e benefícios. Segundo a revista "Fortune", era a 8ª mulher mais bem paga do mundo. (Dimon recebeu US$ 23 milhões, ervanário equivalente ao patrimônio que Lord Keynes acumulou ao longo da vida lendo jornais e jogando na Bolsa.)
A Europa está convulsionada, 11 governos caíram, há outros na fila e os Estados Unidos se esforçam para sair da Grande Recessão, mas a banca acha que sabe tudo. Emprestaram dinheiro a governos que não teriam como pagar e pedem "austeridade" aos seus povos.
Há 30 anos, quando essa charanga tocou no Terceiro Mundo, foi possível dobrar os governos (inclusive o brasileiro), mas hoje o truque revela-se insuficiente acima do Equador.
Felizmente a crise de hoje tem no economista Paul Krugman, com seus artigos na imprensa, uma voz de alerta, crítica e frequente. Ele não é apenas mais um colunista, é um Prêmio Nobel de Economia.
Há anos Krugman defende a intervenção dos governos, a alta dos juros americanos e a proposta de Paul Volcker como o melhor caminho para equilibrar o mercado financeiro. Ele nunca acreditou nas mágicas do plano Merkozy (agora sem o sufixo).
Se depois da Primeira Guerra Mundial houvesse um Krugman informando que os barões da finança mundial não eram do tamanho que se pensava, talvez o desastre da Depressão pudesse ter sido evitado. Montagu Norman, o presidente do Banco da Inglaterra, era pancada. Julgava-se capaz de atravessar paredes. O presidente do Fed, Benjamin Strong, tinha saúde precária e vivia períodos na morfina. Hjalmar Schacht, do Reichsbank, tornou-se nazista por oportunismo, e sua mulher, por fé. Ela tinha uma suástica de rubis e brilhantes.
Ina Drew prestou um serviço ao debate. Ela usava em operações especulativas o dinheiro de correntistas de bancos que tinham saldos garantidos pelo governo. O que Paul Volcker quer é separar o destino dos depósitos. Quem quiser que seu dinheiro entre nessa ciranda às vezes lucrativa, tudo bem. Quem não quiser estará protegido.
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Elio Gaspari, sonsamente, dá uma de esquecido: omite que Krugman é fã entusiasta de Keynes, que pregava a intervenção direta do Estado na economia (lição seguida por Roosevelt). Krugman é contrário à esbórnia do chamado Livre Mercado, originária da desregulamentação patrocinada pelo governo Reagan, bancada por seus sucessores e responsável pelo desastre mundial em curso. Os iluminados pregadores do neoliberalismo continuam a ministrar aulas mesmo depois de ter sido desmoralizados pela realidade.
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